Como as agências de classificação de risco interferem no seu bolso?

12/08/2015 15:14 - Minuto Dinheiro
Por Ricardo Rolim

Essa semana ganhou destaque no noticiário nacional de que a agência de classificação de riscos Moody’s rebaixou a nota de risco de crédito do Brasil. Mas como esse tipo de notícia pode influenciar no seu bolso?

Para entender o papel dessas agências, preciso que você comece imaginando o seguinte: quando alguém te pede dinheiro emprestado, você provavelmente analisa se a pessoa é de confiança, se está empregada, se tem fama de caloteira, etc., não é mesmo? Você pode até não levar isso em consideração quando esse empréstimo é para uma pessoa muito próxima (um grande amigo ou um parente a quem você é muito ligado, por exemplo), mas e se for um simples conhecido que você não tem muito contato?

Ampliando nosso horizonte de exemplo, veja outra situação: quando um cliente vai pedir um cartão de crédito no banco ou um empréstimo para financiar um carro: nessas situações, os bancos e financeiras consultam o SERASA, que é a principal empresa brasileira de análise de crédito e que possui o maior cadastro de inadimplentes. Indo mais além, no caso dos bancos, ao concederem um financiamento para uma pessoa que está com o nome limpo, também são analisados outros fatores de risco, como a renda mensal familiar e a capacidade de honrar com aquele empréstimo, considerando o percentual da renda a ser comprometido, como também se aquela pessoa possui outros empréstimos contratados (se está muito endividada), de forma que não prejudique as demais ou todas as dívidas.

Agora imagine o seguinte: como um fundo de investimentos com sede na Austrália, ou um banco sediado na Alemanha ou ainda um fundo de pensão de empregados de uma empresa lá do Japão vão aplicar seus recursos no Brasil? Como eles vão comprar títulos da dívida brasileira, como vão emprestar dinheiro para a Vale extrair minério de ferro para vender pra China, ou então comprar ações da Friboi acreditando no potencial que eles possuem de vender carne para o mercado americano e assim terem mais lucros? Como vão financiar uma nova fábrica de cosméticos da Natura, ou a construção de uma linha de transmissão de energia elétrica para atender a região Nordeste? Eu poderia dar ainda outros diversos exemplos de empresas de outros setores, como Petrobrás, Suzano Papel e Celulose, Banco Itaú, Gerdau, CSN, pois todas elas, e muitas outras, dependem de recursos externos para se financiarem.

É justamente aí onde entram as agências de classificação de risco de crédito - as 3 principais são Moody's, FitchStandard & Poor's: elas são contratadas e muito bem pagas por bancos, fundos de investimento, fundos de pensão e até por governos para efetuarem análises de outros países e empresas que buscam crédito pelo mundo. Só que essas análises são mais complexas. As agências avaliam diversos cenários do país como um todo, analisando o grau de risco para a concessão do empréstimo ou da recomendação de investimento. E obviamente, quanto maior o risco, mais difícil para um país ou empresa obter um empréstimo ou receber investimentos ou ainda maior será a taxa de juros cobrada; quanto menor o risco, maior a facilidade.

Nessas análises, diversos fatores são considerados. Como está o cenário político no país? Existe um clima de instabilidade? A justiça julga rápido um eventual calote que uma empresa qualquer deu a um banco? Os contratos são respeitados ou o governo de uma hora para outra resolve aumentar impostos de determinados setores da economia? Existe um mercado consumidor com potencial de compra? As estradas, portos e aeroportos são de qualidade, facilitando o escoamento da produção? Quais as fontes de fornecimento de energia elétrica do país e existe risco de apagão? Os órgãos de licenciamento ambiental são ágeis? As contas do governo estão em dia ou o governo gasta mal? Esses e diversos outros critérios são analisados pelas agências, que ao final, concedem notas para os países e para as empresas dos países. Às vezes o país pode ter uma excelente nota, mas determinada empresa, não. E o contrário também pode acontecer.

Respondendo à pergunta feita no título desse texto: como as agências de classificação de risco interferem no seu bolso? É que por conta dessas análises, as empresas decidem como irão alocar os recursos disponíveis, quer seja fechando unidades - proporcionando desemprego – ou ampliando investimentos, com novas fábricas e filiais, por exemplo, gerando mais empregos. Em ambos os casos, também os governos são afetados, pois quando as empresas diminuem investimentos ou até fecham, a arrecadação de impostos vai diminuir e vai faltar dinheiro para o posto de saúde, para escola, para dar aumento ao funcionário público... 

Por tudo isso, fique atento e comemore quando a nota para o nosso país for boa e preocupe-se quando diminuir. Direta ou indiretamente, seu bolso e o de sua família de alguma forma sentirão o impacto.

Até a próxima.

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Ademir Cruz, formado em Ciências Contábeis, leitor habitual da literatura financeira, irá demonstrar como pode ser interessante o mundo das finanças pela ótica da Bolsa de Valores.

Márcio Raimundo, investidor da bolsa desde 2009; leitor assíduo de fóruns e portais de economia e finanças, mostrará que investir na bolsa é mais simples do que se imagina.

Ricardo Rolim, formado em Administração de Empresas e um curioso em investimentos no mercado de ações e no Tesouro Direto, onde mantém aplicações.

Rodrigo D'Avila, formado em Administração de Empresas. Investe desde 2006 no mercado financeiro e pretende compartilhar nesse espaço os conhecimentos e experiências adquiridas ao longo de todos esses anos.

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