Conversei com o deputado Paulo Fernando dos Santos, o Paulão (PT), sobre a composição do Congresso Nacional para este ano a partir de fevereiro de 2015. Quais as expectativas do petista para a legislatura em que – ao que tudo indica – a presidente Dilma Rousseff (PT) não terá vida fácil...
O processo eleitoral, que dividiu o Brasil, deixou reflexos. Além disto, o ano se iniciou com indicativo de crise econômica, inflação, aumento da energia elétrica, dentre outros pontos que aumentam a cobrança em relação ao atual do governo. Consequentemente, pressão para a apreciação de muitas matérias de interesse do Executivo e que deve encontrar resistência na oposição.
Por sinal, uma oposição que já se mostrou barulhenta nos últimos dias da legislação passada. O projeto envolvendo os conselhos populares – por exemplo – foi uma sonora derrota para o governo. A mudança da meta fiscal resultou em vitória, mas também deixou sequelas, diante do uso do trator do Executivo. Paulão diz que o Congresso Nacional tende a ser “mais conservador”.
“Teremos retrocesso em muitas pautas”, diz o petista. Ele classifica – por exemplo – como “retrocesso” a dificuldade de emplacar a visão do partido nas questões envolvendo temáticas como “reforma agrária” e “direitos humanos”. O Congresso tende a não aceitar fácil as bandeiras petistas. Embates serão vários. Alguns que se avizinham: questões da reforma política, como financiamento de campanha, e a regulação de mídia.
“Teremos que ter calma e lidar com o fato de ter fragmentado a base no Congresso Nacional. Foi pulverizada a base dos pequenos partidos que não sabemos como vão funcionar. Qual o grau de contrapartida e de fisiologismo desses partidos na apreciação de algumas matérias? Teremos um Congresso mais conservador no lidar com questões agrárias, direitos humanos. Vai ter retrocessos, pois aumentou a base ligada ao segmento evangélico”, analisa Paulão.
De acordo com o petista, as matérias com foco nas mudanças da macroeconomia também tenderão a ser mais debatidas. “São pautas que trarão tensionamento”. Paulão ainda falou dos reflexos da Operação Lava Jato – que destrincha o maior escândalo de corrupção do país, envolvendo o PT, empresários e demais políticos aliados – na legislatura que vai se iniciar.
“Quando começar a indiciar parlamentares e houver pedidos de cassação, o reflexo vai ser o que aconteceu com o deputado federal André Vargas, que foi cassado – inclusive – com orientação do próprio partido e do ex-presidente Lula. Quem aparecer na Operação Lava Jato e houver pedido de cassação com votação aberta, eu não tenho dúvida de que será cassado pelo Congresso”, salientou o parlamentar petista.
Entretanto, Paulão disse que – em sua visão – a disputa interna entre PT e PMDB pela presidência da Câmara de Deputados não deve deixar “mágoas” para a composição do Executivo ou nas relações entre parlamentares da base aliada. “Será uma boa disputa. Estamos trabalhando para conquistar mais votos para o Arlindo Chinaglia na bancada federal. O outro candidato da base é o Eduardo Cunha do PMDB. O cenário aponta para segundo turno na disputa da presidência da Câmara de Deputados. Esse processo não está tão fechado”.
“Não estremece a relação entre os partidos. O ideal era ter unidade. É o caso do Senado. Como não temos maioria, a presidência é do PMDB. No caso da Câmara, a presidência deveria ser do PT, mas houve um erro no comando há um tempo quando o próprio PT lançou três candidatos e quem ganhou foi o Severino Cavalcanti por conta da multiplicidade de candidaturas. É uma disputa mais no campo do parlamento. Não enxergo o Executivo interferindo. Nunca recebi telefonema. O Executivo não está participando até porque os dois principais candidatos são da base. Não há crise”, complementou.
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