Desde que o presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha (PMDB) foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) ao Supremo Tribunal Federal (STF) o parlamentar vem sofrendo as consequências políticas do ato. As pressões sobre Cunha se aumentarão consideravelmente e ainda mais caso o STF acate a denúncia e ele se torne réu. Leia a denúncia na íntegra aqui!
Um dos desdobramentos é a discussão se Cunha fica ou não na presidência. Primeiro, Cunha só sai do cargo se renunciar ou se for cassado. Segundo, claro que as discussões políticas se dão de forma açodada e, sobretudo ao sabor do desejo que Cunha logo caia da cadeira.
Vários desafetos do presidente da Câmara já foram aos holofotes para construir uma agenda que culmine em sua queda. É o xadrez político em Brasília.
Ora, se Eduardo Cunha deve, que pague. Isto é indiscutível. É preciso passar o país a limpo e quem for ladrão – independente do partido – que vá para a cadeia e não aos ternos caros e aos cargos públicos.
Todavia, que a máxima – para usar um dito popular – “pau que dá em Chico dá em Francisco também” seja respeitada, pois se as bases elementares para apresentar as denúncias contra Cunha são justamente às delações premiadas, vale lembrar que o presidente do Senado Federal, Renan Filho (PMDB), está na mesma lista.
E assim que ambos – dentre outros tantos que foram citados em delações, com o próprio ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) e a presidente Dilma Rousseff (PT) – tenham o “direito” de comprovarem se são inocentes são culpados por meio de suas defesas.
As investigações contra Dilma foram descartadas logo de cara, mesmo diante de delações que as cita. Isto sem contar com as informações que constam contra a senadora Gleise Hoffman (PT). São acusações graves também, ou não? Quais os critérios do procurador Rodrigo Janot?
O Ministério Público Federal (MPF) tem que afastar de si a suspeita de agir politicamente como aponta o próprio presidente da Câmara, Eduardo Cunha ao se defender. Recebi a íntegra da denúncia contra Eduardo Cunha por meio do amigo articulista Yuri Brandão. Dediquei-me a leitura dela. Espero que outros leitores também o façam e assim possam tirar suas conclusões para além das superfícies.
Os fatos não podem ficar ao sabor de leituras impostas pelo olhar político-ideológico-partidário. Jamais.
Ao ler a íntegra, salta aos olhos uma pergunta óbvia: se o que sustenta a denúncia contra Eduardo Cunha – que deve sim ser feita, ao meu ver – são os mesmos elementos que apontam para a culpabilidade de Calheiros e outros, porque só Cunha agora aparece como o “grande vilão da nação” atendendo aos interesses governistas?
Ora, quem era Eduardo Cunha antes de se tornar presidente da Câmara de Deputados? Um parlamentar a mais em meio aos outros 512. Ele até pode ter sido um dos beneficiários do esquema do Petrolão. A Justiça que o diga. Queremos sim que ele seja investigado e se culpado que seja punido. Mas seria Cunha – na mera condição de um parlamentar, pois não era presidente da Câmara – o grande “vilão” de um governo cujos indícios mostra que está afundado em lama porque rouba e se deixa roubar?
O grande vilão de um governo que aparelhou estatais ao longo de mais de uma década e devemos seguir acreditando que Lula e Dilma nada sabiam, pois os grandes violões estão em outro lugar? É até uma falta de lógica sobre a real dimensão de Cunha neste tabuleiro de escândalos. Não duvido de que o peemedebista possa também ter envolvimento porque não enxergo heróis em Brasília assim como não vejo virgens em casa de luz vermelha.
Porém, mantenho preservada a lógica em minha cabeça para não perder a sanidade no meio da “overdose de informação” que joga alguns na fogueira ao sabor dos acontecimentos.
É preciso que se use desta lógica em alguns momentos para a devida leitura dos fatos. Faltou ao procurador – no mínimo, como diz o articulista Yuri Brandão – “dois pesos e duas medidas”. Ora, basta ouvir o depoimento de Paulo Roberto Costa.
Sobre a íntegra da denúncia apresentada, se apóia em dois eixos: doações feitas pela empresa do delator à assembléia de Deus em que o pastor é parente de Eduardo Cunha, além da acusação do empresário. O jurista Adriano Soares – em um texto curto – questiona o fato de não haver substância suficiente nestes para a denúncia.
Bem, eu não tenho competência jurídica para avaliar se estes elementos seriam o suficiente ou não para apresentar a denúncia. Eu apenas cobro que se estes são os critérios utilizados para denunciar um – seja Cunha ou o senador Fernando Collor de Mello (PTB) - que seja usado para denunciado todos os outros, ora bolas. No mínimo, o mesmo peso, a mesma medida.
De forma isolada, parece projétil teleguiado e é mais do que é justo se indagar os fatos diante das circunstâncias. Afinal, Eduardo Cunha está longe de ser o “Darth Vader” deste Império, como faz crer grande parte da mídia, sobretudo quando o Império contra-ataca. Claro, isto não significa que ele seja inocente.
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