A jornalista Eliane Aquino revelou – em texto em seu blog – qual era o gabinete onde se encontravam as lavadeiras vítimas da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Vítimas? Sim! Parece estar mais do que claro que as lavadeiras sequer sabiam que estavam lotadas em um gabinete da Casa de Tavares Bastos recebendo salários acima dos R$ 10 mil. Ou seja: um caso onde o parlamento estadual foi o algoz direto de pessoas humildes que – diferente de muitas autoridades engravatadas – dão duro para sobreviver.

Elas estavam no gabinete da deputada estadual Thaíse Guedes (PSC). Precisou de um trabalho de investigação jornalística para se chegar a uma informação que deveria ser de extremo acesso ao público, caso o parlamento estadual cumprisse o que determina a lei: ser transparente com seus recursos. Há uma decisão judicial que determina a total transparência daquele Poder. Até aqui, algo ignorado!

É certo que a presença das lavadeiras na Casa é algo que diz respeito à gestão passada da Mesa Diretora. Mas, tão certo quanto o fato de que muitos dos atuais deputados estavam na legislatura passada (alguns com cargo na antiga Mesa), é certo também que cabe a atual gestão dar total transparência para que casos simples – como se saber quem são os comissionados por gabinete de deputado estadual – não seja uma informação para qual se precisa de mobilização de uma investigação por parte da imprensa. É direito de a população saber.

O caso envolvendo a deputada estadual Thaise Guedes mostra para o leitor que me acompanha que a cobrança que aqui faço não é sem sentido. Eu a repito: peço ao senhor presidente Luiz Dantas (PMDB) que publique a lista de comissionados identificando as nomeações por gabinete. É algo simples e fácil de se fazer. Basta postar esta lista no www.assembleia.al.gov.br. Parece-me que a dificuldade é criada por parlamentares que não querem expor tal informação. Por qual motivo não querem dar publicidade aos seus comissionados? O que o nome de seus funcionários teria a dizer caso revelados fossem?

Diante desta situação, a Mesa Diretora peca por omissão diante de uma informação que deveria ser pública. Foi por pecados assim que o senhor ex-deputado estadual Fernando Toledo (PSDB) afundou o parlamento estadual em uma crise moral, ética, institucional e de indícios de corrupção que talvez tenha sido a mais grave da Casa de Tavares Bastos. Tanto é que a crise reflete na gestão de agora. Se houver deputados de fato bem intencionados na Mesa Diretora, que estes puxem para si a responsabilidade dos novos caminhos da Casa. Caso contrário, o tempo – este senhor da razão – mostrará que, apesar dos discursos de novos tempos, a reforma da Casa é apenas uma pá de cal. É a Casa (caiada) de Tavares Bastos.

Outro ponto: o caso envolvendo a nomeação no gabinete de Thaise Guedes ainda mostra – de forma prática – um dos motivos pelos quais discordei do primeiro-secretário da Mesa, Isnaldo Bulhões (PDT), quando este disse não haver a necessidade de uma auditoria na folha de comissionados da Casa. Como se não bastasse a histórica “lista de ouro” ser composta por comissionados, eis mais um caso da gestão passada que deixa evidente como a folha de comissionados poderia estar sendo utilizada – tudo indica que há este uso. São indícios fortes – para “lavagem de dinheiro”.

É preciso saber se a torneira foi fechada de fato. Convenhamos que com o histórico da Assembleia, não dá para acreditar em discursos. Só é possível acreditar em práticas que de fato afaste – em definitivo – o passado do parlamento estadual de dentro do próprio parlamento estadual. Tarefa que cabe a atual Mesa Diretora. Porém, a atual Mesa parece não ser muito enérgica no campo das ações, apesar de sempre se dispor a falar no assunto no campo das ideias. Com exceção do presidente Luiz Dantas, que é um tanto quanto silencioso, quando comparado a Bulhões e Ronaldo Medeiros (PT): membros da direção do Legislativo que não se furtam às falas.

Dito isto, analisem o caso de Thaise Guedes:

  1. Os comissionados estavam em seu gabinete, num flagrante exercício de paranormalidade, que é o que permite um corpo ocupar dois espaços ao mesmo tempo desafiando a Física. E o pior, o fantasma das lavadeiras estava na Assembleia sem que sequer seus corpos soubessem. Um fato para o qual nem o maior dos especialistas em assuntos místicos teria a resposta.
  2. Com os esclarecimentos em relação ao gabinete, Thaise Guedes avisou ao Ministério Público Estadual que não era ela a responsável pela sessão espírita que sequestrou os fantasmas das lavadeiras para estes comporem o seu gabinete. Afirmou tê-los exonerados, inclusive.
  3. Se não foi Thaise Guedes, quem comandava (legislatura passada) a mesa branca – ou de magia negra! – do parlamento estadual? É um médium muito importante, pois conseguiu introduzir fantasmas no gabinete de Guedes, sem que ela se apercebesse da casa de horrores oculta na folha de comissionados do parlamento estadual.
  4. Se Guedes com a verdade estiver (ao que tudo indica, ela está!), vejam a gravidade: um deputado estadual – ou ex-deputado (caso tenha perdido o mandato nas eleições passadas) se acha tão esperto, mas tão esperto, que desviou recursos do gabinete do colega, comprometendo-o no futuro. Se Guedes não falou a verdade para o Ministério Público Estadual, aí que ela responda pelo que fez.

O leitor pergunta: mas é possível acreditar em Thaise Guedes? Este blogueiro responde: eu até que acredito, mas aí é com o Ministério Público. Que a verdade seja revelada o quanto antes e quem for o responsável que pague. O motivo pela qual Guedes por ter razão? A própria inexpressividade da deputada estadual diante do histórico da Assembleia e seus filmes trash de terror. Em todo caso, o ocorrido, nos remete a cobrar – mais do que nunca – transparência ao Legislativo e que, urgentemente, publique a folha de comissionados por deputado estadual, para que assim sabíamos quem é quem e onde está lotado.

Seria uma pesquisa interessante para diferenciarmos a atual legislatura da legislatura passada. Seria uma pesquisa interessante nas redações de jornais, inclusive em busca das lotações, dias de trabalho, salários, enfim...afinal, houve um tempo (que espero que já não exista), que o parlamento estadual pagava jogadores de futebol, socialites, empresários, parasitas de luxo com sua folha de comissionados. Um tempo não tão distante.

Que Luiz Dantas possa ler um clássico de Charles Dickens, em que os três fantasmas do passado visitam o personagem principal. Neste caso, o personagem principal seria a própria Assembleia, que quando visitada pelo fantasma do Natal passado, verá as desgraças feitas; quando visitada pelo fantasma do Natal presente, verá o que se cobra...já o futuro, que Luiz Dantas e toda a Mesa Diretora possa escrever com cores bem diferentes...

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