Renan Filho diz que presidiria o país se “revolução do ensino” fosse imediata

17/08/2015 13:42 - Geral
Por Davi Soares
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Diante da pressão do movimento sindical que recorreu e mantém uma greve considerada ilegal para a Justiça, o governador Renan Filho (PMDB) explicou sua visão sobre o contexto da crise que impediria o Estado de avançar para contemplar a proposta do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) que quer 13,1% de aumento. Durante conversa com o Blog, o chefe do Executivo de Alagoas também comentou a provocação via outdoors espalhados pelo Sinteal com a cobrança pela prometida “revolução da educação”, sobre a qual justificou que seu governo tem promovido uma “ampla mudança de gestão interna”, que prepara Alagoas para a tal mudança revolucionária.

Segundo Renan Filho, o vice-governador e titular da Educação, Luciano Barbosa (PMDB), tem trabalhado para que os recursos possam ser destinados diretamente às escolas, feito licitações feitas para reformar escolas com recursos do Fundeb que “sequer chegavam na escola”. Quando explicava o ritmo das ações revolucionárias de seu governo, Renan Filho sugeriu que ela já iniciou. E comparou que a promessa de revolucionar a educação em Alagoas se dará no ritmo das grandes revoluções que transformaram o mundo. E aproveitou para alfinetar a adesão à greve.

“A Revolução Francesa foi feita da noite para o dia? E a Revolução Industrial? Não existe revolução da noite para o dia. Revolução é mudança de postura. É fazer chegar na escola o recurso. É mostrar ao professor que há um caminho. Nós estamos trabalhando nessa direção. O que se propõe para revolucionar Alagoas? A gente tem um plano, está trabalhando nas escolas em tempo integral, está cobrando mais a presença dos professores nas salas de aula. Estamos enfrentando uma greve que só tem menos de 15% de mobilização em um ano de crise”, disse o governador.

Para dar exemplo de que ainda é cedo para ser cobrado pela promessa no oitavo mês de governo, o governador peemedebista também lembrou de casos mais próximos à realidade alagoana, a exemplo da revolução da educação promovida no município de Sobral, no Ceará, e daquela executada nos dois mandatos do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, que  levaram dois governos para ocorrer.

“Demorou, mas mudou. Melhorou as escolas, o nível de material didático, valorizou professores, premiou alunos com bom desempenho. É muita coisa a ser feita. Infelizmente, revolução não dá para fazer nos primeiros seis meses. Não dá para transformar Alagoas em Pernambuco em um semestre. Não é assim. Se fosse assim, eu seria o próximo candidato a presidente. Depois dessa crise com a Dilma, o PMDB ia dizer assim: ‘Vamos pegar aquele rapaz que revolucionou a educação de Alagoas, pegou ruim e colocou no melhor patamar do País’ Mas não é assim”, brincou Renan Filho.

O governador alagoano também elogiou as melhorias Lula por meio de ações como o Reuni, o Prouni, e no ensino técnico e universitário. Mas ponderou, lembrando que faltou avançar na educação de base. Em seguida, considerou que os recursos do Fundeb 40 nunca chegavam na forma de investimentos nas escolas de Alagoas, que não teria aplicado recursos próprios em seus projetos. E falou sobre os projetos que pretende executar, como a construção de 15 escolas; começar o próximo ano com 14 escolas em tempo integral; quadras esportivas, adaptação de escolas e a nova sede da Secretaria de Educação, no Cepa.

 “Se você pegar o investimento na educação com recursos próprios nos últimos dez anos, ele é muito pertinho de zero. Dependia do governo federal para construir uma escola. No meio de tudo isso tem a valorização profissional, que estamos conseguindo fazer um aumento acima da inflação, para a educação, diante de todas as dificuldades. Aumento trabalhado pelo secretário Luciano. Administração tem fases, do ajuste, de arrumar a casa. Ele já fez muita coisa”, disse Renan Filho, se referindo ao trabalho de seu vice e secretário.

Greve com 15% de adesão e folha 9% maior

O governador expôs as dificuldades financeiras, lembrando que sua gestão começou com uma série de aumentos contratados. “Quando soma-se todos os aumentos do Estado, a folha está aumentando 9% este ano”, revelou.

Renan Filho alegou ainda que o Estado vai respeitar a decisão da Justiça sobre a greve da educação e disse ter feito uma proposta aos professores acima da inflação, dando 13% ao piso, sob o risco de ampliar o déficit de R$ 1 bilhão que o AL Previdência terá em 2015.

