Passaram-se 20 anos desde que São José da Tapera foi considerada pela ONU como a cidade mais pobre do Brasil. E, apesar de estar a aproximadamente 20 km do Rio São Francisco, sofrer com a seca e possuir uma taxa de mortalidade infantil quase igual à de Angola, parece não fazer mais parte do quadro do município. Entretanto, esta mesma população, igual a boa parte de muitas cidades do interior do Nordeste, ainda vivem à mercê dos carros pipas para abastecerem seus reservatórios. Ora cheios pelas águas da chuva, ora pelos carros pipas do programa do governo federal, ou muitas vezes, quando são doados por políticos ou comprados com o dinheiro do bolsa família.
Vivendo de doações de amigos e renda do bolsa família ( a única renda da família), dona Eliete Maria dos Santos, 32 anos, do sítio Piedade, é uma das 200 famílias taperenses da zona rural que mora em uma casa de taipa. Ela conta que, como se não bastasse a precariedade em conviver com o medo de contrair a doença de chagas, a sua casa está coberta com lona para evitar que, em tempos de chuva, água escorra pelos buracos da parede para dentro de casa.
Na casa de dois cômodos não ha banheiro e energia elétrica. Para poder ter um certo "conforto", amigos improvisaram um bico de luz diretamente do poste (que também não existe iluminação). Mesmo assumindo o risco de ocorrer um curto circuito em sua moradia, a energia feita de uma gambiarra foi a maneira mais viável para que, seu esposo, que sofreu um acidente de moto, pudesse receber os vizinhos quando o visitava.
“Como o meu marido sofreu um acidente de moto, o povo quando vinha aqui olhar pra ele, o candeeiro não dava conta. Ai os vizinhos subiram pra cima do poste e puxaram o bico de luz com esse fio branco,” disse dona Maria. Como se não bastassem as dificuldades corriqueiras, Maria conta que, para ter assistência médica ao seu esposo, com uma perna engessada, tem que pagar 10 reais para se locomover até a “Rua” (nome dado por moradores da zona rural ao se referirem ao centro da cidade).
Segundo a agricultora, seus documentos foram entregues a um vereador, que representa o sindicato Rural do Município, na promessa de que ela seria contemplada com uma casa no programa Minha Casa Minha vida, mas até o momento, a sua família não recebeu nenhuma resposta.
“Todos os anos aparece pessoas aqui me prometendo minha casa. Há quatro meses o prefeito Jarbas Ricardo esteve aqui com o vereador Thiago do Sindicato, olhou tudo, pegou meu documento para fazer o cadastro da minha casa e nada. Tenho fé em Deus que um dia terei minha casinha de tijolos e saio desta vida,” comemora dona Maria olhando para o telhado, em sinal de esperança e agradecimento a Deus.
O vereador Thiago Santos não foi localizado por nossa reportagem em suas residências da zona urbana e rural, até o fechamento da matéria.
Projeto de casas populares
Em 2013, um levantamento feito pela prefeitura constatou que 200 famílias vivem na zona rural do município morando em casas de taipa. Esses dados não foram atualizados, mas pode ter caido devido a muitos moradores terem abandonados suas casas e foram para o sudeste do país em busca de uma moradia. Várias casas entre Piedade e Capim Grosso estão fechadas. Os vizinhos informaram que todos eles foram embora porque estavam passando necessidades.
De acordo com o secretário de Assistente Social de São José da Tapera, Amair Ribeiro, uma das maiores dificuldades do município para a doação de casas para as famílias que hoje moram de maneiras precárias, são as exigências da Caixa Econômica Federal em liberar os recursos. Para isso, a prefeitura fica com a responsabilidade de arcar com toda a infraestrutura de calçamento, saneamento básico, e instalação da rede de água e energia.
“O que o município pode ele vem fazendo, inclusive, o prefeito Jarbas tinha até doado um terreno no Loteamento Barreto Muniz para a construção das casas, mas o projeto não vingou porque não tinha um caixa para essa despesa extra,” informou, explicando que a prefeitura realizou várias doações de materiais para rebocar casas e recuperar telhados quebrados. Ele informou ainda que algumas casas foram doadas nas comunidades de Bananeiras, Antas, Olho D’ Água do Padre, Cachoeirinha e Espirito Santos.
O município está em parceria com o projeto Filhos de David, de Pão de Açúcar, com o objetivo de dar continuidade ao projeto Minha Casa Minha Vida. Eles organizam toda a parte burocrática e realizam obras em várias cidades do sertão alagoano.