Bruno Garschagen faz palestra e lança livro em Maceió; blog republica entrevista com escritor de Pare de Acreditar No Governo

31/07/2015 15:01 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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O escritor Bruno Garschagen - autor de Pare de Acreditar no Governo - lançará seu livro em Maceió amanhã, às 14 horas, na Livraria Leitura no Parque Shopping, em Cruz das Almas. Neste blog, já entrevistei Garschagen sobre o livro. 

Li a obra e indico aos meus leitores. Republico a entrevista para mostrar aos queridos leitores o porquê de valer a pena ir ao evento amanhã e adquirir o livro. Além de lançar a obra em Maceió, Garschagen ainda fará uma palestra e baterá um papo sobre a evolução do intervencionismo do Brasil desde governos longíquos. 

O evento é promovido pelo Instituto Liberal de Alagoas (ILA). Repito: eu indico. 

Evento

Lançamento do livro de Bruno Garschagen/ Pare de Acreditar No Governo

Entrada Franca

Local: auditório da Livraria Leitura, no Parque Shopping Maceió (Cruz das Almas)

Hora: 14 horas

Maiores Informações: 
99677-7055 (Luis Vilar)
99934-6165(Islanio Santiago)

Eis a entrevista:

No livro Pare de Acreditar no Governo, o senhor levanta uma tese que parece inteiramente paradoxal: um povo brasileiro que não confia nos políticos, mas se agarra ao Estado – que é direcionado por políticos – para resolver todos os conflitos e problemas, seja no campo dos valores ou da economia. Em sua análise, o que leva o brasileiro a conseguir aliar estas duas premissas: não confiar nos políticos, mas amar o Estado?

O meu livro é uma tentativa de explicar por meio da nossa história política e de uma crítica a todos os governos esse monumental paradoxo, que tenho chamado de Paradoxo de Garschagen por sugestão do escritor Martim Vasques da Cunha. Ao longo do livro apresento elementos para mostrar com foi criada uma cultura política intervencionista que foi desenvolvida ao longo de nossa história e na qual o Estado promete ser o grande agente social, político e econômico, e age nesse sentido aumentando o seu poder, tamanho e atuação.  Essa atuação, aceita e potencializada pelo nosso desejo de que o governo assuma diversas funções, cria um ciclo vicioso: quanto mais promessas são feitas pelos políticos, seja durante a campanha, seja investidos no cargo, mais a sociedade acredita que cabe ao governo ser o grande realizador e, naturalmente, tende a pedir por mais governo. A imagem mais adequada para esse drama é a do Ouroboros, a cobra que morde continuamente o próprio rabo. É como se nós brasileiros vivêssemos ao mesmo tempo em dois planos de realidade: 1) aquela em que existem os políticos de carne e osso nos quais não confiamos e 2) outra na qual o Estado é uma entidade perfeita formada por seres celestiais. É como se o Estado, representado pelo governo, não fosse constituído pelos mesmos políticos que gozam amplamente de nossa desconfiança. Mas quando as expectativas são frustradas pelo governo, a insatisfação e os protestos são direcionados contra os políticos, o que preserva a esperança de que o Estado faça algo desde que os políticos no poder sejam substituídos. Mas como o núcleo do problema é essa mentalidade e cultura intervencionista os novos políticos terão a mesma cabeça e a mesma prática. É como trocar seis por meia dúzia. Um dos resultados mais graves é a construção de uma mentalidade intervencionista que infantiliza a sociedade brasileira e faz com que parte dela transfira para o Estado suas responsabilidades e deveres. E tudo o que o político médio brasileiro deseja é essa servidão voluntária que permite que ele use, abuse e amplie seus poderes políticos e econômicos.

De certa, o livro do senhor nos leva a refletir sobre o tamanho do Estado e onde ele deve atuar. Creio que a ausência de Estado não é a solução. Mas qual seria o tamanho e o papel ideal de Estado então? E por que o Brasil se encontra tão distante de termos um Estado eficiente e que nos custe bem menos do que o que pagamos hoje como contribuintes?