“Mas não podemos dar 13% a todos os outros patamares, ao teto. O Estado não tem como garantir esse aumento, sob o risco de não conseguir pagar. Isso tem uma forte repercussão no AL Previdência. Em um Estado pobre como Alagoas, R$ 1 bilhão é uma cifra astronômica”, pontuou.

O governador também argumenta que concedeu aos professores o maior aumento salarial do ano, de 7%. E comparou o feito com a reposição promovida pela Prefeitura de Maceió, de 6,4%, também dando como exemplo os casos de São Paulo, em que a greve de quatro meses resultou em reajuste zero, do Paraná ter dado deu 3% após confusões e arbitrariedade da polícia e do maior aumento do Nordeste que teria sido no Ceará, com apenas o aumento da inflação.

“É uma proposta justa e uma proposta verdadeira, dialogada. Eu tenho conversado com todos os segmentos e está chegando em um ponto em que a maior parte dos professores não está em greve. Cerca de 85% a 90% das escolas estão funcionando. De forma que, quanto mais se protela essa questão, o professor que está na sala de aula não recebe o aumento. Então, isso é muito ruim para todos. Eu acho que precisamos formar a convicção para caminhar para frente. E a gente ofereceu 7% para o professor. É muita coisa para o atual momento. Não estou dizendo que o professor não merece ganhar mais. Claro que merece. Todo servidor deveria ganhar melhor. Mas, o momento não permite que aumentemos mais sob pena de podermos sofrer com alguma imprevisibilidade. E aí?”, concluiu Renan Filho.

 

Sinteal provoca e enxerga discurso contraditório

Questionada sobre as falas do governador, a presidente do Sinteal, Consuelo Correia, lembrou que o governo recorreu à Justiça com o argumento de que a greve não estaria garantindo o funcionamento de 30% dos serviços nas escolas. E disse não entender como seria preciso ingressar na Justiça, se não houvesse adesão à greve.

“A adesão está sendo boa. O problema é que algumas escolas estão abertas por conta dos serviços dos monitores contratados. A gente compreende em parte o lado desses companheiros, que têm este como o único contrato temporário com o governo, mesmo passando três meses sem receber. Tem monitor se virando, limpando a escola, dando aula em até mais de duas turmas de uma vez, para continuar trabalhando, na ausência dos demais servidores de apoio e professores. Como é que manter escola funcionando de faz de conta vai revolucionar a educação? Dizer que não há adesão à greve é falácia”, reagiu Consuelo.

A presidente do Sinteal disse ter consciência de que Renan Filho não tem “uma varinha de condão para realizar tudo de uma só vez”. Mas pontou que os recursos para valorização da educação devem ser aplicados de uma forma justa e possível. Além disso, questionou a forma como o governo inicia seu mandato, logo em janeiro, retirando o transporte dos alunos, sem planejamento. Além disso, relatou problemas como escolas sucateadas; existência de escolas sem profissionais para preparar a merenda, contratação de número de monitores para necessidades especiais muito abaixo da demanda, na nova seleção, etc.

“A gente sabe das dificuldades financeiras, mas não me fale em revolução, quando se está minimizando e aprofundando as dificuldades em um estado que tem os piores indicadores do Brasil. Muitas coisas, em vez de melhorar, foram agravadas. Ele condenou a política do Téo, que não investiu em melhorias para a educação, mas agora faz pior do que ele. Mesmo com o 13,01%, sobra R$ 66 milhões para ratear. E ainda se faz proposta de 7% parcelados. Paciência. A gente está tendo uma involução, não uma revolução. Está muito difícil a situação das escolas”, condenou Consuelo.

“Haverá avanços”

Sobre o trabalho de Luciano Barbosa, o governador Renan Filho assegurou que os alagoanos podem ter certeza de que a gestão da educação vai colher muito mais avanços nos próximos meses. E ressaltou que, para mudar, foi preciso mudar a postura, o posicionamento, ao afirmar que essa mudança enfrentou corporativismo, lobbys históricos.

“O Luciano enfrentou tudo isso com decência, com altivez, seriedade. Cortamos muitos contratos que sabíamos para onde iam os recursos, e não iam para as escolas. Isso tudo não é fácil de fazer. Algumas coisas não foram 100% corretas, como não é ninguém. Mas, a decisão, o ânimo, a mudança, a formação da equipe, que é preparada para discutir os problemas de Alagoas em qualquer esfera. E começa pelo secretário”, considerou o chefe do Executivo.

O Sinteal se reúne na tarde desta segunda-feira (17) para discutir a situação das escolas em greve e marcou para a próxima quinta-feira (20) uma assembleia geral para avaliar os rumos da greve. 

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