O governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), ao avaliar a situação do estaleiro – na manhã de hoje, dia 08 – durante uma entrevista coletiva acertou em cheio ao afirmar – categoricamente – que o estaleiro foi anunciado de forma prematura, sem que se tivessem antes todas as demais questões fechadas.
Criou-se um imbróglio que acabou atropelando a esperança de muitos alagoanos por melhor que fossem as intenções do governo da época de gerar emprego e renda. Creio que as intenções foram às melhores. Mas existiam muitos detalhes a serem tratados antes do anúncio. Então, tanto quanto o inferno está cheio de boas intenções é tão correto afirmar que o diabo mora em detalhes.
Neste sentido, o que foi anunciado como um importante empreendimento para o Estado virou uma moeda política, inclusive usada em campanhas eleitorais. A avaliação do governador está correta. Todavia, Renan Filho não era alheio ao processo em momento algum. Poderia ter cravado tal análise enquanto deputado federal, ou até mesmo apontado tal reflexão durante o embate político de 2014.
Contribuiria gigantescamente com o debate e usando da honestidade intelectual.
Mas, naquelas conjunturas mexer com o estaleiro era mexer com o sonho de uma grande maioria. E político inteligente é igual centroavante experiente: “só vai na boa!”, com o perdão do trocadilho e do erro sintático compreendido na frase aspeada. Assim sendo, o fato da análise do governador peemedebista estar correta e mostrar a forma açodada como trabalho do governo passado para ter os louros do que não foi sequer construído - do que sequer tinha terreno - não exclui o fato para as reflexões vindouras de uma sentença proferida pelo chefe do Executivo.
Renan Filho disse que não age colocando a carroça na frente dos bois. Pois bem, mas não é que o atual governo também tem suas carroças apressadas. É que – evidentemente – apontar a posição geográfica do boi alheio é algo muito fácil a se fazer. Mas vejam bem, vamos às carroças iniciais do atual governo que pretende trabalhar para chegar lá, ainda que não haja – no slogan do governo – um complemento de sentido claro a este adjunto adverbial de lugar: lá!
As carroças são as seguintes:
A Lei do Passe Livre: uma carroça que o governador empurrou – após um confronto entre o BOPE e os estudantes – para a Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Os deputados estaduais, em lua-de-mel com o governo, aprovaram o projeto. Todavia, quando os bois das polêmicas chegaram, Renan Filho evitou a sanção. Soube voltar atrás e respeitar a posição correta dos bois. Não deixa de ser um mérito do governador. Que ouviu a sociedade e reconheceu os equívocos. Mas é para mostrar que sempre que um governo adota a carroça em função dos louros políticos que ela traz pode ser atropelado pelos bois que vem na sequência. O mérito do governador foi ter deixado claro os motivos pelos quais recuou. Falei isto na época.
As frases do secretário de Desenvolvimento Social, Joaquim Brito, em relação ao Programa da Sopa também geraram polêmica. Agora, o governo corre em um processo licitatório para beneficiar os que dependem do programa já que a pasta – mesmo após ter criticado – não conseguiu colocar nada melhor no lugar e ganhou a revolta da população. Até o Ministério Público se posicionou.
Outro ponto: a reabertura da Maternidade Santa Mônica com a reforma ainda em andamento. Lembram da transferência arriscada de bebês correndo o risco de morte? Cenas lamentáveis de uma verdadeira operação de guerra que por sorte não resultou em algo pior. Neste caso, os bois vieram em forma de chuva por conta de uma decisão do governo de reabrir a unidade hospitalar mesmo com posição contrária do Conselho Regional de Medicina (CRM). A gestão peemedebista correu o risco de adiantar um pouco a carroça.
São três pontos para os quais chamo a atenção. Há outros. Isto é porque todo governo tem seus erros e seus acertos. Uma coisa é certa: não adianta muito estar sempre lembrando da herança do passado – por mais maldita que seja – como justificativa para não encarar que a responsabilidade mudou de mãos na construção do futuro. Espero que este não seja o caso do governador e que o espírito seja mesmo de respeitar a lógica de manter bois e carroças em seus devidos lugares para que trabalhando possamos chegar não apenas em um “lá” não muito bem definido, mas em uma Alagoas melhor para todos nós.
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