Em outubro deste ano, o historiador Marco Antônio Villa – autor de Década Perdida, que faz uma análise dos anos do governo petista – lançará, pela editora Record, uma obra em que aborda a trajetória do governo do ex-presidente e senador alagoano Fernando Collor de Mello (PTB), que foi do ano de 1990 ao de 1992.
O governo Collor é apresentado nos livros de história como marcado pela corrupção. Por vezes, em muitas campanhas presidenciais – como a de 2014 – políticos costumam comparar seus adversários a Collor na busca por desqualificá-los. A prática foi usada pelo próprio PT quando comparou Marina Silva e o falecido Eduardo Campos a Collor de Mello. E olhe que Fernando Collor e o PT são aliados.
Marco Antônio Villa esteve com Fernando Collor de Mello recentemente para uma entrevista para o livro. Uma das perguntas de Villa era justamente sobre como o senador petebista viu sua passagem pela imprensa. O senador alagoano afastou o rótulo de “governo corrupto”. “O meu governo foi o que permitiu hoje a toda essa juventude a lidar com todos os objetos típicos da modernidade, como o celular e o computador. Poder desfrutar de veículos que podem ser hoje considerados mundiais, de poder estudar fora com facilidade, enfim...foi o governo da abertura comercial. Foi o governo que promoveu a nova abertura comercial que proporcionou ao Brasil ter hoje benesses a ser considerado um parceiro comercial”, frisou Collor.
Ao falar das denúncias, o senador do PTB frisou que todas elas – como sempre faz – foram derrubadas pela Justiça, mas trouxe para si a responsabilidade de ser o criador de leis de combate à corrupção no país. “Grande parte da legislação anticorrupção foi por mim criada como presidente da República. Então, alguém que promove isto não pode querer cometer atos desairosos. Meu governo foi o do salto adiante que o Brasil deu para a integração competitiva. Fez com que a nossa indústria se tornasse mais competitiva”.
Villa também aborda uma possível “sociedade” entre Collor e Paulo César Farias nos casos de corrupção. “Isto nunca aconteceu. Melhor que minha resposta são as decisões tomadas pela Justiça. Nada disto aconteceu ou existiu na minha relação com o senhor Paulo César Farias”, diz Collor.
Para Collor o impeachment está “muito bem explicado” em sua própria consciência. “Fica muito patente, muito claro, que todo esse processo tem como origem os interesses contrariados pela minha ação de governo e que se manifestaram de maneira contundente por parte do empresariado nacional e que desaguaram essa insatisfação no Congresso Nacional. A legislação foi violada em vários momentos. Eu disse isto em meu pronunciamento no Senado Federal. Isto demonstra de forma clara que o que houve foi um movimento político para depor um presidente legitimamente eleito pelo voto popular. O vitorioso foi um candidato que vem do Nordeste e que debate assuntos nacionais com os cabeças coroadas da época”, colocou Fernando Collor.
De acordo com o ex-presidente, houve preconceito e despeito nas decisões tomadas contra ele na época. “Meu governo quebrou as amarras do Brasil com um Brasil quase colonialesco e que tinha vergonha de se mostrar para o mundo como o parceiro confiável que hoje o é. Foi um golpe parlamentar”. A medida do impeachment – ainda segundo ele – “foi um golpe parlamentar casuístico urdido na classe empresarial”.
Erro
Collor diz ainda que o maior erro que cometeu foi não ter dado importância ao Congresso Nacional. “Importância que ele tem, precisa e merece. Nós julgávamos ser capazes de mudar o Brasil do dia para a noite. Nosso voluntariamos fez com que os interesses contrariados fossem muito e contrariou a classe política. Achávamos que podíamos governar sem o Congresso. Isto numa democracia é impossível. O melhor projeto que um presidente pode ter é o que tenha aprovação do Congresso Nacional”.
O presidente também avaliou a construção da aliança com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT). “Eu disse que apoiava o governo Lula, quando me elegi a primeira vez, porque é o ponto crucial do presidente Lula é ter evoluído na sua avaliação sobre seus conceitos e posicionamentos e está conformado dentro dos preceitos da agenda que eu criei em 1990. O Lula evoluiu para uma posição contemporânea. Está adequada as necessidades do Brasil em um mundo novo que se confirmou depois de 1989, com a queda do muro de Berlim. Se eu não ao apoiasse em 2007 estaria contrário a agenda que eu mesmo inaugurei em 1990”.
Collor se definiu como alguém de “pensamento liberal”. “É público e notório isto e continuo pensando da mesma maneira em relação à conformação do Estado brasileiro, relações internacionais, fortalecimento democrático. Penso da mesma forma e da mesma maneira. Depois da Carta aos Brasileiros, Lula se aproximou da minha agenda de governo. Ser contra esta agenda é ser contra o que penso. Por isto ofereci meu apoio ao seu governo”.
“Eu não guardo rancor. Mas, isto é algo que eu faço mais em respeito a minha saúde que a meus adversários. O rancoroso é desinteressante na convivência. E eu quero viver muitos anos e poder dialogar com todos”, salientou ainda.
Ainda não foi divulgado o nome do novo livro de Villa que aborda justamente a Era Collor, mas é mais uma obra a tentar colocar luzes sobre um período recente da história brasileira que trouxe o impeachment para o vocabulário da política local.
Recentemente, Collor também figura nos noticiários locais por conta da Operação Lava-jato. Ele é acusado de receber propina em negociações envolvendo a Petrobras. Fernando Collor alega inocência e – por conta das denúncias feitas pelo Ministério Público Federal – comprou uma verdadeira cruzada contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
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