Conversei – na manhã de hoje, dia 24 – com o deputado federal Pedro Vilela (PSDB), durante o programa Jornal do Povo da Rádio Jornal AM-710. Em pauta, a crise política e econômica que vivencia o país e – conforme muitos parlamentares – deve se aprofundar no segundo semestre em função de diversos fatores que devem influenciar tanto as ações do Congresso Nacional quanto do Executivo.
Pedro Vilela – por exemplo – aposta que o Congresso Nacional deve retornar às atividades, a partir de agosto, com o reflexo das ruas e das pesquisas de opinião que apontam a acentuada queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT). Apenas 7,7% das pessoas entrevistas aprovam seu governo, conforme pesquisa recente.
“Os deputados federais ouviram as suas bases. Ouviram mais seus eleitores neste recesso e dificilmente encontraram eleitores que aprovam o governo da Dilma. Então, a tendência é que voltem com este sentimento para o Congresso. Teremos reflexo disto sem dúvida. Além disto, o próprio momento que o país vivencia”, colocou Vilela.
Para o deputado federal, as manifestações de insatisfação com o governo federal devem influenciar posicionamentos na Câmara de Deputados, mas afirma que o PSDB – e nenhum partido – deve ser visto como protagonista destas manifestações.
“O PSDB não é um protagonista. As ruas pedem a saída da presidente. O impedimento da presidente não é uma bandeira do nosso partido. O PSDB respeita as urnas e as instituições. O PSDB tem que respeitar o resultado das eleições. Mas, temos instituições sérias tratando de tudo o que fez o PT e a presidente Dilma Rousseff. Conforme o resultado das investigações, o Congresso poderá ter elementos ou não para abrir processo contra a presidente e pedir o impeachment, mas é preciso elementos concretos para isto. O PSDB não pode pegar bandeira A, B ou C de impeachment sem fatos concretos”, colocou.
Indaguei a Vilela que oposição é esta do PSDB que não se comunica com o sentimento das ruas e vive a poupar a presidente Dilma Rousseff quando o assunto é a possível abertura de um processo de impeachment. Que tenta se distanciar o máximo possível. Ele responde que discutir o impedimento da presidente é natural diante do estado de coisas. “O PSDB não é o protagonista destas manifestações por respeitar o resultado das eleições. Mas, veja: o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está analisando um processo de abuso de poder político e econômico contra a presidente que é movido pelo PSDB. Nós vamos agir, mas respeitando as instituições. O PSDB aguarda resultados, como aguarda resultados das contas da presidente que serão julgadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU)”.
Para o deputado federal, este é um tema ao qual o Congresso não poderá fugir no segundo semestre. “A presidente Dilma vai ter que responder. Ela destruiu legados. Tanto o legado do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que foi da estabilidade econômica do país, quanto do presidente Lula (PT). Eu tenho ressalvas ao presidente Lula. Não sou entusiasta do seu governo petista, mas não posso deixar de dizer que houve avanços. Hoje, a presidente destruiu tudo o que foi feito”, salientou.
Vilela – portanto – busca separar os governo Lula e Dilma ao analisar as consequências do atual cenário político-econômico do país que é fruto de uma mudança de matriz econômica e de um vasto esquema de loteamento do poder em nome de uma governabilidade que promoveu o fisiologismo e a corrupção, com vários partidos comprometidos, como é o caso do PP e do PMDB.
Ao avaliar a situação da presidente no Congresso Nacional, Pedro Vilela diz que é “difícil”, mas não porque a oposição seja ferrenha, mas “porque ela não se entende nem com a própria base”. “A oposição é ferrenha. Mas somos pouco mais de 100 deputados federais. Creio que somos 20% do Congresso. Em Democracia alguma 20% ganha de 80%. E por qual razão a presidente perde tanto na Câmara? Ora, as vitórias da oposição se dão por conta dos constantes desentendimentos da base que faz com que alguns se juntem à oposição em assuntos. A oposição – entretanto – mesmo pequena cumpre com responsabilidade o seu papel. Apontar o que está errado neste país”.
“Quando digo que a oposição é pequena, eu sei que somos maioria nas ruas e temos o apoio da população. Eu falo da oposição numérica dentro do Congresso”, frisa ainda. Para Vilela, o desentendimento na base tende a se aprofundar diante da atual conjuntura e da desaprovação história da presidente Dilma. “A tendência é que a oposição seja reforçada no segundo semestre. Eu estou no local onde eu sempre estive: contra este governo e contra o PT”.
Por fim, como fiz com alguns deputados federais durante estas duas últimas semanas, indaguei a Pedro Vilela como ele enxergava o rompimento entre Eduardo Cunha e o PT. “Eu tenho ressalvas ao presidente Eduardo Cunha. Ele não era da oposição e pertence a um partido que é sim base governista. Mas, justiça seja feita: o Eduardo Cunha deu maior produtividade a Câmara, que passou a votar matérias importantes. Temos votações acima da média que se registrava, quando olhamos para este período”.
De acordo com Vilela, o que não se pode esquecer é que PT e PMDB seguem sendo aliados, como “sempre foram”. “O PMDB tem ministros fazendo parte do governo. A briga deles é entre eles. É dentro de casa e por razões que não são republicanas, como as que envolvem a investigação da Lava jato. Quem tiver culpa que responda. Que pague. Quando o Eduardo Cunha rompe com a presidente, claro que isto traz complicações para ela. Mas, nós que somos oposição temos que enxergar isto de fora. Seguir fazendo o nosso papel de cobrar explicações do governo e fiscalizar e este papel nada tem a ver com PT ou com PMDB. A oposição tem um papel a cumprir”.
Indaguei ao tucano qual seria este papel. Ele expõe: “de fiscalizar e apontar os erros de um governo que fez com que o Brasil andasse 20 anos para trás. Para que não caminhemos para virar uma Venezuela. Enquanto o mundo cresce, o Brasil recua. Será pior nos próximos meses. Brasileiros já estão recorrendo as suas poupanças, quando as possuem. É um quadro que precisa mudar. Este é o compromisso da oposição”.
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