Suruagy foi dono da sua história

23/03/2015 11:25 - Voney Malta
Por Voney Malta

Podemos contar nos dedos de uma mão os políticos alagoanos que viveram de forma tão intensa o auge e a queda em sua atividade quanto Divaldo Suruagy. Ele começou como servente na Prefeitura de Maceió, foi auxiliar de escritório, e assim foi crescendo na atividade ao assumir novos cargos. Depois deu um salto.

Foi Prefeito de Maceió de 1965 a 1970 (PSD), deputado estadual entre 1971 e 1973 (ARENA), federal de1979 a 1983 (ARENA) e governou Alagoas de 1975 a 1978 e de 1983 a 1986 (PDS). Foi ainda Senador (Constituinte)- 1987 a 1990 (PFL) e de 1990 a 1995. Voltou a governar o Estado de 1995 a 1997 (PMDB) e deputado federal de 2001 a 2003 (PMDB).

De estilo conciliador, preferia o entendimento e a conversa, em qualquer situação, ao confronto. Efetivamente sabia como exercer o poder, tanto que teve uma atividade longeva. Porém, as decisões tomadas na política são para que o indivíduo permaneça no comando.

Ao ser convencido pelo seu grupo político para disputar à eleição de 1994 e sair vitorioso quase como unanimidade, pareceu que a situação social e econômica de Alagoas estava acima de sua capacidade. Foi impossível para o homem que iniciou a sua trajetória como servidor público e que depois empregou milhares de famílias aceitar tomar duras decisões contra os servidores, contra a sua base eleitoral.

Em 17 de julho de 1997 milhares de servidores foram às ruas em protesto contra a sua administração. Antes desse dia havia relatos de suicídios de funcionários públicos por conta da crise. Suruagy era culpado, era responsabilizado por tudo e por todos, logo ele que fora candidato para “salvar” o estado.

Nesse dia, depois de acompanhar a confusão na Praça da Assembleia, os protestos, risco de confronto, homens do Exército armados, eu e o repórter cinematográfico Valdemir Soares seguimos para a sede do Governo. Não sei por qual motivo, por lá apenas nós dois, da TV Alagoas. Nem imaginávamos que iríamos testemunhar importante momento da história.

Apenas a nossa equipe conseguiu registrar Suruagy – que estava se licenciando do cargo – passar o comando para o vice, Manoel Gomes de Barros, que ele mesmo escolhera e a quem dera imenso poder no seu governo. Pois bem, registramos no gabinete Suruagy se levantar e seguir por um corredor interno, escuro, que leva ao estacionamento onde um carro o aguardava.

Ele foi acompanhado por nós e por Mano, que, emocionado, chorava silenciosamente. Dava pra notar que Divaldo Suruagy também estava emocionado, mas conseguia se controlar. Ele entrou no carro, que começou a se deslocar, enquanto nós acompanhávamos até que desapareceu de nossas vistas.

O governador acreditava que voltaria ao comando após cumprir a licença. Isso nunca ocorreu. Aquela foi a última vez que ele chefiou Alagoas.

Assim é a política. Assim é a história. Ódio e amor. Passado e presente. Vitória e derrota.

 

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