De acordo como presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN), Rodrigo Saraiva Marinho, chegou o momento de o país discutir novas ideias e formas de conceber o Estado e buscar maior liberdade para o cidadão empreender e não ser tão dependente das políticas estatizantes. É com este discurso, que Marinho defende privatizações, as ideias do liberalismo econômico e prega contra o intervencionismo. Ideias polêmicas e que são atacadas pelos que defendem o atual governo federal petista.

Rodrigo Saraiva estará em Maceió neste sábado, 06, ministrando um curso de formação política com base nestas ideias. A aula será no Sindicato dos Médicos (Sinmed), começando ás 8 horas da manhã e se estendendo até o final da tarde. As inscrições podem ser feitas pelo telefone (82) 9990-4100.

“Depois de mais de 21 anos de pensamento estatista, em que o Estado foi muito mais o mal do que a solução é bom observar que pessoas estão indo às ruas entendendo que há outro caminho possível. É hora de montar esta rede e discutir ideias”, sentencia.

 Ao falar do Brasil, Marinho também não enxerga muita diferença entre os partidos que vivem a dicotômica busca pelo poder no Brasil: PT versus PSDB. “O tucano é um petista de terno. O tucano é um petista que se acham mais intelectual. Em todo canto do mundo, a social democracia é uma visão de esquerda. Só aqui no Brasil que é tratado como algo de direita pelo fato dos tucanos entenderem um tantinho assim a mais de economia”.

Conversei com Rodrigo Saraiva Marinho. Confira o papo na íntegra.

Você vem ao Estado de Alagoas depois de ter promovido a Semana da Liberdade em Fortaleza, que contou com grandes nomes com o do escrito Bruno Garschagen, do empreendedor João Carlos Paes de Mendonça, dentre outros. O que representa a Semana da Liberdade que vocês sempre organizam em Fortaleza?

 A primeira grande questão: ela é interdisciplinar. A gente trata de temas diversos, na área de Direito, Economia e Saúde, enfim. E estes temas podem ser apresentados ao público e somando com um diálogo importante. Isto ficou muito claro nos painéis que tivemos na Semana da Liberdade. Na próxima Semana, eu pretendo misturar ainda mais esta interdisciplinaridade, casando temas, como Saúde e Economia juntas, por exemplo. É preciso pensar de forma interligada. É uma Semana importante que tem a organização do Instituto Liberal do Nordeste e do Instituto Mises.

Vocês fundaram agora a Rede Liberdade. O que isto representa?

Bem, a gente conseguiu agora – pela primeira vez – estruturar uma agenda comum, por meio da Rede Liberdade, do movimento com ideias liberais no Brasil. A gente não conseguia ter uma coisa sistemática, mantendo a forma autônoma. Apenas uma forma de organizar e realizar estes eventos.

É aí onde reside uma grande diferença dos movimentos que defendem as ideias do liberalismo daqueles que defendem as ideias da esquerda. Sempre faltou uma organização de como agir, como conquistar representatividade e ao mesmo tempo militância para estas ideias. A esquerda sempre se mostrou mais forte nisto.

É. Mas eu sinto que isto está mudando. A esquerda hoje não tem mais tanta militância espontânea. Hoje, a militância no campo liberal é muito forte. Hoje, a esquerda tem muita militância é paga. A gente tem colocado várias sementes para que estas ideias se propaguem e hoje elas conseguem ser mais bem defendidas no país. O movimento das ideias liberais hoje é muito forte no Nordeste e no Sul. Ela é mais fraca em São Paulo e no Rio de Janeiro, por incrível que pareça.

Você fala da força destas ideias no Nordeste. Ao que você credita isto? Pois o Nordeste é a região onde mais impera a força do Estado por meio de programas, há números mais graves quando o assunto é Educação, enfim...e não menos se espera é a região que mais tem comprado a ideia de liberdade e menos presença estatal. Fora isto, os celeiros intelectuais são tomados por marxistas. Como entender este fenômeno?

