Fundação do PT e José Dirceu criticam Dilma

21/01/2015 10:17 - Voney Malta
Por Voney Malta

A relação entre petistas históricos e o segundo governo da presidenta Dilma Rousseff parece cheio de ruídos e desentendimentos. Tudo indica que os rumos seguidos pela política econômica estão desagradando.

Um texto da Fundação Perseu Abramo, do PT, critica a gestão da presidenta ao afirmar que o segundo mandato adota estratégia bastante conservadora e ortodoxa na política econômica. “O problema é que, diante da continuidade de um mundo em crise e da desaceleração abrupta do mercado interno (ultimo motor de crescimento da economia nacional que ainda funcionava), a possibilidade desses ajustes aprofundarem as tendências recessivas da economia nacional não é desprezível”.

Antes, nesta terça-feira (20), o ex-ministro e petista histórico, José Dirceu, foi contundente em seu blog. Ele afirmou que o país caminha para uma recessão por conta da condução da economia e que isso trará implicações políticas e sociais.

No meu ponto de vista, acredito que o escândalo da Petrobras está atingindo moralmente – e mortalmente? – a credibilidade do PT. Simpatizantes do partido, e que votaram na Dilma imaginando a continuidade do governo - atacam a questão da Petrobras e se assustam com os rumos dados a economia, ao mercado financeiro.

São cidadãos influenciados pelos meios de comunicação e sem muita formação científica, mas com bastante experiência de vida e com um bom senso crítico, daqueles que não admitem que o governo federal não soubesse do esquema de corrupção na estatal.

Uma crise sem precedentes, aparentemente sem saída, que atinge em cheio o Partidos dos Trabalhadores, o governo atual e o futuro político da sigla.

Abaixo o texto publicado por José Dirceu:

Caminhamos para uma recessão. Com o governo consciente disso, esperamos

Que 2ª feira! Calor, aumento de impostos num pacotaço anunciado pelo ministro da Fazenda, de juros e queda de energia em importantes cidades do país causada pela onda de calor inédita no pais…Ontem nem parecia uma 2ª feira, estava mais para uma 6ª feira 13. Só noticias ruins.

O aumento de impostos e dos juros são apenas consequências, desdobramentos da busca de um superavit de 1,2% do PIB este ano. A elevação dos juros visa derrubar a demanda e vem casada com o aumento do IOF – Imposto sobre Operações Financeiras para os empréstimos às pessoas físicas. Aí, também refreando o consumo.

Caminhamos assim – conscientemente, espero, por parte do governo – para uma recessão com todas as suas implicações sociais  e políticas. Fica evidente, empiricamente, pela prática, que o aumento dos juros não refreou a inflação cujas causas estão fora do alcance da politica monetária do Banco Central (BC), mas nos preços administrados, serviços e alimentos.

Quando a inflação cair…se cair…

Assim, quando a inflação cair – se cair… – será pela queda violenta da demanda e não pela alta dos juros. O que espanta é o silêncio de nossas autoridades sobre os efeitos da atual taxa Selic de 11,75% – o sonho de consumo do mercado financeiro -e sobre o serviço da divida interna de R$ 250 bi ao ano, ou o correspondente a 6% do PIB nacional. É a maior concentração de renda do mundo no período de um ano e para uma minoria detentora dos títulos públicos de nossa divida interna.

Como a arrecadação cairá com a recessão é preciso de novo que nossas autoridades expliquem como farão o superávit e manterão os investimentos públicos e os gastos sociais.  Têm de explicar: como o pais voltará a crescer?

Fora o fato que as autoridades da área econômica diariamente criticam abertamente os bancos públicos e seu papel de vanguarda no financiamento subsidiado (porque necessário) de nossa indústria, agricultura, infraestrutura social e econômica. A pergunta que não cala é: quem os substituirá, quem continuará a desempenhar esse papel dos bancos oficiais?

Semana começa com muita apreensão sobre os rumos do país

Sobre o efeito maléfico e daninho dos juros altos na valorização do real e nas contas externas também nada, nem uma palavra… Nossa indústria que se vire. A semana começa, assim, com muita apreensão pelos caminhos do país. Mas podem ter certeza, com muita festa no mercado financeiro e nas redações de nossa mídia.

Mesmo que haja algum choro e ranger de dentes pelo aumento dos impostos, no fundo dirão, melhor assim que uma reforma tributária que taxe os ricos, o patrimônio e a renda, as fortunas e heranças e os fantásticos lucros financeiros. Isso, talvez, explique o silêncio dos responsáveis pela política econômica e pelo governo sobre a volta da CPMF ou de algum outro imposto ou tributo equivalente e que cumpra seu papel.

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