O centenário do ex-governador de Alagoas, Muniz Falcão, será relembrado, no dia de hoje, 06, em uma missa realizada na Igreja Santa Rita, no bairro do Farol. De forma tímida, na verdade, tendo em vista a importância do personagem para a história de Alagoas.

O culto está sendo organizado pelos familiares de Muniz Falcão. Trata-se de um personagem da história do Estado, que comandou os destinos da Terra dos Marechais em um período marcado pelas oligarquias violentas e sem pudores de mostrar o poder de mando sobre as terras e as pessoas.

Sebastião Muniz Falcão – nascido em 6 de janeiro de 1915 – foi eleito governador de Alagoas no ano de 1955 para um mandato de cinco anos. Muniz Falcão faz parte de um período turbulento do Estado, marcado pelos crimes de mando no interior, com fortes ligações com membros do Poder Legislativo.

Inclusive, em 1957, quando a Casa de Tavares Bastos se reuniu para votar o impeachment de Muniz Falcão, a sessão acabou em tiroteio. Episódio que marcou a imagem de Alagoas até esta data. Resultado: um parlamentar morto. Faleceu Humberto Mendes, que era sogro de Muniz Falcão.

Outros três deputados ficaram feridos: Carlos Gomes de Barros, Júlio França e José Afonso. O jornalista Márcio Moreira e o servidor Jorge Pinto Dâmaso também foram alvejados.

Muniz Falcão conduziu o Estado em um momento em este que foi palco de embates sangrentos entre aliados e opositores. Tudo culminou na sessão histórica de 1957, que foi levada ao presidente Juscelino Kubitschek, que decretou intervenção federal no Estado. Muniz Falcão foi substituído por Sizenando Nabuco.

Inconformado, Muniz Falcão ainda recorreu ao Supremo Tribunal Federal. Ele foi reconduzido ao cargo em janeiro de 1958. Muniz Falcão foi eleito deputado federal em 1962. Foi o mais votado na disputa pelo governo em 1965, mas em função de não atingir o patamar da maioria absoluta – exigido pela emenda constitucional de número 13 – coube ao parlamento escolher o novo governador. O cargo ficou com Lamenha Filho.

Muniz Falcão faleceu no exercício do mandato de deputado federal pelo MDB. Impressionante que um período tão marcante do Estado de Alagoas tenha passado batido e tenha sido pouco lembrado.

A família Falcão ainda emplacou outros políticos na história de Alagoas: o ex-prefeito de Maceió, Djalma Falcão – irmão de Muniz Falcão – e o deputado federal Cleto Falcão (já falecido), sobrinho do ex-governador.

Em conversa com este blogueiro, Djalma Falcão lamentou o esquecimento da história de Muniz Falcão em um ano tão importante que é o de seu centenário. O irmão classificou o ex-governador como um homem que foi visionário e que soube contrariar interesses em Alagoas, visando novos caminhos para o Estado.

Falcão acredita até em um esquecimento de forma proposital. A história do impeachment de Muniz Falcão – entretanto – é relembrada, mostrando o contexto da Alagoas das décadas de 50 e 60, pelo livro Curral da Morte, do jornalista Jorge Oliveira. Essencial para se entender o período.

A obra – lançada pela editora Record – mostra que o estopim de 1957 como o momento no qual “de lá para cá, Alagoas nunca mais foi a mesma”. “Durante meio século, o estado frequentou, com assiduidade, as páginas policiais dos grandes jornais e revistas do país”, ressalta a sinopse do livro. As aspas refletem a importância do momento histórico. 

A história é tão marcante que até o próprio site oficial do governo, na página do Gabinete Civil, evita mostrá-la em detalhes até o hoje. O tiroteio na Assembleia Legislativa – por exemplo – “desentendimento com o Poder Legislativo que se encaminhou para sérias consequências”. O detalhe: as sérias consequências foram um morto e vários feridos.

Ou seja: oficialmente, o próprio poder público faz questão de jogar a história para baixo do tapete. Isto por si só mostra a necessidade de se relembrar o passado em Alagoas diante da “história oficial” sempre contada em verso e prosa. Outro poder constituído que passou batido foi a Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. No passado, palco dessa história sangrenta.

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