Os dois peemedebistas com poder de pautar a agenda nacional em meio à tempestade perfeita que paira no céu de Brasília (DF) – o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) – estão em rota de colisão.
O problema é que o país vivencia um sistema Legislativo bicameral – Câmara e Senado – e com isto, ao se colocar o Senado como o salvador da pátria, ou “facilitadores ao invés de sabotadores”, Renan Calheiros pode não apenas construir uma rota de colisão em direção a Eduardo Cunha, mas em direção à própria Câmara de Deputados.
Renan Calheiros ocupa – mais uma vez – o vácuo deixado pela presidente. O hábil enxadrista político, mesmo já tendo sido um governista de primeira grandeza das hostes palacianas, agora tenta construir uma postura de isenção e evitar o tom adesista.
Para construir esta suposta isenção em relação ao projeto político do governo, Calheiros já fez questão de dar algumas “estocadas” na presidente Dilma Rousseff e agora apresenta uma agenda positiva que cai no colo do governo e já foi até elogiada por Dilma.
O governo federal quer Renan Calheiros na posição de “mediador”, como já colocou o senador petista Jorge Viana. O senador peemedebista virou um pêndulo. O governo federal aposta na capacidade de Renan Calheiros de negociar e de se refazer em função dos “infernos astrais” que já passou e ainda passa, como por exemplo, as denúncias que envolvem seu nome na Operação Lava jato.
E a rota de colisão chegou. Em relação às novas posturas de Renan Calheiros, o presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha – posto como o incendiário deste cenário onde não há anjos, muito menos heróis ou salvadores da pátria – reagiu. É difícil saber quem não está com as mãos sujas de petróleo em Brasília. Cunha também é um dos investigados.
Todavia, não vai aceitar que o Senado busque o protagonismo político que tenta colocar a Câmara como uma vilã. Cunha disse que não adianta ter boas propostas quando o país vive um ambiente ruim. Um recado para Renan Calheiros e – ao mesmo tempo – um reforço de que a posição do presidente da Câmara de Deputados é a de opositor.
“Não me considero incendiário e nem acho que ninguém tenha que ser bombeiro. Tem coisas que são atribuições de uma Casa, coisas de outras e coisas que são das duas. Não encaro como agressão. Acho absolutamente normal ter propostas, ideias, podemos concordar ou não. Agora, não adianta só aprovar lá. Ou há um mínimo de entendimento porque vivemos em um sistema bicameral ou então estão jogando para a plateia. Vão vir com uma série de medidas que todos sabem que jamais vão ser praticadas. É preciso que se coloque um pouco de responsabilidade no processo e saiba que o sistema é bicameral”, cobrou Cunha.
Outra resposta de Cunha se deu quanto às posições de Calheiros em relação ao impeachment e ao julgamento das contas públicas. O presidente do Senado ao afirmar que estas não são prioridades deu a entender que a Câmara julgaria as contas por uma posição pessoal de Eduardo Cunha na tentativa política de construir o cenário propício para o pedido de impedimento da presidente Dilma Rousseff.
“Impeachment não é um troço que passa pela análise dele (Renan) neste momento, então, não tem que ver com ele. Contas, nós aprovamos semana passada. Desde quando cumprir a nossa obrigação é tacar fogo em alguma coisa? Não cumprir é que responsabiliza como omissão. Se ele tomar a decisão de não apreciar as contas, ele que responda perante a Casa dele e a sociedade, estou absolutamente tranqüilo”, disse Cunha.
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