Conversei com o ex-governador e deputado federal Ronaldo Lessa (PDT) - que é de um partido que integra a base da presidente Dilma Rousseff (PT) - sobre a atual situação vivenciada em Brasília (DF), no clima de “tempestade perfeita”. Lessa faz críticas ao Executivo federal e avalia que a presidente Dilma se desgastou ao tentar empurrar toda a crise para o Congresso Nacional, “que já tem uma imagem ruim”. 

De acordo com Ronaldo Lessa, o Executivo petista tem errado por não conseguir construir um governo de coalizão, diante do fato de Dilma Rousseff e o PT tomarem as decisões de forma solitária e depois simplesmente encaminharem “pacotes prontos” para serem aprovados pela base. “Aí fica difícil. Se o PT só toma decisões sozinho, não queira o partido que a base assuma o ônus do governo”, salienta Ronaldo Lessa. 

“O que não pode é as coisas acontecerem ao sabor de reações do tipo: aconteceram as manifestações no domingo e a presidente Dilma manda um pacote para o Congresso Nacional sem discutir com ninguém”, complementa ainda o pedetista. Ao falar sobre o assunto, Ronaldo Lessa ainda exemplifica: “a minha preocupação é que não seja tudo assim. Recentemente, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, apresentou o pacote de anticorrupção. Com 48 horas? Eu acho que era preciso criar uma Comissão - com a base aliada - para, dentro de um prazo, apresentar uma proposta. Não é isto que o presidente da Câmara, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) tem dito: não é um briga por cargos, mas por um governo de coalizão. Antes do PT tomar suas medidas que dialogue com a base”

Para Ronaldo Lessa é preciso que a presidente adote uma postura mais humilde para sair da crise. “Assim você tem propostas não são apenas do PT, nem apenas da Dilma, mas da coalizão, que envolve outros partidos como PMDB, PT, PDT, PCdoB e outros partidos que também assumem o ônus deste governo”. 

“É por meio dos políticos e dos partidos que deve se encontrar uma saída. É corrigir problemas que a democracia não corrigiu até agora. Tem problemas o nosso sistema democrático? Tem. Mas é melhor assim que numa ditadura. A presidente Dilma está tentando. Estamos sentindo da presidente a vontade de reagir diante das vozes da rua, mas precisa ser feito com mais diálogo. Quando chega na base, as propostas do PT, sem diálogo é difícil passar. Falo pelo PDT - inclusive - que está rachado. Tem sido difícil. Uma parte vota, outra não vota. Até para ser líder de bancada está difícil. Estamos vivendo uma crise que não tem saída se não for pelo diálogo”, explicou.

O pedetista reforça ainda que espera “que estas pancadas façam com que a presidente Dilma acerte mais decisões e se estabeleça com mais força, não no sentido de arrogância. Pois, muitas ações pareciam arrogância e isto atrapalhou até. A humildade que ela começa a apresentar agora - nas declarações - pode ajudar o processo”.

A presidente Dilma - segundo Lessa - em meio a esta crise que ela vivencia teve uma frase feliz ao fazer a comparação entre a democracia e o período da ditadura militar. “Ela disse: muitos morreram para que isto pudesse existir. E eu vivi esta época de pancadaria. Construímos um Estado de Direito em que as pessoas vão para a rua e a polícia estava para proteger os manifestantes. Você tem a polícia do seu lado para se manifestar e até pedir a saída da presidente. Isto é um avanço”.

Para Lessa, não há nada de concreto - entretanto - que justifique o impeachment da presidente. “Agora, pedir que ela vá embora é um direito que pessoas possuem. Qual é a posição do PDT? A posição de que optamos por aquilo que entendemos que ainda é o melhor projeto para o Brasil. Agora queremos que este governo possa nos permitir está mais dentro dele para respondermos juntos. Queremos nos sentir responsáveis, mas para isto precisamos participar das decisões. O PDT se sente isolado, sem se sentir corresponsável pelo governo. É assim que se encontra saídas e se dar respostas concretas à sociedade, nos casos que envolvem o combate à corrupção, esta crise econômica que precisa achar soluções sem atingir tanto os trabalhadores, a classe média, enfim”.

Indaguei Lessa se a presidente não teria cometido um estelionato eleitoral durante a campanha. “Que houve bravatas da Dilma, houve. Dizia que não ia aumentar a conta de luz e foi o contrário, que não ia aumentar juros e aumentou. Então, deu tudo errado. Esta é a grande verdade. A oposição está se apegando a isto. Foi um momento eleitoral? Foi. Foi bom para o Brasil? Não foi. Agora a presidente está pagando um preço pelo que fez. O fato é que existe esta realidade e tem que serem feitas as medidas que são menos amargas. O PDT tem a obrigação de defender a classe trabalhadora diante desta realidade. Ela tem que enfrentar. Não tem outra saída. E respeitar o povo que quer que ela saia, mas eu vejo também que há uma coisa orquestrada pela oposição. E é um direito que a oposição tem de se organizar e pedir a saída da presidente. Se o PT estivesse na oposição estava fazendo isto também”. 

A conversa com Ronaldo Lessa também incluiu análises dele sobre o governo estadual e sobre a Prefeitura de Maceió. Trarei estes assuntos em outra postagem em breve.

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