Não discuto no livro a tese acerca do tamanho do Estado e do papel do governo. Tento explicar e expor a origem do problema que resultará na dimensão do Estado e na consequente atuação do governo. Porque de nada adianta discutir esses dois pontos sem reformar a mentalidade e a cultura intervencionista. Sem isso, pode acontecer de um determinado governo conduzir algumas reformas de redução do tamanho do Estado e ser sucedido por outro que se aproveite do que foi feito administrativamente para aumentar de forma ainda mais nefasta o alcance estatal e as atribuições governamentais. Se a sociedade não for informada acerca dessa armadilha não conseguirá, sequer, identificar que há um problema que precisa ser solucionado e continuará votando em candidatos intervencionistas que servem ao governo e não à sociedade.

Em uma das passagens da obra, o senhor fala da abertura econômica buscada por D. João VI, o que faz com que o Brasil tenha uma característica extremamente idiossincrásica: buscar a liberdade econômica antes da política. Ao mesmo tempo, mostra que houve uma lacuna até pensarmos em abertura novamente, que somente ocorreu no governo de Itamar Franco. Qual o preço disto na visão do senhor?

Esse é um elemento importante na nossa história: conseguimos autonomia econômica antes da autonomia política, o que foi ótimo porque também colaborou para a nossa Independência feita, vale lembrar, por um monarca português, D. Pedro I. É um dos fatos extraordinários da nossa história política. O problema é que os republicanos radicais, apelidados de jacobinos, que realizaram o golpe militar em 1889 quiseram destruir todo o capital de experiência social, política e econômica construído ao longo da nossa Monarquia e inviabilizaram, também, a economia de mercado. Cito no livro que, depois de D. João VI, quem voltou a abrir os portos do país foi, veja só, Fernando Collor de Melo. Itamar Franco, assim como Fernando Henrique Cardoso, manteve e ampliou a abertura e o processo de privatização iniciados por Collor. O resultado desse hiato foi deixar o país quase completamente fechado para o mundo até o início da década de 1990, atrasando o nosso desenvolvimento econômico e prejudicando, como sempre, as parcelas mais pobres da população. A origem do nosso subdesenvolvimento não foi econômica, mas política. Decisões políticas que atrapalharam imensamente toda a sociedade. É isso o que tentei mostrar no livro.

Privatização é um palavrão em nosso país. O senhor, em seu livro, defende inclusive que o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi de encontro às suas convicções ideológicas para promover privatizações em função da necessidade do país. Por qual razão foi necessário aquelas privatizações?

Acho que o panorama está mudando e, graças aos recentes escândalos de corrupção, a privatização não tem soado tão ofensiva quanto a alguns anos atrás – o que é ótimo. Uma parcela numerosa da população passa a perceber que uma empresa como a Petrobras, além de servir como instrumento político e econômico privilegiado para quem está no governo, não a beneficia sequer com um combustível mais barato. As pessoas estão vendo que manter uma estatal como a Petrobras não só não a ajuda como financia os corruptos. No caso do governo FHC, as privatizações foram realizadas não por convicção econômica ou ideológica segundo a qual é a iniciativa privada, não o governo, que deve atuar na economia, mas por necessidades administrativas circunstanciais, incluindo gerar receita para o Estado. Mas isso não aconteceu só Brasil. Em outras partes do mundo, incluindo na América Latina, governos de esquerda como o PSDB promoveram privatizações porque era necessário.

Aproveitando o tema “privatização”, o senhor acredita que privatizar a Petrobras seria bom para o país, bem como outras estatais como Correios? E como fazer para mudar a mentalidade do povo brasileiro em relação ao assunto privatização?

