Mais uma vez o presidente do Senado Federal, o senador alagoano Renan Calheiros (PMDB) – fazendo jus ao fato de ser apontado como um dos homens mais influentes da República – surge como peça principal no tabuleiro do xadrez político do país. E em um momento crítico em que a presidente Dilma Rousseff (PT) está acuada pelos escândalos de corrupção e uma tempestade perfeita devido a ausência de rumos de seu governo.
Calheiros, que passou por um “inferno astral” por conta do escândalo dos “bois de ouro” em passado recente, ressurgiu das cinzas e recuperou a força em Brasília (DF) quando muitos acharam que ele sequer seria reeleito no ano de 2010 em função dos escândalos políticos que o envolveram.
O peemedebista não só retornou ao Senado Federal como ocupa a cadeira de presidente do Congresso Nacional pela segunda vez. Se há algo que Renan Calheiros sempre soube fazer foi a leitura correta de para onde aponta o vento e qual a melhor posição para ficar no tabuleiro do xadrez em meio às turbulências. Agora, com experiência política e influência se torna o principal rival de Dilma.
É esta análise que a Revista Época traz.
Renan Calheiros percebe o momento de completa fragilidade da presidente Dilma Rousseff (PT), além – evidentemente - da rejeição da chefe do Executivo junto à opinião pública e o vácuo de poder deixado, que faz com que o PMDB – nas figuras do próprio Renan Calheiros, do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), e do vice-presidente Michel Temer (PMDB) – seja o mandatário. Não é por acaso que os peemedebistas já projetam uma candidatura própria do partido em 2018.
Eis alguns dos motivos que levaram Renan Calheiros para a capa da Revista Época nesta semana. Nas páginas da reportagem, o título em letras garrafais: “O maior inimigo do governo Dilma”. A questão é o que isto significa para o país em um momento em que o governo federal acumula escândalos de corrupção, desgastes, crise econômica, crise política e ética.
Afinal de contas, é um governo federal que “colhe a tempestade que plantou”. Um governo de máquina inchada pelo fisiologismo que alimentou, o que de certa forma também contribuiu e muito para a ineficácia dos serviços públicos, o aparelhamento das estatais e a corrupção endêmica que tomou conta do país. É a isto que Dilma Rousseff responde.
Todavia, Calheiros está longe de ser um “herói” ou um opositor. E ao falar sobre independência do Congresso Nacional é válido lembrar que o peemedebista já funcionou como “rolo compressor” para impor algumas visões do governo, como por exemplo a questão da meta fiscal e a própria eleição da Mesa Diretora. Mais que isto: sempre soube das filosofias do governo e apoiou a reeleição de Dilma defendendo veementemente este projeto que aí está.
O “novo” Renan Calheiros – que tem se posicionado de forma mais dura do que opositores de Dilma – na verdade é uma reação, conforme a reportagem. Calheiros tem se sentido “traído pelo Planalto, isolado pelo PMDB e acossado pelo Ministério Público Federal” por conta do suposto envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras denunciado pela Operação Lava-jato.
Recentemente, Calheiros teve que se antecipar a um pedido de quebra de sigilo bancário afirmando que encaminharia tais informações ao Supremo Tribunal Federal (STF) antes mesmo de qualquer decisão judicial. Este é o Renan Calheiros que parte para o ataque e que – silenciosamente – pode trabalhar para derrubar Luiz Fachin, o indicado para a cadeira vaga do STF.
É com este espírito – segundo Época – que Calheiros conduziu a PEC da Bengala de forma casuística para impedir que Dilma Rousseff indique novos ministros nos próximos anos. Não há como negar que Renan Calheiros por vezes age em conformidade com o que pensa parte da opinião pública e se transforma em um “mal necessário” fazendo um contraponto a hegemonia política que o Partido dos Trabalhadores deseja.
O fato é que a relação entre PMDB e PT é tensa. A relação entre Renan Calheiros e o governo é mais tensa ainda do ponto de vista que as mágoas – segundo a revista – o levaram à oposição ainda mais barulhenta. A Revista Época chega até a elencar o que seriam as “maldades de Renan Calheiros”. Por sinal, já há em bastidores, quem diga que a leitura de Renan Calheiros pode ser a de que o PT influenciou, como fonte, na publicação da reportagem.
Como agirá o Executivo em relação a Renan Calheiros? Sempre foi um aliado de primeira grandeza para quando Dilma Rousseff precisou aprovar matérias no Senado Federal. O Palácio do Planalto tenta agradar Calheiros com nomeações ainda que sem sua anuência. O presidente do Senado também tem reclamado de falta de ajuda ao governador Renan Filho (PMDB). Será que seria a hora de um olhar diferente para o filho de Calheiros? Um afago diante da atual situação?
Nem Michel Temer escapa das mágoas de Calheiros. Para o peemedebista alagoano, o vice-presidente é um articulador político que só fala em “cargos”. Segundo bastidores, Calheiros ainda pode ter um amigo nas ofensivas ao governo: o senador Fernando Collor de Mello (PTB).
Em oito páginas, a Época tenta trazer uma radiografia desta novela indigesta para o brasileiro, o cidadão comum, o mero mortal, que promete novos capítulos. Uma novela que tem como personagens Renan Calheiros, Dilma Rousseff, Eduardo Cunha, Michel Temer e outros mais que atravessam o caminho.
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