Eu acho que o calo aperta mais aqui. O Nordeste, historicamente, também foi a base do pensamento de liberdade no país. Você tem aqui Joaquim Nabuco que é o grande liberal do país. Aqui em Alagoas, há Tavares Bastos. São nomes historicamente ligados a estas ideias. Nomes extremamente importantes. O Nordeste sempre teve uma posição intelectual muito forte. Quando a gente consegue reunir muita gente boa no meio intelectual do Nordeste, como acontece hoje, a gente consegue divulgar com facilidade as ideias. Elas seguem com mais força. É uma turma preparada e a fim de apresentar as ideias. Este movimento só tem crescido efetivamente na Bahia ainda. Mas, há outro lado: no Nordeste a presença do Estado sempre mostra a sua ineficiência. É mal. O Nordeste está mal de segurança, de Educação, de Saúde. Fortaleza é um exemplo disto. Maceió também. São cidades que estão entre as mais violentas do mundo.

Mas quando você fala em liberalismo você encontra quem defende estas ideias muito mais ligadas a uma elite do país. Há uma distância enorme para ser percorrida e mostrar o que de fato são estas ideias para a população. Você tem que romper chavões da esquerda. Ideias pré-concebidas sobre capitalismo, liberalismo, enfim...como romper tudo isto?

Primeiro, você tem que falar em uma linguagem básica que a população entenda. Nós buscamos mostrar como o capitalismo fez bem a pessoas mais pobres. Temos um projeto que é o Capitalismo Em Favor dos Pobres. Hoje tem um projeto nas escolas que apresenta as Seis Lições do Mises no Ensino Médio. Porque no fim das contas é o seguinte: os estatistas querem que estas pessoas mais pobres estejam sempre ligadas ao Estado pedindo favor. O que é que nós queremos? Um país livre onde elas tenham condições de crescer economicamente e gerir a sua própria vida como bem entenda, com autonomia. Nós queremos que as pessoas resolvam suas vidas dependendo delas mesmos, empreendendo. O Estado só atrapalha quando limita as pessoas. Ele não tem como ajudar em nada. O Estado não pode ser visto como um empresário. Ele não é.

Quando você toca neste ponto entra em um palavrão no Brasil: privatização...

Já foi muito mais palavrão. Do ano passado pra cá muita coisa mudou. Se lá atrás eu falasse em privatizar a Petrobras, o pessoal dizia “pelo amor de Deus, não!”. Se você disser isto hoje, as pessoas já param para pensar e dizem: “é, eu acho que você pode ter razão!”. Primeiro ponto, você viu esta semana o Congresso anunciar um projeto de lei para nomear as diretorias de estatais. O Executivo já reagiu e disse: “a função é minha”. Isto já mostra que é apenas uma briga política, que não estão nem aí para o serviço que está lá. O Paraguai anunciou que a razão pela qual a gasolina baixou de preço lá foi por conta da concorrência. E a Petrobras confirmou isso lá no Paraguai. Então, isto por si só mostra que em situações em que você tem um pouquinho de liberdade – basta um pouco – melhorando significativamente a vida das pessoas que passam a pagar menos por determinados produtos. É o caso do sistema de telefonia no Brasil. É suficiente? Não. Porque a gente ainda tem muita coisa regulada. A intervenção é enorme da Anatel nisto. Se fosse mais aberto seria melhor. Mais o pouquinho de liberdade que teve – para eu e você que vivemos a fase antes disto – mostrou os benefícios da concorrência. Privatizar não é apenas necessário não. É essencial para que o dinheiro das pessoas fique mais nas mãos das pessoas e elas mesmas decidam o que querem fazer com ele, sem depender tanto do Estado ou pagando caro por serviços piores. Outra coisa importante: quando uma empresa estatal quebra, a conta é nossa. Quando a empresa privada quebra a conta é de seus credores. O povo só é sócio de uma empresa estatal na hora em que ela está quebrando. Na hora que ela está bem no mercado quem se dá bem é o amigo dos reis e os políticos.