Qualquer privatização com abertura do mercado à concorrência, sem que haja a simples transferência de um monopólio público para uma ou mais empresas privadas, é benéfica para a sociedade. Quem gosta de monopólio estatal são aqueles que se beneficiam de alguma forma do controle governamental (políticos, servidores públicos, antiempresários disfarçados de empresários). Como mudar a mentalidade? Basta mostrar e ratificar para a sociedade os benefícios advindos com as privatizações já realizadas e mostrar que aquilo que dá errado é, em muitos aspectos, culpa do governo. Esse papel cabe a nós porque não dá para esperar que os políticos e instituições que supostamente deveriam atuar em benefício da sociedade o façam. Se temos hoje mais telefones celulares do que brasileiros foi graças à privatização. Antes, faltava telefone e ter o preço para se ter uma linha fixa muito alto. Se hoje temos um serviço caro de telefonia é preciso mostrar o tamanho da carga tributária e das demais intervenções do governo no preço final (o mesmo vale para energia elétrica).  E os problemas de atendimento e da má qualidade do serviço privado das empresas hoje em atuação só serão resolvidos com mais concorrência, que hoje é minúscula, e processos judiciais contra as telefonias. Muitos empresários, empreendedores e executivos brasileiros agem no mercado com a mesma cabeça de político intervencionista e acabam desenvolvendo uma atividade antiempresarial. É escandaloso quando compramos um aparelho eletrônico defeituoso e a loja nos obriga a levá-lo numa assistência técnica em vez de trocar o produto na hora ou devolver o dinheiro. Isso é comportamento de serviço estatal, não privado.

 “A relação entre o Estado, a nobreza e a burguesia produziu estímulos ruins para os nobres, para os burgueses e para os servidores da coroa”, coloca o senhor ao analisar o Estado patrimonial. Atualmente, em um Estado que buscou se modernizar e se transformar ao longo dos anos, como o senhor vê hoje a relação – no Brasil – entre o Estado e o setor produtivo, o contribuinte e os servidores públicos?

A modernização do patrimonialismo do Estado brasileiro, baseado no intervencionismo, burocracia e carga tributária, aprimorou a capacidade do governo de intervir de forma mais eficiente, ampliou a dependência voluntária ou forçada das decisões do governo e aprofundou ideia segundo a qual cabe ao governo resolver os problemas políticos, sociais e econômicos. Desde o início da nossa história o Estado se coloca hierarquicamente numa posição superior e de dominação em relação à sociedade – e o único momento em que se tentou superar politicamente e constitucionalmente o patrimonialismo originário foi durante a nossa monarquia.  Assim temos o governo que cria todas as condições para que a sociedade continue a ser dependente e continue a sofrer com as intervenções sem reconhecê-las como um mal em si mesmo. O próprio fato de nós, pagadores de impostos, sejamos chamados de contribuintes é parte desse drama político que subverte, inclusive, a linguagem. Nesse sentido do intevencionismo, os dois governos que contribuíram de forma mais danosa foram o de Getúlio Vargas e os do PT (Lula e Dilma). Mas todos os demais, em maior ou menor grau, colaboraram para alimentar o Leviatã.

O senhor faz uma análise que sugere uma necessidade de mudança imediata na forma como pensamos Estado e nas suas relações. Porém, no nosso campo político temos mais de 30 partidos que nos tem a oferecer – com algumas poucas diferenças – as mesmas visões. Como promover mudanças diante deste quadro?

Nossa política formal é constituída por mais de 30 tons de vermelho, uma diferença brutal se compararmos com a política brasileira do século XIX quando as duas grandes forças intelectuais e políticas eram os conservadores e os liberais, como mostro no livro. A mudança tem que partir, necessariamente, de baixo para cima. Uma parcela da sociedade, já livre da armadilha do intervencionismo e da mentalidade estatista, deve trabalhar para mostrar, a partir do trabalho individual e dos institutos, que existem dois caminhos: o caminho para a servidão que é trilhado desde o passado e deu no que deu, e o caminho para as liberdades, capaz de pavimentar um presente no qual a sociedade escolha o seu próprio destino sem ser obrigada a submeter-se às decisões de políticos intervencionistas.

