Em entrevista a este blog, o secretário Estadual de Educação e vice-governador, Luciano Barbosa (PMDB), disse que, em relação ao transporte escolar, havia uma farra com o dinheiro público e apontou – obviamente para a gestão tucana. A acusação é grave, ainda mais quando se sabe que tantos nomes passaram pela pasta no governo passado. Cito três: Rogério Teófilo (PSDB), Adriano Soares e o Fábio Farias (PMDB) (o primeiro secretário ainda na primeira gestão de Teotonio Vilela Filho (PSDB)).

Logo, o PMDB já teve acesso a esta situação lá atrás. A pergunta que faço é: Farias – enquanto secretário de Educação – concordava com a forma como era feita o transporte escolar em Alagoas? Acho que havia – já naquela época – uma “farra com dinheiro público”?

Há – portanto - detalhes importantes. Por vezes, deixamos de lado porque a memória nos trai. Nesta questão envolvendo os contratos da Educação para o transporte escolar na Era Vilela, uma pergunta: o PMDB comandou a pasta da Educação no governo de Teotonio Vilela Filho com o então secretário Fábio Farias. No atual governo do PMDB, ele é o chefe da Casa Civil.

Fábio Farias foi indicado secretário pelo senador Renan Calheiros (PMDB) - ao que me consta - na primeira gestão de Vilela. A indagação é: como eram os contratos do transporte escolar neste período? Claro que os erros históricos recaem sobre as costas do governo tucano nesta aérea. Não é de hoje que digo que se avançou pouquíssimo em Educação nos últimos anos em Alagoas.

Claro que agora torço pelo êxito da gestão de Luciano Barbosa. O secretário demonstra competência administrativa e articulação política que pode resultar em um excelente trabalho. Além disto, está cercado por pessoas competentes e bem intencionadas. Cito uma, Eduardo Setton, que fez um belo trabalho - em minha visão - na pasta da Ciência e Tecnologia.

Quem me acordou para a indagação que faço aqui foi o advogado e ex-secretário Adriano Soares da Costa em uma publicação que havia feito em suas redes sociais, ao lembrar que ao jogar todo o passado como uma "farra com o dinheiro público travestida de transporte escolar" se coloca em xeque todos que teriam concordado - por omissão ou ação - com esta "farra" de sua gênesis até então...

Eis o que diz o ex-secretário Adriano Soares: “vou novamente enfatizar um dado econômico: o contrato de transporte escolar do Estado era um dos mais baixos do país. Na educação, tudo é calculado "per capta" por aluno ou por quilômetro rodado. A ordem de grandeza é a unidade. Depois se multiplica pelo volume necessário de recursos”.

Ele ainda frisa: “então, quando se fala em milhões mascara o debate, porque todos os gastos na educação são elevados. Dou um exemplo: merenda escolar é R$ 0,32 por aluno. Multiplica-se valor por quantidade de alunos e se chega ao custo. Vai para milhões. O ideal era aumentar esse valor per capta. Mas não se tinha dinheiro. Então, é distorcer a realidade quando se fala em números totais de um contrato sem expor a composição dos preços. Gera a impressão de "farra", quando havia preço retraído em comparação com outros Estados ou mesmo com municípios alagoanos”.

Adriano Soares ainda faz o retrospecto da Educação no período do governo passado: “o Fábio Farias foi um competente e dedicado secretário de Educação. As críticas feitas ao modelo existente de transporte escolar, que vem desde a época do governo Ronaldo Lessa, não procedem”.

“Você verá o problema sério no interior. Nem o Fábio Farias, nem o Rogério Teófilo, nem eu, conseguimos municipalizar o transporte; onde conseguimos, houve muitas ocorrências negativas: falta de repasses às prefeituras do recurso federal por ausência de certidões, ausência de identidade de horários entre escolas de redes distintas, só a título de exemplo. Fábio Farias, em particular, dedicou-se ao tema, mas a implementação foi impossível, como ocorrerá agora, imagino eu”, diz ainda Soares.

O ex-secretário coloca ainda que “as razões não apenas são as mesmas como foram agravadas com a crise financeira nas prefeituras. Outra afirmação improcedente é o uso de caminhonetas ou caminhões. Há lugares que os ônibus não têm como trafegar para chegarem à escola; ou o aluno vai de caminhoneta ou de helicóptero. O Ministério Público, em Palmeira dos Índios, exigiu o uso apenas de ônibus; depois retrocedeu quando viu a impossibilidade em certos lugares”.

“Quem assessorou o Luciano Barbosa sobre o tema não tinha conhecimento de nada disso ou não quis ter. O exemplo de Arapiraca da redução de 34 para 18 anos deveria ser melhor explicado; parece-me irrealista. Os ônibus estavam rodando com GPS e acompanhamento online pela Secretaria. Outra decisão que estranhei foi o cancelamento da vigilância nas escolas. Quando cheguei, eram assaltos e invasões toda semana nas escolas, sobretudo aquelas próximas a pontos de drogas”.

“A cobrança sobre a segurança era constante. Colocamos vigilantes, cedemos 25 carros à Polícia Militar e walkie-talkies, além de celulares para os diretores chamarem as equipes que ficavam próximas, divididas territorialmente. Claro que isso deu resultados. Tirar a vigilância sob a alegação de baixa incidência de assaltos é agir exemplificativamente como o médico que suspende o coquetel porque o soropositivo está sem intercorrências”, frisa.

O ex-secretário diz que a decisão pode trazer problemas sérios. Sobre a questão dos vigilantes, estou apurando pontos sobre a empresa contratada que devo expor aqui posteriormente. “A hora agora é do Luciano Barbosa. E ele deve ter boas razões para ter tomado essas decisões sem fazer qualquer transição entre um modelo e o outro. Tomara que ele esteja certo e nós todos que passamos por lá, errados”, finalizou. 

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