Na manhã de hoje, dia 20, recebi – por meio de um leitor – uma das “circulações internas” do Hospital Geral do Estado de Alagoas (HGE). Pelo que se observa no documento, é um procedimento de rotina e de registro de plantões.

Pois bem, a circular que eu recebi é do plantão noturno do dia 19 (ontem) e chama atenção o desespero dos profissionais da “Enfermagem Área Verde” diante da ausência de insumos. Eis um plantão, que pelo que se observa no documento, faltou de tudo. Desde água destilada a soro.

O documento é endereçado à Gerência de Enfermagem e à Gerência Farmacêutica. “Comunicamos que no plantão noturno do dia 19/8/2015, fomos informados pela farmacêutica Flávia que não há na instituição os seguintes insumos: água destilada (10 ml, 5 ml ou 2 ml) para a diluição de medicamentos, seringas de 20 ml e 10 ml, usada para o mesmo fim, bem como administração de dieta de sondas gástricas”, é o que se lê em um dos trechos.

Ainda ressalta que foi disponibilizada apenas uma caixa de água destilada com 10 frascos para toda uma área com mais ou menos 30 enfermarias. Como se não bastasse, ainda conforme o documento, os lacres dos frascos sem a devida proteção o que pode acarretar em contaminação.

Ora, o documento isolado por si só preocupa. Imaginem se for rotina. E ainda se informa que não houve disponibilização de soro fisiológico e alguns medicamentos que são citados. A circulação finaliza dizendo que da forma como se encontra é “inviável a administração de medicamentos”.

Ainda na manhã de hoje, conversei com a secretária de Saúde, Rosângela Wyszomirska, sobre o assunto. Mostrei a ela o documento. Ela confirmou que se trata de fato de uma circular do Hospital Geral do Estado e relatou os problemas que a pasta vem tendo para conseguir regularizar a situação dos insumos.

De acordo com a titular da pasta, é reflexo ainda de práticas adotadas no governo passado. “Antes, na Saúde, não se tinha o conhecimento da demanda. Se comprava pelo ‘eu acho’. As compras eram feitas empiricamente. Até hoje eu ainda não consigo ter o domínio da demanda dos itens da Secretaria de Estado e – por isto – em alguns momentos tivemos que comprar com dispensa de licitação. Houve até aquela crise, inicial, com fornecedores também reflexo de como a coisa era feita”.

Rosângela Wyszomirska coloca que a demanda de insumos do HGE só poderá ser regularizada em 2016. “Estas comunicações internas são frequentes. É um procedimento interno. Em relação aos antibióticos, eu posso falar com muita confiança e segurança. Os antibióticos estão praticamente todos regularizados. Com algumas faltas, porque há alguns que são muito difíceis de serem comprados. Há alguns raríssimos de serem utilizados. Quando ele é necessário – para casos muito graves – é difícil conseguir em tempo curto”, explica a secretária.

“Soro fisiológico, soro glicosado, são coisas que já foram regularizadas. Alguns outros insumos também já foram. Em alguns, há dificuldades. Nós fizemos um processo emergencial para medicamentos e correlatos e estamos com dificuldades que as empresas entreguem. Inclusive, já entramos com notificação judicial para as empresas entregar. As desculpas são as de que os preços não valem mais a pena. Seringa é uma delas. O que acontece é que estamos comprando de pouquinho enquanto a gente consegue resolver essa pendenga da entrega do emergencial”, coloca.

De acordo com a titular da pasta, o almoxarifado é atualizado toda semana. “E ainda tem muita empresa que não fez a entrega. A opção que eu tenho – fora a forma legal de fazer compras na gestão pública – é pedir emprestado de uma unidade para outra, o que só consegue de pequenas quantidades. É o que ele fala aí em relação aos 10 frascos de água. Ou então comprar fracionado por dispensa de licitação, onde eu tenho um limite de até R$ 8 mil, e aí é claro que eu também só compro de pequena em pequena quantidade. Então, a gente busca suprir neste momento, mas pela forma como está sendo feito pode ocasionalmente haver uma falta”.

Rosângela Wyszomirska ainda coloca que – nos meses de junho e julho – houve alto atípico. De acordo com ela, o HGE atendeu um número de pessoas bem acima da média registrada. No mês de junho foram 20 mil pessoas. Em julho, 17 mil. A média é de 11 mil atendimentos. “Eu estou numa situação de abastecimento instável em época em que foi duplicado o atendimento. A dificuldade se tornou maior ainda. A previsão para a regularidade do sistema de abastecimento é 2016”.

A titular da pasta colocou que os profissionais da Saúde possuem razão em suas reclamações quanto a esta questão e que o trabalho é pela regularização. Conversei com Wyszomirska sobre outros assuntos. Publicarei em breve uma longa entrevista com a titular da pasta. Por enquanto, foquei na questão pontual apresentada pelo leitor. 

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