Este texto deveria ter sido publicado no dia de ontem, 30, mas devido a problemas com a agenda de trabalho, eis que ele surge neste espaço apenas agora. Peço desculpas ao leitor, mas como tratei do assunto da reportagem de Veja sobre a delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, aqui volto ao tema.
Falei do trecho da matéria que cita o senador Fernando Collor de Mello (PTB) e uma suposta negociação ilícita de R$ 20 milhões. Collor se defendeu no Senado Federal e pelas suas redes sociais. Alegou inocência mais uma vez.
Fernando Collor mirou nos mensageiros e não o autor da mensagem, como dizem por aí no popular. O senador falou em “luta solitária”, o que é um exagero. Afinal de contas, as acusações de Fernando Collor de Mello contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estão repercutindo bastante na imprensa.
Assim como quando expôs as suas versões sobre os fatos desde que foi associado ao nome de Alberto Youssef, o doleiro mais famoso da República.
E – independente de ser Collor ou qualquer outro parlamentar – se há indícios, tem que investigar. Eu – particularmente – apoio que as denúncias de Collor contra Janot sejam apuradas. Caso comprovada culpabilidade de Janot em tudo que o petebista aponta, que a lei seja aplicada. Ela existe para todos: seja cidadão comum, seja senador, seja deputado, seja procurador.
A cruzada de Collor contra Janot pode até ser solitária. Fato do qual duvido bastante. Afinal, são muitos os senadores e deputados que comungam da filosofia collorida, segundo bastidores de Brasília. Mas o senador alagoano tem tido os holofotes nacionais e locais virados para ele cada vez que vai à tribuna. Encontra eco que ampliam suas cobranças. Basta pesquisar rapidamente no Google.
Sendo assim, o discurso de vitimismo não cola. Agora, o discurso de defesa: é uma obrigação do senador enquanto figura pública que vem sendo apontada em um dos maiores escândalos de corrupção do país. Fernando Collor tem que prestar contas de seu mandato. O petebista alega a inocência e tem todo o direito ao contraditório. Neste espaço, pelo menos, nunca se fez o prejulgamento.
Sempre se colocou as acusações e se foi em busca do que o senador tinha a dizer. Quando emitidas notas, todas foram aqui publicadas. Assim como nos muitos espaços por aí, na imprensa local e nacional.
Fernando Collor de Mello – ao se defender das recentes acusações – relembrou seu período como presidente e das medidas de abertura da economia brasileira. Foram medidas importantes. Mas seu governo também teve medidas drásticas: o confisco da poupança. Desta, ele não lembrou. Nem lembrou de Paulo César Farias.
Collor diz que a luta é solitária, mas continua às claras. E respondeu ao que considerou como “denúncia de Veja”. Parênteses: a denúncia não é de Veja. É do delator Ricardo Pessoa. Diz que a revista publica um trecho seletivo da delação premiada de um empreiteiro que se encontrava na cadeia.
Discordo de Collor. Não se trata de um trecho seletivo. A reportagem tem várias páginas. Quem lê na íntegra observa que a revista usou de vários trechos (os mais comprometedores) em relação a vários políticos. Isto faz com que Fernando Collor de Mello seja culpado? Claro que não.
Trata-se de uma delação. É preciso apurar os fatos e dar amplo direito ao contraditório. Agora, a imprensa – tendo acesso ao depoimento – tem o papel de divulgar e apurar. Eis o que diz Fernando Collor: “novos obstáculos se impõem em meu caminho e que haverei de superar. Minha luta, como todos sabem, é uma luta solitária, mas continuo às claras. Novamente se faz presente o conluio entre setores do Ministério Público e este pasquim semanal, a revista Veja. As dificuldades que se apresentam em minha trajetória jamais arrefecerão a minha determinação. Enquanto alguns insistem em narrar ou mesmo impor a história a seu modo, eu, daqui, continuarei fazendo e traduzindo a sua verdadeira narrativa. Por isso, volto a repetir que o tempo é e sempre será o senhor da razão, e que a história, como sempre foi, é o corpo do tempo.”
Se há conluio ou não, quem tem que responder agora é o Ministério Público Federal (MPF) e a Revista Veja. Collor faz uma acusação grave contra ambos. Eles que se pronunciem caso queiram. No mais, Collor diz que o tempo é senhor da razão. Que seja! É isto que o Brasil espera agora. Não apenas em relação a ele, mas a todos os que foram citados, inclusive seus colegas de Senado: Renan Calheiros (PMDB) e Benedito de Lira (PP).
E assim, o tempo este senhor da razão mostrará a verdade. Se inocente, inocência reconhecida. Se culpado, o rigor da lei. Simples assim.
Estou no twitter: @lulavilar