O candidato à presidência da República, Eduardo Jorge (PV), que se destacou no debate em função de suas “tiradas” bem humoradas e virou meme na internet, está de passagem por Alagoas. Eduardo Jorge grava um trecho para o guia eleitoral em União dos Palmares, em um programa que vai ao ar com a temática do racismo.
Em sua passagem por Alagoas, Eduardo Jorge concedeu uma exclusiva a este blog. Publico a conversa na íntegra para que o leitor possa acompanhar o que pensa um dos presidenciáveis. No bate-papo, o candidato faz críticas ao sistema presidencialista, defende a reforma política e também avalia a repercussão de suas frases nas redes sociais.
Diante do sistema eleitoral de hoje, o senhor é um dos candidatos que tem pouco tempo para passar para o eleitor o que pensa. O único tempo igualitário se deu nos debates. O senhor avalia que tem conseguido passar a proposta de campanha? E como observa esta realidade?
Isso que você coloca é o primeiro capítulo do nosso programa. O PV foi o primeiro partido que publicou um programa de governo completo, ainda em março de 2014. Tem candidato aí que está chegando no fim da eleição sem um programa partidário. Quem quiser pode ter acesso. São mais de 30 páginas e se pode ter acesso. Neste programa nosso, o capítulo sobre reforma política é o primeiro. É uma reforma mãe para fortalecer a democracia no Brasil. Foi muito bom sair da Ditadura Militar. Fui deputado constituinte na época, mas sempre se pode melhorar o regime de democracia representativa. Nós defendemos mais democracia.
E quais são as ideias efetivas do seu programa de governo para que – como o senhor coloca – haja mais democracia?
Foi o que as manifestações do ano passado mostrou. E a população tem razão. Uma das ideias do PV é discutir o parlamentarismo. Porque o presidencialismo vivido no Brasil é imperial e dá ao presidente poderes e recursos que faz dele algo além de um presidente comum. Faz dele um imperador. Ele tem 70% de todos os recursos de tributos nossos na mão dele. O Congresso fica diminuído e humilhado, vivendo de sobras que sai da presidência imperial. Os estados ficam vegetando com 20% e os municípios praticamente quebrados. O prefeito estão todos falidos e vivendo de sobras que conseguem do governo estadual e federal. Fica muito comum o beija-mão da rainha presidente para poder ceder uma máquina para conserta uma estrada. Isto é ridículo e humilhante para a democracia no Brasil. O modelo parlamentarista vai dividir melhor o poder. Vai superar este presidencialismo imperial.
E dentro da necessidade de uma reforma política, quais seriam os principais pontos do programa?
Um deles é o voto distrital-misto. Hoje as campanhas são milionárias. Aqui em Alagoas não é diferente. São campanhas caríssimas. Imagine um Estado como Minas Gerais, com 850 municípios. O que é eleger um deputado federal lá. É milionária. O voto distrital-misto – que é um sistema alemão que eu acho mais equilibrado – barateia muito. Aqui em Alagoas – que são nove deputados federais – seriam divididos: quatro seriam eleitos por lista que os partidos escolhem em prévias. E os outros cinco seriam eleitos por regiões previamente divididas pela Justiça Eleitoral. É uma campanha mais racional e mais barata. Dá condições de alguém que é pobre disputar com quem é rico. Você não pode ficar escravo de quem financiou sua campanha, como ocorre hoje. Uma empresa que financia um deputado cria um despachante. Alguém antes de pensar em seu estado, sua cidade, vai pensar em quem bancou a campanha dele. Outro ponto que defendemos é o voto facultativo. Isto acaba com o voto do curral ou em quem está nas frentes na pesquisa. O sujeito vai votar em quem quer, em quem conquista este voto. É um elemento de liberdade. É um voto que exige uma politização maior do povo.
O que o senhor pensa sobre financiamento público de campanha?
O financiamento de campanha tem que ser público. Tem que ter um limite bastante austero para facilitar as fiscalizações dos tribunais e não existir abusos. Mas duas fontes apenas: uma fonte pública, como já existe do fundo partidário, e as contribuições de pessoas físicas com o limite do rendimento dele. Não admitir contribuição de empresa. Empresa não é para financiar político, porque acaba se envolvendo nos governos. Termina aquele financiamento se revertendo em lobby. Defendemos só estas duas fontes. Este é um conjunto de ideias – que discutimos aqui – que resume o que o PV apresenta em seu programa de governo. Eu tenho acompanhado os outros programas – inclusive dos três com financiamento milionários – e não há reforma política abrangente. O PV é o único.
