Alegria, satisfação, orgulho – era o que se via na expressão desses meninos e meninos de povoados ribeirinhos e assentamentos dos municípios Pão de Açúcar e Piranhas, no alto Sertão, localizados às margens do baixo rio São Francisco. No sábado (30), final do mês de maio, eles festejaram o encerramento das oficinas do projeto “Ampliando Saberes”, que o museu Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea, com sede em Maceió, levou – a exemplo de outras ações que vem desenvolvendo desde 2008 – para essa região que é celeiro de arte e cultura popular. A criançada fez aulas com mestres escultores e designers populares de móveis, e também com exímias bordadeiras dos dois municípios, durante os meses de abril e maio.
As oficinas de escultura em madeira foram conduzidas pelos principais mestres artesãos de Pão de Açúcar: Petrônio Farias, do assentamento Riacho Grande, os irmãos Aberaldo e Antônio Sandes mais Valmir Lima, Zé de Tertulina e Vandinho, estes do povoado às margens do São Francisco, Ilha do Ferro. As aulas de bordados ficaram entre Rejânea, da Ilha do Ferro, e Roseane Lisboa, de Entremontes, outro povoado ribeirinho, este localizado em Piranhas.
“A ideia das oficinas era transmitir esses saberes, para que eles não se percam e sejam assimilados pelas novas gerações. O público inicialmente previsto de jovens acabou se ampliando para as crianças e também adultos, como a Dona Morena, de 89 anos, que fez questão de participar”, diz a artista visual Maria Amélia Vieira, mentora dessas ações de arte educativa no Sertão, junto com o marido, o também artista Dalton Costa.
Com patrocínio da Caixa Econômica Federal, as oficinas do museu Coleção Karandash – cujos projetos se desdobram com o barco Museu no Balanço das Águas, ancorado em Pão de Açúcar – excederam a expectativa, revelando meninos e meninas muito talentosos, que apresentaram no sábado uma incrível produção de bancos, bonecos, passarinhos, cobras e lagartos, feitos em madeira, tudo muito colorido a irradiar beleza e graça.
O menino Dudu, de nove anos, estudante da terceira série, diz que não quer ser doutor nem engenheiro. “Gosto de fazer essas esculturas. Eu já fazia arara e agora aprendi a fazer camaleão, cobra e outros passarinhos”, explica, esboçando um sorriso tímido, mas cheio de orgulho do sucesso que obteve com as pequenas esculturas que apresentou. Maria Amélia correu para comprar os passarinhos dele.
“Um colecionador tem esse olhar de buscar as coisas que lhe interessam. Fiz questão de comprar esses passarinhos do Dudu, pois quando ele ficar adulto e se tornar um artista famoso, eu já bem velhinha vou dizer: ‘Olha, eu comprei as primeiras peças daquele moço’. É assim que funciona. Os meninos da oficina de Aberaldo também trouxeram um trabalho muito interessante. Eu fiquei apaixonada pela releitura que eles fizeram da obra de Aberaldo, esses fradinhos que depois viraram ex-votos. Ficou lindo e original”, comentava a incansável agitadora cultural da galeria e museu Karandash, reunida com alunos e mestres na casa de Rejânea, que funcionou como uma das centrais de oficinas na Ilha do Ferro.
“Entre os meus alunos”, emendou Petrônio Farias, “você encontra vários estilos. Esse menino Marcelo tem um detalhe de pintura muito interessante e o Dudu é mesmo muito esperto. Muitos têm futuro. Vamos ver se dão sequência porque uns começam e depois param. Mas vamos continuar incentivando. Em setembro, participaremos em Maceió da Feira da Reforma Agrária.”