George Santoro: “Eu não sei para onde vai o país no segundo semestre"

16/07/2015 14:29 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Realista ou pessimista? Creio que esta será a pergunta que o leitor fará ao se deparar com a entrevista do secretário estadual da Fazenda do Estado de Alagoas, George Santoro, às Páginas Vermelhas do CadaMinutoPress.

O titular da pasta – que vem de vários cargos da administração pública e parece ter uma linha de pensamento muito próxima a do ministro da Fazenda, Joaquim Levy – pareceu, entretanto, ser bem franco na conversa que teve com a jornalista Candice Almeida.

Uma franqueza que assusta e que faz com que todo e qualquer alagoano tenha preocupações em relação aos anos vindouros diante da conjuntura nacional e da situação do Estado. George Santoro reconhece as dificuldades, ainda que não aprofunde nas explicações destas que são consequências de uma matriz econômica adotada pelo Brasil e que – como mostra Paulo Rabello de Castro em seu excelente livro Governo Grátis – não tinha como dar certo.

Falta de exemplo pelo mundo não é.

Infelizmente, o atual governador Renan Filho (PMDB) hipotecou seu apoio ao governo federal que adotou esta matriz econômica. Não esqueçamos disto. Eu mesmo já disse isto ao governador várias vezes, inclusive quando ele era deputado federal. Nunca me esqueço de uma das vezes em que – numa cafeteria, após uma entrevista – o governador (até então deputado) de forma muito educada e solícita (ele sempre foi muito cordial) disse: “Você é um pessimista, Vilar”.

Bem, governador, pessimista ou realista? O que eu sou, George Santoro?

Santoro – na entrevista – reforça a imprevisibilidade do cenário econômico brasileiro e cita a frustração de receita em relação ao Fundo de Participação do Estado (FPE) logo de saída. Perdemos R$ 30 milhões nos repasses deste mês. A longa entrevista que Santoro concedeu à jornalista Candice Almeida tem que ser lida, caro leitor. É um ponto de partida para muitas reflexões.

Talvez seja a mais importante Páginas Vermelhas que o CadaMinutoPress fez neste ano, concorde você ou não com que Santoro expõe.

Veja um trecho: “Nós temos um problema fiscal bastante relevante, estamos vivendo um ano absolutamente atípico no Brasil. Talvez seja a maior recessão que o país tenha vivido nos últimos 20 anos. Eu não me lembro de um período tão difícil, da produção industrial ter caído tanto, do comércio varejista ter caído tanto”.

Para Santoro, os níveis de desemprego já assustam. Ele deixa a entender que aumentará mês após mês. Eu discordo do secretário em um ponto. Ele afirma que “todo mundo está vendo esse cenário”. Eu afirmo: está não! Há um grupo grande de “vermelhinhos” que ainda transitam pelos contos de fadas contado pelo atual governo que cometeu um dos maiores estelionatos eleitorais já praticados neste país.

Estelionato este praticado pelos aliados do atual governador, diga-se de passagem. Há muita gente encantada. Pergunto ao governador Renan Filho se – após a leitura da entrevista – ele ainda se orgulharia de ter votado em Dilma Rousseff (PT)? Aguardo a resposta. Pois sei que o governador lê tudo que encontra pela frente, principalmente quando se trata de imprensa. E uma entrevista como esta de Santoro não escaparia aos olhos do chefe do Executivo que – obviamente – já sabe bem o cenário que Santoro enxerga.

E eis a dificuldade. Neste ano de 2015 – o primeiro ano do governo Renan Filho – é o ano de “arrumar a casa” conforme a nova filosofia de governo. Natural. Neste ponto Santoro é enfático: “se não arrumar agora, não arruma mais nunca”.

“É claro que a gente não pode atender a todas as demandas, mas a gente está sensível a rediscutir a situação de cada secretaria e à medida que a gente vai vendo que é possível, vamos atendendo aos pleitos. Para isso que a gente tem trabalhado. Nós não tivemos nenhuma grande resistência. A gente tem o natural. Cada secretário vai brigar por sua pasta, é natural e meritório, não seria se não estivesse brigando”, complementa.

Vejam a dificuldade exposta pelo titular da pasta. Candice Almeida pergunta se ele pode garantir que o 13º salário e o salário do mês serão pagos até o final do ano. “100% de certeza ninguém tem. Num ano como este de crise, vou ter dar um exemplo: hoje entrou uma parcela de FPE [Fundo de Participação dos Estados], sabe quanto veio a menos? 19%, representa R$ 30 milhões a menos, só hoje”.

Pois é. Achou pouco? Mais uma pitada da entrevista: “Eu não sei para onde vai o país no segundo semestre, a gente acha que vai melhorar, mas e se não melhorar? É esse cenário. Como vou assumir um cenário que não sei?”. Santoro, caríssimo secretário, eu aposto que nem Dilma sabe. Não é por acaso que a presidente terceirizou o governo. Seu colega Joaquim Levy cuida da economia. O PMDB cuida da política, mesmo se dizendo divorciado ou não dormindo mais na mesma casa, como colocou o presidente do Congresso Nacional, Eduardo Cunha.

O medo do divórcio explícito entre PMDB e PT é o que eles podem fazer pelos moteizinhos da política, se é que o leitor me entende. E a Dilma enquanto isto? Bem, ela pedala! Advinha quem pagará o conserto da bicicleta?

Estou no twitter: @lulavilar

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