De acordo com entrevista concedida a este blogueiro, o ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) só deve se pronunciar a respeito dos levantamentos de débitos e supostas irregularidades de sua gestão após o atual governo de Renan Filho (PMDB) terminar o levantamento de todas as informações.

Renan Filho não utiliza a expressão “herança maldita”, mas os casos que divulga na imprensa ou que o Palácio República dos Palmares – por meio de fontes – é autorizado a “vazar” apontam para uma lista de supostas irregularidades cometidas pela “gestão tucana”.

O governador atual chama atenção para os números. Já falou em um débito de R$ 300 milhões, além de um déficit estrutura de mais de R$ 700 milhões deixados. Chamar atenção para os valores e para o fato da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ter sido estourada é uma forma do atual Executivo também justificar a incapacidade de cumprir algumas promessas de campanha de imediato.

Entre estas promessas está a convocação de Reserva Técnica da Polícia Militar de Alagoas e dos professores concursas que também aguardam em cadastro de reserva. Ironicamente – ainda durante a campanha de 2014 – o próprio Teotonio Vilela Filho alertou: “quem prometer chamar a Reserva Técnica vai queimar a língua, pois o Estado não tem capacidade de fazer isto”.

A Secretaria da Fazenda do Estado de Alagoas já aponta para situações de suposta irregularidades feitas pelo governo anterior para garantir o pagamento de folha salarial. Operações estas que serão analisadas pela pasta. O levantamento está sendo feito de forma detalhada pelo atual titular da pasta, o secretário George Santoro.

Sobre a Fazenda, Vilela diz que – com o levantamento finalizado – tudo será explicado pelo antecessor da pasta, Maurício Toledo. De acordo com o tucano, ele pessoalmente pediu a Renan Filho que antecipasse a indicação do secretário da Fazenda, durante a transição, para que todos os números fossem detalhados e o governo mostrasse a realidade financeira do Estado.

Mesmo com uma transição tida como pacífica entre os grupos políticos que foram rivais no processo eleitoral, o que se vê é um total desconhecimento do atual governo sobre como as contas estavam. Em entrevista à imprensa, o governador Renan Filho destacou que os “débitos estão sendo fechados”. Ressaltou que os órgãos fiscalizadores são independentes, mas frisou: “as coisas feitas fora da lei precisam de responsabilização, mas não estamos ainda nesta fase”, colocou.

A situação tem um grau de semelhança com a forma como o governo tucano assumiu o Estado, em 2007. Vilela – na época – também alegava um rombo milionário. Em 2010, em plena campanha eleitoral, entregou uma série de denúncias contra seu antecessor – o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) – junto ao Ministério Público Estadual. Se Renan Filho fará o mesmo ainda não se sabe.

Todavia, o discurso oficial do governo tucano, responsabilizando Lessa pela desordem financeira do governo, serviu de base para medidas de ajuste fiscal de forma dura, inclusive suspendendo a promessa de concursos, contratação de policiais e reajuste de servidores. O início da Era Tucana se deu com um embate entre funcionalismo público e o Executivo.

Renan Filho não vivencia esta crise em início do governo. Conta com um cenário político bem mais favorável, inclusive com um maior leque de aliados. Porém, a situação financeira do Estado – oito anos depois – também compromete a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o que dificulta o diálogo com os servidores em busca de melhorias salariais, bem como contratações. Tanto é assim que o governo foca em dois pontos para equilibrar as contas: o corte de gastos dentro da administração estadual e adoção de políticas para ampliação da receita.

Na manhã de hoje, dia 16 de janeiro, Renan Filho se reuniu – juntamente com George Santoro – com fiscais de renda alagoanos. Em pauta, traçar políticas para aumentar a arrecadação. “Tenho dito que são três as formas de equilibrar as contas: a primeira é gastar menos, a segunda é arrecadar mais e a terceira, a mais eficiente, é fazer as duas coisas juntas”, sentenciou o governador do PMDB.

Por enquanto, é aguardado o que Vilela tem a dizer sobre o quadro pintado pela gestão peemedebista. Afinal, Vilela – em todos os momentos de crise com a opinião pública – ressaltou que seu governo não estava em busca de aplauso fácil, mas que buscou o caminho mais difícil, porém o mais certo.  Um dos lemas da gestão tucana era: “honestamente, nunca se fez tanto”.

Ao deixar o governo, Vilela disse que saia da administração com a cabeça erguida, pela porta da frente e com a certeza de que entregou um Estado melhor do que o que recebeu. O discurso de despedida do tucano aponta para uma realidade bem diferente desta que vem sendo demonstrada por Renan Filho. 

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