O senhor acredita que – diante do que vem acontecendo no nosso país, como as recentes manifestações do início deste ano, como Mises começar a ser citado nas universidades, e um mercado editorial totalmente aberto para obras como a sua – o Brasil começa a sair de um pensamento de esquerda que era hegemônico e começa a apontar para outras vertentes que merecem ser ouvidas? Neste sentido o país não teria evoluído?

Estamos a viver neste momento um importante período de transição que vai gerar bons frutos se agirmos corretamente e adequadamente agora. Por isso o último capítulo do meu livro é um chamamento à nossa responsabilidade individual e ao nosso sentido de dever na vida pessoal e na vida em comunidade.  Percebo em todos os lugares aonde vou e nas pessoas com quem converso um interesse e uma vontade única de fazer por conta própria, sem o estímulo e a participação de partidos, sindicatos ou organizações políticas. É um momento bastante propício para construímos uma cultura cívica e política baseada nas virtudes individuais, não nos vícios privados ou públicos. Os inimigos da liberdade e da sociedade brasileira, que sempre pretenderam falar em nosso nome, estão sendo descobertos e expostos em praça pública e não detêm mais o monopólio da manifestação e da atuação, seja na política, sena nas manifestações de rua, seja no ensino. Isso é um sinal claro de estamos no centro de um processo de mudança, o que aumenta a responsabilidade e o sentido de dever das pessoas de bem.

Estamos vivenciando uma época de muitas obras de revisão histórica que mais do que contar a História do Brasil trazem reflexões sobre como construímos nossos valores e nossas relações para com o poder público, bem como tem propiciado a queda de mitos. Vê-se isto em obras como a sua, como as do escritor Leandro Narloch, dentre outros. Que frutos podemos colher disto no futuro?

Hoje temos escritores, intelectuais, professores cujo trabalho são fundamentais neste momento de transição porque servem como instrumentos de informação, formação e estímulo. E temos editoras (Editora Record, É Realizações, Vide Editorial, Editora Resistência, Editora Simonsen, Editora Danúbio) e corajosos editores (Carlos Andreazza, Edson Filho, Cesar Kyn d’Avila, José Lorêdo, Rodrigo Simonsen, Diogo de Almeida Fontana), que perceberam um grande interesse na sociedade brasileira que não era atendido pelo mercado editorial. As listas dos mais vendidos das principais editoras mostram exatamente isso. O Narloch é best-seller há alguns anos assim como o Olavo de Carvalho, e o meu livro “Pare de Acreditar no Governo” está há algumas semanas nas listas dos mais vendidos.

O século XX foi um dos mais sangrentos da história justamente por conta das ideologias totalitárias, como o comunismo, fascismo e nazismo. Por que – em sua visão - muitos conseguem enxergar isto quando se fala em fascismo e nazismo, mas quando o assunto é comunismo – principalmente no Brasil – ainda há pessoas que se encantam e defendem veementemente este até mesmo com uma euforia romântica em busca de um mundo melhor?

Não trato disso no meu livro, mas a minha dissertação de mestrado foi justamente sobre utopias políticas na qual abordei os casos da Alemanha nazista e da Rússia comunista. O comunismo conseguiu sobreviver como força política e intelectual porque, estrategicamente, colocou-se ao lado dos Aliados na Segunda Guerra e, após a guerra, fez um amplo e eficiente trabalho de financiamento e cooptação de milhares de pessoas em várias áreas de atuação no mundo Ocidental que trabalharam intensamente para “branquear”, defender, disseminar e até travestir ou ocultar a ideologia com outras denominações. No Brasil, dois dos que melhor entenderam e escreveram sobre o assunto foram os professores Antonio Paim e Olavo de Carvalho. Um dos elementos mais sedutores do socialismo/comunismo é justamente a promessa de oferecer respostas e soluções absolutas para todos os problemas da sociedade. Esse racionalismo dogmático é ainda mais confortável porque a responsabilidade de construção desse futuro perfeito cabe à elite que controla centralmente a política e os destinos da sociedade. É uma utopia sedutora que, uma vez implementada, se converte numa distopia aterradora.

Estou no twitter: @lulavilar

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