A criatividade é um combustível imprescindível para aqueles que querem investir em um nicho de mercado e oferecer produtos ou serviços que atendam a essas necessidades. O brasileiro consegue ter boas ideias e lucrar com isso, tanto é que o país é apontado como o mais empreendedor do mundo. Os dados são da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgados em maio pelo Sebrae.
Os dados mostram que três em cada dez brasileiros entre 18 e 64 anos possuem uma empresa ou estão envolvidos com a criação de um negócio próprio. Essa capacidade ativa acaba, em muitos casos, ultrapassando as barreiras geográficas e essa predisposição a ser empreendedor é vista em brasileiros que vivem em outros países.
Morando há oito meses em Dublin, na Irlanda, a jornalista alagoana Acássia Deliê vem mostrando a irlandeses, brasileiros e outros estrangeiros que não é apenas a farinha de Alagoas que é boa. O que era uma alternativa de renda enquanto um emprego formal não aparecia, virou um negócio promissor. Ela montou um ‘delivery’ de tapiocas com sabores bem brasileiros.
De início os planos eram estudar e buscar algum emprego até conseguir se estabilizar na nova cidade. Mas nem mesmo a distância, os fusos horários e o oceano Atlântico impediram que as conversas com amigos que ficaram do lado de cá incentivassem as ideias empreendedoras.
A escolha da tapioca como produto veio de um desses papos. Como Acássia tinha aprendido com a avó a fazer a massa da goma de tapioca, ela decidiu botar em prática a receita e aos poucos foi introduzindo no cardápio sabores e nomes que remetem ao Brasil. De fevereiro pra cá, quando as vendas foram iniciadas, as tapiocas vem conquistando asiáticos, espanhóis e sul-americanos que moram em Dublin.
“Muitas das ideias surgiram de conversas com meu amigo e ex-editor Carlos Nealdo. Ainda consigo organizar tudo sozinha: desde o preparo até a entrega, além do relacionamento com os clientes, que é principalmente pelo Facebook. Lá muita gente encontra meus números e acaba fazendo pedidos por telefone também”, conta.
Com preços a partir de €2 euros o cliente pode degustar sabores típicos da culinária brasileira, como camarão, a tradicional tapioca de coco com queijo, até sabores mais lights com brócolis e queijo cottage.
A divulgação, como ela relatou, começou em anúncios em classificados feitos por brasileiros, mas hoje já possui uma página no Facebook ‘Tapioca Brazuca’, com mais de 500 curtidores, além de grupos no WhatsApp com os clientes mais assíduos.
“Quase todos os meus clientes são brasileiros, mas tenho alguns espanhóis e sul-americanos. Agora, com o inglês, estou começando a fazer anúncios bilíngues e estou finalizando uma campanha voltada para irlandeses e estrangeiros que moram aqui”, contou.
Um dos ingredientes para que as tapiocas conquistem os nativos é a curiosidade que cercam vários elementos da culinária do Brasil. São cheiros, sabores e sensações que não são encontrados com facilidade em outras escolas gastronômicas mundo afora.
“Tem como não gostar de tapioca? Tenho clientes que compram tapioquinhas para festas, é uma opção bem brasileira e diferenciada. Recentemente fiz uma entrega para um noivado de uma brasileira com um irlandês. Tanto ele quanto a família amaram! Outra cliente comprou duas bandejas cheias de mini tapiocas para uma festa com asiáticos e espanhóis. Foi interessante o feedback dela: "os amigos da Ásia adoraram as de queijo brie, os espanhóis amaram as de frango"”, revela.
Planejamento para empreender com sucesso
Mesmo com um cenário econômico em recessão em vários países, inclusive no Brasil, há setores que conseguem sobreviver sem sofrer tanto os impactos econômicos. Segundo o gerente da Unidade de Atendimento Empresarial do Sebrae em Alagoas, Marcos Alencar, a atual crise econômica se mostra uma oportunidade para diversos serviços. Ele alerta também para a necessidade de o empreendedor planejar as ações a médio e longo prazo. Esta também é uma forma de evitar imprevistos financeiros.
“Aqui no Brasil ou em outros lugares quem trabalha com refeições ou alimentos para entrega tem tido bons resultados. Isso porque o momento econômico forçou as pessoas a comerem menos em restaurantes. Quem trabalha com comida para entrega, consegue ter uma boa oportunidade para atender quem almoça fora de casa por conta do trabalho, por exemplo, já que é uma refeição a um preço mais baixo. Isso também vai acontecer com o caso das tapiocas em Dublin”, explica.
Outra ideia que Acássia colocou em prática e vem dando certo é levar informação junto com a comida. Como ela atuou por anos no jornalismo em Alagoas, a necessidade de escrever bateu à porta. Daí surgiu o www.napkinews.com, um site criado por ela para postar notícias para os brasileiros que moram na Irlanda. A divulgação do conteúdo acontece pelos guardanapos que vão junto com as tapiocas.
“As notícias começaram como um hobbie aqui, já que eu queria escrever. Mas pela falta de tempo atendendo aos pedidos, fiquei sem atualizar o site, aí os clientes começaram a reclamar: "cadê os guardanapos com as notícias?". Agora tenho que encontrar tempo para escrever pelo menos semanalmente”, conta.
O retorno ao Brasil por enquanto está adiado, talvez em férias para visitar família e amigos, conta Acássia. “A gente não pode garantir o que acontece no futuro, mas por enquanto não tenho previsão para voltar. Por enquanto ainda quero entregar muita tapioca com notícias por aqui”, finaliza.