Que novidades teria a ex-primeira dama Rosane Malta a contar sobre a época em que esteve ao lado do ex-presidente – hoje senador – Fernando Collor de Mello (PTB), quando este ocupou o mais alto cargo da República? Se há curiosos para saber, é a própria Rosane Malta que conta na obra que chega às livrarias. Aqui.
Lançado pela editoria Leya – com 288 páginas – a obra possui o seguinte título: Tudo que vi e vivi. Ao assinar a obra, Rosane Malta ainda acrescenta ao seu nome o complemento de “ex-Collor”. Estratégia de marketing mais previsível não poderia haver!
No site da Livraria Cultura, assim é apresentado o livro: “há 24 anos, Rosane Collor se tornava a mais jovem primeira-dama do Brasil e passava a dominar as páginas de revistas e os telejornais por sua figura jovial, seu guarda-roupa vistoso e seu trabalho junto aos mais necessitados. Ela também esteve no centro das maiores polêmicas políticas do curto mandato de seu marido até então, Fernando Collor de Mello, acusado de corrupção e afastado da Presidência em meio a um processo de impeachment - até então inédito no Brasil. Nesse relato sincero, Rosane - que, divorciada, agora assina com seu sobrenome de solteira, Malta - conta pela primeira vez tudo o que viu e ouviu nos bastidores do poder sobre o processo de impeachment, o medo de que o ex-presidente se suicidasse, as intrigas familiares, os rituais macabros que eram realizados na Casa da Dinda, os esquemas do ex-tesoureiro de campanha de Collor, além da morte de PC Farias e do destino do dinheiro por ele arrecadado. A autora revela, também, a sua bonita trajetória de menina do sertão de Alagoas que viveu uma grande paixão, ganhou o Brasil e o mundo, conheceu reis e princesas, e que, posteriormente, superou a decepção com o ex-marido e a depressão por meio de uma inspiradora busca espiritual. Um livro essencial para entender uma das passagens mais determinantes da história brasileira e seus desdobramentos atuais e que surpreende ao expor a emocionante biografia de uma mulher de fibra”.
Claro que a descrição é mercadológica, mas obras para relembrar a Era Collor não faltarão nos próximos anos. Creio que uma bem mais substancial será a obra do historiador Marco Villa que – conforme o jornalista Lauro Jardim – também prepara livro sobre o período. Villa é autor de Década Perdida (uma análise sobre os dez primeiros anos do PT no poder) e de Ditadura à Brasileira, com sua visão sobre o regime militar no país. Villa – obviamente – trará mais história e menos personalismos.
Em relação ao livro de Rosane Malta, uma ampliação do que foi sua entrevista no Fantástico há algum tempo, quando cravou o termo “jesuscidência” e reclamou da pensão, além de falar das questões espirituais envolvendo o ex-casal.
Muito antes de Rosane Malta lançar obra, um outro livro sobre a Era Collor também causou polêmica: Passando a Limpo: A trajetória de um farsante de Pedro Collor de Mello.
Se tem um personagem da nossa história que sempre vai passar por constantes releituras – umas mais pessoais, outras nem tanto – para ser sempre lembrado pelo impeachment, o confisco da poupança e as relações envolvendo Paulo César Farias, este personagem é Collor de Mello. Um presidente que se tornou para muitos um ídolo, haja vista a forma como ainda arrebata eleitores e conquistou sua reeleição para o Senado Federal; todavia, para outros, exemplo de uma presidência conturbada e mergulhada em escândalos. Um trauma para o país.
Isto faz com que – a cada eleição presidencial – Collor vire uma “régua” para desacreditar possíveis “salvadores da pátria”, ao lembrar de sua jovialidade, do “combate aos marajás” que resultou em confisco na poupança e denúncias. Foi assim que o PT – partido do qual Collor é aliado – usou o seu nome para atacar Eduardo Campos (morto em um trágico acidente aéreo), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
Quanto ao livro de Rosane Malta...acrescentará algo de novo a história do país além de fatos menores tão escavados pelos escafandristas de plantão? Creio que não. Mas como Collor é sempre Collor, Rosane Malta – ex-Collor - exorciza seus fantasmas e ainda ganha uma obra que soa como “macumba para turista” (no sentido metafórico, claro!) nesta onda de releituras históricas que toma conta do país.
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