O drama vivido pela modelo e ex-participante do reality show “A Fazenda” Andresa Urach vem despertando a atenção da imprensa. A modelo teve um problema com o dreno utilizado para eliminar resquícios de hidrogel do corpo e com isso teve uma infecção. A modelo se submeteu a uma operação de retirada do hidrogel, mas seu estado de saúde é grave. A vice Miss Bumbum correria, inclusive, risco de amputar a perna em decorrência do uso inadequado do produto.
Sobre o uso do hidrogel, o Cada Minuto ouviu o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica em Alagoas (SBCP), cirurgião plástico André de Mendonça E o médico foi categórico ao não recomendar o uso do produto e apontar outras formas de aumentar, com saúde e segurança, o volume de partes do corpo. O hidrogel em Andresa Urach foi usado para aumento de volume em áreas como face, bumbum e as coxas. Recentemente, problemas relacionados ao uso do produto e até caso de mortes lançaram luzes sobre o risco da aplicação.
“Não podemos permitir novos casos deste tipo. Se não compartilharmos essa informação, novos casos como o da modelo Andresa Urach podem acontecer, inclusive em Alagoas. Chegam informações de que o hidrogel é aplicado no estado, porém nosso dever é advertir sobre os riscos da aplicação deste produto e sobre as complicações que podem ocorrer após a aplicação” afirma André de Mendonça, cirurgião plástico com doutorado na USP e também membro da sociedade de cirurgiões plásticos dos Estados Unidos.
O hidrogel, como o próprio nome diz, é um gel composto de 98% de água e 2% de poliamida, utilizado no Brasil desde 2008. A substância é injetada sob a pele da área em que o paciente quer aumento de volume. “O hidrogel é liberado pela ANVISA, mas problema é que ele deve ser usado para pequenos preenchimentos como, por exemplo, na face, em pequenas quantidades em torno de 1 a 2 ml. No caso da modelo Andresa Urach foram usados mais de 400 ml. E mais: o profissional tem que estar preparado para este procedimento. Em verdade, nós, cirurgiões plásticos, não indicamos o uso do hidrogel desta forma e, principalmente, nestas quantidades absurdas e com este objetivo”.
“O uso sem critério pode causar problemas futuros, alguns de difícil reversão. O aumento do volume de regiões como bumbum e coxas pode ser feito, mas somente um médico pode ser capaz de avaliar como ele pode ser feito, qual a melhor técnica e qual limite o corpo da paciente deve obedecer. Lamentavelmente, o uso do hidrogel de forma indiscriminada pode acarretar sérios prejuízos à saúde. Ainda mais se ele for feito de modo inadequado, sem o rigor médico e com profissionais não preparados para este trabalho” afirma André de Mendonça.
“A aplicação equivocada do hidrogel de forma incorreta pode prejudicar vasos sanguíneos. E isso pode causar problemas como necrose de pele e até trombose” afirma André de Mendonça. Haveria, ainda segundo cirurgião plástico, possibilidades de alergia ao produto ou até mesmo de compressão de estruturas nervosas da região onde foi aplicado.
Por outro lado, ressalta André de Mendonça, ainda há o risco da “procedência do produto, uma vez que quando o profissional por trás do procedimento não é um médico, não há a garantia de que o hidrogel a ser aplicado é o mais apropriado. E assim, o risco pode aumentar ainda mais”, afirma o especialista. “Após as complicações, é possível retirar o produtos mais nunca completamente. Entretanto, mesmo assim ele pode causar dano” destaca o cirurgião plástico.
O médico adverte ainda que “o hidrogel foi desenvolvido para preenchimento de pequenas rugas ou depressões, por meio de pequenos volumes, e não com os fins que está sendo usado. Como ele não é 100% absorvido, uma vez aplicado o hidrogel pode se ramificar na gordura, nos tendões e nos músculos, tornando sua retirada quase impossível. Outro problema é que no momento da introdução desta substância pode ser facilitada a entrada de bactérias no organismo. Tais bactérias podem ficar ‘adormecidas’ e posteriormente causar uma infecção” afirma o especialista.
Há ainda outros detalhes. O hidrogel fica no organismo por um período até de 2 anos, a depender do local onde foi injetado.“Por isso, por todos estes riscos, desaconselhamos o uso do hidrogel, uma vez que há outras técnicas que podem ser usadas para aumentar o volume de determinadas regiões do corpo. Por exemplo, a lipoescultura pode ser um procedimento apto, uma vez que o volume injetado no corpo do paciente é oriundo do próprio corpo do paciente, retirado por meio de uma lipoaspiração. Prótese de silicone na mama também é outro método mais seguro se o objetivo é aumentar o volume do seio” destaca o medico.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica em Alagoas ainda reforça que “casos de falsos profissionais ou de condutas inadequadas devem ser denunciadas ao Conselho Regional de Medicina. E em Alagoas há inúmeros profissionais aptos a orientar os candidatos aos procedimentos de cirurgia plástica de aumento de regiões do corpo, podendo a listagem de cirurgiões plásticos ser consultada no site da SBCP, o http://www.cirurgiaplastica.org.br/”.