O Brasil já teve uma visão de liberalismo em sua história? Eu busco alguns exemplos e encontrou – na prática mesmo – só o Barão de Mauá, que rapidamente foi destroçado pelo Estado de D. Pedro II. Existiram intelectuais, é bem verdade, como Joaquim Nabuco e Tavares Bastos. Mas é uma visão que nunca se fez presente entre aqueles políticos que de fato pensam o Estado. Ou eu estou errado?

De fato. Talvez, no império tenhamos tido alguns que tinham uma visão liberal, o Mauá citado por você é um exemplo disto. A gente sempre teve como referencial a França e nunca a Inglaterra, se olharmos para um recorte histórico de nossa formação. Aqui, tivemos uma ligação muito forte entre o Estado e os empresários e quando o Estado e os empresários estão juntos, prepare-se: você está prestes a ser roubado. O economista Roberto Campos foi muito feliz quando disse que o liberalismo passou pelo Brasil tão longe quanto o Brasil está de Plutão. Em 2012, o Brasil era o 100º país mais livre do mundo, em 2013, passou a ser o 114º. Agora somos o 118º. Ou seja: estamos nos tornando cada vez mais fechado. Esta crise é em decorrência deste fechamento. O Brasil é o país que menos importa em relação ao seu PIB no mundo. Talvez importe menos que Cuba. A nossa situação é muito perigosa. Culturalmente, a gente sempre achou que tudo pudesse ser produzido aqui, quando investimentos externos funcionam bem, parcerias funcionam bem.

Agora, saída em curto prazo deste cenário que você descreve? Temos? Por que o PSDB me parece ter uma visão estatista também?

Todo partido social-democrata é de esquerda. Só no Brasil que é visto como direita. O PSDB talvez seja apenas a direita de uma esquerda no espectro unidimensional na esquerda. O meu problema não está em ser direita ou esquerda. Meu problema está em ser a favor do Estado. Eu sou contra esta presença do Estado. O Estado não é uma solução. Ele é um problema. O maior entrave para o desenvolvimento do nosso país é o Estado, seja o governo federal que arrecada para depois dividir, seja o estadual que tenta ao máximo burocratizar tudo, seja o municipal que prejudica o coitado do ambulante que está vendendo coco na praia. Existem soluções de curto prazo: revogar um monte de lei. Os passos para o desenvolvimento são: desregulamentar, privatizar, e permitir que haja liberdade imediata para as pessoas empreenderem. Se a gente conseguir isto, em poucos anos a gente consegue ser um país próspero e rico. Agora, não dá para pensar nisto com um burocrata central que vai ficar definindo quem vai ganhar ou quem vai perder. Temos que deixar que empreendedores de fato apareçam e que haja estrutura para que isto aconteça.

Estas são as ideias que vão estar neste curso que você vai ministrar aqui em Maceió no próximo sábado, dia 06?

Sim. Estas e outras que seguem este viés. Eu sou um apaixonado pelas ideias do – para mim – maior economista que o mundo já viu: Mises. Que é um economista austríaco. O grande nome da Escola Austríaca. São ideias que refutam ideias de Karl Marx. Mises deu seis palestras em 1959, lá na Argentina, e estas viraram um livro chamado As Seis Lições. Eu vou falar sobre capitalismo, socialismo, inflação, intervencionismo, investimento externo e políticas e ideias. Devo ainda falar sobre os insights que Mises teve. Ele apresenta as ideias de forma muito simples. As Seis Lições para mim é a pílula vermelha que foi apresentada – no filme Matrix – para o Neo e consegue acordar. Informações que são simples e profundas. Vamos apresentar esta visão que o Brasil tem em relação ao intervencionismo. O próprio Marx já dizia: quer acabar com o capitalismo então coloque imposto, imposto, imposto. São estas ideias de Marx que tomam conta do país hoje. Teremos um curso longo de formação, que não é uma coisa pontual de uma palestra. É um diálogo de um dia inteiro para uma formação maior. Esta é a ideia do Instituto Mises também. Quem sabe – em um futuro próximo – termos um curso de especialização, um curso de economia com base na Escola Austríaca. Quem sabe até um dia a Universidade Mises Brasil. 

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