Dando continuidade a um debate sobre as manifestações que estão agendadas para o próximo dia 13 e 15 de março, conversei – na manhã de hoje, dia 11, na Rádio Jornal AM-710 – com a presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Amélia Fernandes, sobre os objetivos do evento da próxima sexta-feira.
No dia 13, a manifestação defende o projeto encampado pelo governo federal. No dia 15, o Movimento Brasil Livre, cujos coordenadores conversaram comigo no dia de ontem (matéria aqui no blog), apresentaram suas razões para irem às ruas contra o que consideram desmandos do governo e até mesmo pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Ao falar da manifestação do dia 13 – que contará com o apoio de diversos movimentos, como o MST – Fernandes saiu em defesa do que chamou de “autonomia da CUT”. Evitou classificar o protesto como governista e frisou que a Central Única não é “chapa-branca”. “Não estamos fazendo uma manifestação em defesa do governo federal, mas em defesa de um projeto. De um lado está um projeto que beneficiou milhões de trabalhadores. Do outro, um que beneficiou as elites deste país”, colocou a presidente da CUT.
“A CUT não é chapa-branca. Ela tem autonomia e escolheu defender um projeto que é dos trabalhadores. Nós também temos críticas a este governo e vamos brigar para que os trabalhadores não tenham direitos e conquistas desrespeitadas. Apenas não admitiremos retrocesso, pois sabíamos o que era antes do governo Lula. Antes de 2002 não havia programas como temos hoje”, justificou ainda Amélia Fernandes. As manifestações – tanto do dia 13 quanto do dia 15 – ocorrem em todo o país.
Amélia Fernandes ainda disse que o atual governo não é um governo do PT, mas de coalização e criticou a abertura demasiada de espaços para partidos aliados. Ao voltar ao tema das manifestações, ressaltou: “o que vivemos hoje é democracia. Nas manifestações é a liberdade de expressão que é defendida e somos contra a interrupção do direito de ir e vir. Faremos tudo de forma pacífica demonstrando o que pensamos”, salientou.
Ao ser indagada sobre os recentes bloqueios feitos pelo Movimento Sem Terra e demais organizações que se apóiam na bandeira da reforma agrária, ressaltou: “é legítima a organização dos trabalhadores para lutar por direitos e ampliações de conquistas, mas o foco tem que ser a crítica ao gestor. Somos contra trazer prejuízos a sociedade. Às vezes – infelizmente – a intransigência de alguns gestores acabam gerando isto e faz com que se fechem ruas”.
Fernandes disse ainda que as manifestações que são puxadas pela CUT e outros movimentos também defendem a Petrobras e lutam contra a corrupção. “Querem fragilizar a Petrobras por conta do capital estrangeiro. Tem que moralizar a Petrobras, mas saber que ela pertence ao brasileiro".
Sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, quem fala é o sindicalista Cícero Lourenço. Ele diz que há duas questões: “algumas agremiações políticas que dão sustentação aos movimentos pelo impeachment não tem coragem para dizer que são favoráveis porque não possuem elemento suficiente. Querem o impeachment porque perderam o direito de governar quando a população elegeu um projeto que não atende apenas a classe mais abastada deste país. Este projeto tem a clareza que a classe trabalhadora conseguiu ter acesso ao menos um pão por dia que foi conquistado neste governo. Somos contra a tentativa de destruir um projeto de inclusão e coloca o pobre para ter mais Educação, leva um pobre a estudar em qualquer lugar do mundo. Nós somos contra o impeachment neste momento por conta do projeto que foi construído pelo Partido dos Trabalhadores que os sindicados participaram ativamente. Há vários problemas que é preciso consertar o rumo".
Lourenço ainda disse que a luta é por um projeto socialista no país. “Ofende-me quem diz que por isto sou um adestrado. Sou adestrado por defender uma sociedade mais justa e que valorize a classe trabalhadora”, ressaltou. Apesar das críticas ao mérito das manifestações opostas do dia 15 de março, Lourenço diz que a CUT respeita o movimento de brasileiros que se reuniram contra o governo. “Casa um se manifesta livremente pelo que acredita ou por seu projeto”.
Indagado sobre a presença dos movimentos sem terra nesta pauta puxada pela CUT diz: "O MST está compreendendo esta tarefa e participa conosco desta jornada que se inicia dia 13 em defesa da liberdade, da Petrobras, da não abertura da capital da Caixa Econômica Federal. E dizer ao governo que não concordamos com reforma que prejudique a classe trabalhadora".
Para Lourenço, não há indícios – apesar dos depoimentos que apontam que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) sabiam do esquema na Petrobras – “de envolvimento da presidente com os escândalos”. Todavia, indaguei os sindicalistas o que havia mudado de 1992 para cá, pois eles haviam sido favoráveis ao impeachment do ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB).
Lourenço responde: “em 1992 foi um pedido de impeachment em um momento histórico onde não era defendido o projeto dos trabalhadores”. Vale ressaltar que movimentos sindicais e o PT também pediram impeachment do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Porém, afirmam diante das indagações em relação à atualidade: "defendemos a democracia. Não podemos atropelar a democracia".
Para quem quiser saber um pouco mais sobre as manifestações, em postagem anterior – neste blog – falei sobre as concepções envolvendo o Movimento Brasil Lira (MBL).
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