A indicação do vice-presidente Michel Temer (PMDB) para ocupar o Ministério das Relações Institucionais repercute em Brasília (DF). O receio da oposição é que – refém do PMDB – o governo federal trabalhe em conjunto com o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), para construir uma coalizão que deixe o Congresso Nacional mais “alinhado ao” Executivo. Assim, se torne mais fácil passar as pautas do interesse do governo petista.
Entretanto, o PMDB vai apresentar a fatura ao se colocar como maior partido desta coalizão que tenta ser construída com os aliados. O partido de Renan Calheiros quer poder de decisão dentro do governo. Michel Temer e Renan Calheiros passam – conforme bastidores – a atuar de forma muito próxima dentro deste momento. Não é por acaso que o senador alagoano já deixou claro que este é um “momento de virada” para a gestão de Dilma Rousseff.
A questão é o que representa esta virada? Uma virada para o PMDB e só? Por enquanto é apenas o que se avizinha...
Rousseff – completamente isolada e sofrendo com a queda de popularidade vertiginosa – pede socorro aos aliados com quem vive as turras. Aliados estes que também possuem seus problemas, em função da Operação Lava-jato. Os presidentes das duas casas legislativas – o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) e Calheiros – foram atingidos em cheio pelos pedidos de abertura de inquéritos feitos pela Procuradoria Geral da República.
Falei sobre os desdobramentos da indicação de Temer neste blog. Em postagem anterior. Para a oposição, Michel Temer eleva o PMDB e o coloca como agente de decisões do governo no campo político. No campo econômico, a responsabilidade fica por conta do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Dilma Rousseff – a presidente acusada - fica esvaziada de sua função. Uma crítica neste sentido foi feita pelo deputado federal Mendonça Filho (DEM).
Com Temer no comando das articulações políticas pode melhorar a relação entre o Executivo e o Legislativo? Certamente vai. O PMDB se comportará mais como aliado do que como oposicionista? Certamente que sim! Entranhado de vez no Palácio do Planalto, o PMDB é mais do que nunca de fundamental importância para uma governabilidade que anda esgarçada. Eis o temor natural da oposição.
Michel Temer – com todas as atribuições da Secretaria de Relações Institucionais – terá em mãos todos os cargos do segundo escalão do governo para distribuir conforme as necessidades. Em terreno onde o fisiologismo impera e o PMDB é expert em dar as cartas deixando o governo refém, a indicação de Temer também não deixa de mostrar o quanto Dilma Rousseff anda enfraquecida dentro de seu próprio Palácio.
Para qualquer horizonte que a presidente olhar se avistam problemas, tempestades. Tentou se livrar do PMDB, o partido voltou mais forte. A relação entre PT e PMDB sempre será de tensão. Não bastasse o momento político, a inflação em alta – o registro de março foi o pior em 20 anos – faz com que a maioria dos brasileiros (constatado em pesquisa) olhe o atual governo com desconfiança e indignação. O “almoço grátis” distribuído pela gestão petista com finalidade eleitoral cobra a conta. Alta nos preços. Energia elétrica e combustíveis são dois dos fatores que mais ganham o noticiário, mas não são os únicos.
O PMDB pode ter conseguido um espaço político interessante: uma coalizão onde terá mais peso nas decisões do governo. Sendo assim, apitará na condução da máquina, mas distante do ônus que assombra Dilma Rousseff. Afinal, o lado do partido atingido pela Operação Lava-jato – mesmo sendo caciques de peso – está no combalido Congresso Nacional.
O astuto PMDB buscou a tensão com o governo federal para se tornar força essencial à coalização. E assim ficar com poder de decisão, ter Michel Temer comandando cargos do segundo escalão em terreno de fisiologismo, ajudar na condução da máquina, mas se mantendo longe do ônus que assusta a presidente Dilma Rousseff (PT).
Quase um mundo perfeito. Reforça uma tese que venho colocando aqui: o PMDB não é oposição nem situação. O PMDB é um partido que sempre será apenas o "si mesmo". Faz-se de mal necessário quando briga pela independência do Congresso Nacional. Mas, fica aberto ao flerte para apresentar sua fatura em meio a uma paquera fisiológica.
Michel Temer se torna um bombeiro com dois caminhões tanque. Um cheio de água. O outro com gasolina. Agora é só pendurar a biruta no teto do ministério e esperar o vento. É hora de lembrar de algumas posturas assumidas pelo PMDB quando se mostrou birrento. O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, defendeu o corte de ministérios e redução de cargos ao falar de ajuste fiscal.
O presidente Eduardo Cunha – para se tornar presidente da Câmara de Deputados – prometeu mais independência e impôs, com sua eleição, uma derrota ao Partido dos Trabalhadores. Ambos já se posicionaram de forma bastante crítica ao governo. O partido de Renan Calheiros precisa também saber que há um ônus para quem se comporta ao sabor dos ventos e das tempestades.
Nada de novo no front a não ser o xadrez que o PMDB joga. É só! Enxadrista é o que não falta no partido de Calheiros.
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