As eleições presidenciais deixam uma grande lição para o PSDB: há uma parcela significativa da população brasileira – quase a metade! – que se opõe ao atual projeto do governo petista representado pela presidente reeleita Dilma Rousseff (PT). Foram muitos os eleitores que não votaram no senador Aécio Neves (PSDB), mas foram às urnas contra o projeto de esquerda do PT. Esta parcela – dentro da democracia – precisa e deve ser respeitada, assim como ter seu direito à voz.
Uma democracia é feita de lados. Um será majoritário e estará no Executivo. Ao outro, caberá – dentro de uma liberdade – o papel de oposição. É aí que entra a grande lição que o PSDB precisa assimilar. Ao longo dos últimos 12 anos, o partido se especializou em esconder o que fez de bom e expor suas fraquezas e o que fez de ruim (sim. Fez muita coisa ruim, cometeu muitos erros e há corruptos por lá também). Melhor oposição – nesta dicotomia que se tornou o país – o PT não poderia deixar de ter. Sequer a estabilidade econômica alcançada com o plano Real foi defendida.
Em 2010, o então candidato tucano José Serra praticamente escondeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e – como em uma valsa ensaiada – poupou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) das críticas essenciais ao processo democrático em si. Se não há a definição clara do que cada lado representa, quem dominar o jogo maniqueísta, colará no adversário todos os adjetivos pejorativos possíveis e sempre sairá vitorioso. Simples assim.
Torço para que o país saia deste maniqueísmo que se divide entre uma esquerda de visão petista e um projeto de socialdemocracia que se difere pelo grau de intervencionismo. Não só por isto, mas este é o ponto principal! Que tenhamos – em um futuro próximo – parcelas conservadoras e liberais (do ponto de vista econômico, moderado ou até liberal-conservador) expondo também suas ideias e submetendo-as ao julgamento popular. Pelo bem da democracia, a divergência de ideias é sempre algo sadio. O Partido Novo (PN) pode ser uma boa opção neste sentido. Aguardemos.
Mas, a médio prazo, o PSDB – se quiser continuar vivo – precisa se reformular. O primeiro passo é abandonar a covardia e se comunicar melhor com parcela da população que atraiu neste pleito, amplificando sua voz. Nos últimos anos, o PSDB foi um partido covarde, fechado dentro de uma cúpula achando que sua “elite intelectual” captava o sentimento do que estava acontecendo no país. Errou. Aécio Neves – sozinho! – captou este sentimento de forma muito mais eficaz e cresceu como cresceu. Por isto representou ser uma ameaça.
Na reta final, Aécio Neves – inclusive – relembrou o passado tucano pela ótica que deveria ser usada sempre pelo PSDB. Mas isto não será o suficiente. O “ninho tucano” tem que reformular suas próprias convicções. Aproveitar que é um partido fora do “eixo” do Foro de São Paulo e apresentar de fato um projeto diferente de país para as pessoas que – democraticamente – possuem uma outra visão de Estado, com menor grau de intervenção, com maior liberdade econômica e sem ameaças a soberania nacional em função de planos de consolidação de uma esquerda na América Latina, como consta nas atas do Foro, envolvendo Argentina, Venezuela, Cuba, dentre outros países. Para quem tem dúvida disto, conheça o próprio Foro de São Paulo: www.forodesaopaulo.org.
Contextualizem a fala da presidente da Argentina, Cristina Kirchner com base nas diretrizes do Foro. Assim disse ela: “vitória de Dilma Rousseff (PT) é mais um passo rumo à consolidação da Pátria Grande”. Ou seja: a união da América Latina em torno do objetivo de recuperar aqui o que se perdeu no leste europeu, como já foi falado dentro do próprio Foro de São Paulo, que reúne diversos partidos políticos de diversos países, como se pode observar em sua página oficial.
Lá se tem um projeto do qual o PT faz parte. As pessoas – sabendo de todas as informações ou não – escolheram por este. Optaram. Há um respeito – de minha parte! – à democracia neste sentido. Sempre respeitarei a democracia! A decisão da maioria deve ser respeitada. Que Rousseff consiga fazer um bom governo e contrariar prognósticos com base em argumentos. Todavia, do outro lado, há – de forma legítima – uma parcela da população com direito a voz (e este precisa existir sempre!) para fiscalizar, cobrar, e lutar pelo que acredita.
Como uma democracia se faz de lados. De um lado está este projeto. Do outro, há uma necessidade de se apresentar ao país o seu oposto. Se os tucanos quiserem sobrevida é preciso que estudem este projeto, o que não fazem por serem parte histórica de uma “esquerda caviar”. As discussões essenciais para o futuro deste país – em minha humilde visão – passam por carga tributária, intervencionismo e seus limites, presença do Estado, garantia de liberdades individuais, pacto federativo, a noção exata do que representa o Foro de São Paulo, as diferenças metodológicas e pontuais entre as esquerdas, os modelos de estado que pautam os projetos, os valores cristãos, a importância da família, dentre outros pontos.
Caso contrário, o debate será reduzido a um maniqueísmo maquiavélico para se deter o monopólio das virtudes. Isto tanto do lado azul, quanto do vermelho. Geralmente quem detém o monopólio das virtudes constrói também o monopólio das mentiras. Uma democracia requer lados, repito. Para haver lados é necessário que eles sejam diferentes. E para serem diferentes é preciso que estas diferenças sejam pontuadas de forma objetiva e honesta, sem varrer meias-verdades para baixo do tapete. Os tucanos são mestres em se varrerem para baixo do próprio tapete em uma histórica oposição acovardada.
Não concordar com o projeto que aí se encontra é um direito. Não faz do discordante um ser mal, ou nas palavras pós-modernas da discussão política um “reaça, coxinha, nazista, fascista” ou qualquer outro termo. Quem concorda também não é o “mal”. Há pessoas com objetivos comuns de um bem maior para o país em ambos os lados. Como há canalhas em ambos os lados também. É preciso brigar por informação e não por desinformação que reduz tudo a um debate mesquinho e um sentimento de ódio. Portanto, sair do maniqueísmo e buscar uma melhor forma de comunicar e pontuar as diferenças de projetos é importante. Assim como é importante que se formem frentes democráticas em um país. Não se faz democracia com um lado só. E vale lembrar: democracia é um processo, não é produto de um “engenheiro social”.
Estou no twitter: @lulavilar