O senhor é candidato a presidente, mas aqui em Alagoas, o PV – o seu partido – está aliado ao PMDB, que depende a candidatura à presidente da Dilma Rousseff (PT). É uma situação desconfortável para o senhor?
A minha posição – e a da direção nacional – é que um partido de vanguarda tem que ocupar espaços para mostrar suas ideias. O PV trouxe questões democráticas importantes: o feminismo, a ecologia, dentre outras bandeiras. É uma corrente de pensamento nova e revolucionária. Criticamos tanto o capitalismo como o socialismo e somos a verdadeira terceira via no Brasil. Agora, um partido de vanguarda como este – que defende os limites da natureza, coisa que capitalismo e socialismo nunca fizeram – está ainda se implantando. Assim, é importante termos uma candidatura nacional. Queríamos ter candidato em todos os estados, mas não foi possível. O ideal seria isto. Por outro lado, não pode um partido – que é contra uma administração centralizada e imperial – ter uma conduta imperial. Cada estado tem sua história. A orientação é que não tendo chapa própria – principalmente com foco em eleger deputados de qualidade – deixar a cargo das direções estaduais fazerem as coligações possíveis. A condição é apoiar a candidatura nacional. Pois é um esforço enorme ter esta candidatura. Além disto, divulgasse o programa independente da coligação na qual estivesse, mesmo em coligações que não são muito próximas das nossas ideias. E assim espalhar as bandeiras nossas, pois não queremos ter o monopólio sobre elas. A responsabilidade da coligação feita aqui em Alagoas é da responsabilidade da direção estadual. Se eles acertaram, vão colher os frutos. Se erraram, vão pagar o preço. Eu estou aqui com eles confiando que eles analisaram a história de Alagoas e optaram pelo melhor caminho. Esperamos que eles tenham acertado. Eu estou aqui tranquilo. Não dá é para fazer as coisas de cima para baixo.
No teu discurso você fez várias críticas ao modelo presidencialista e chamou a presidente de imperadora. Este sistema também contribuiu – na sua visão – para os problemas que temos hoje na economia, como a questão do PIB, a ameaça de recessão e a preocupação com a inflação? Onde foi que a presidente Dilma errou, em sua visão?
Infelizmente não foi só a presidente Dilma que errou. Isto é um produto de 12 anos de governo. Eu tenho visto a tentativa – inclusive do próprio partido dela – de colocar toda a culpa nela. Mas, quem criou a Dilma? Quem foi que inventou a Dilma? Foi aquele que se acha o pai da pátria. Ele não era infalível? Onde ele colocava a mão não aparecia leite e mel? O maior responsável pelo fracasso do governo da Dilma é o Lula. Foi ele que pediu o voto para ela. Muita gente votou na “mulher do Lula”. Como é que agora tem gente do PT querendo sacrificar esta mulher? Realmente ela errou, principalmente por ter um temperamento difícil. Você não pode governar gritando com seus assessores e sem capacidade de conversar com as pessoas. Ela não tem temperamento para governar um país que exige cada vez mais democracia. Aí, isto extrapola para a economia. O PT infelizmente é um partido que teve uma origem democrática e bonita, mas que se moldou ao clientelismo da velha política brasileira. Encheu de assessores onde foi possível e imaginável. Isto atrapalhou a gestão de vários órgãos. A Petrobras foi vítima deste clientelismo. Começou a mandar de forma desmedida na relação com as empresas privadas. O Brasil teve um refluxo da bonança internacional que favoreceu o governo do Lula. Mas isto acabou. Agora o PT está tendo que governar de fato e não consegue. Se mostrou não estar preparado. O PT precisa de um estágio na oposição para depurar os carreiristas. Vai ser bom para o país e para o próprio PT passar um tempinho na oposição.
A participação do senhor nos debates gerou “memes” na internet. Frases como “eu não tenho nada a ver com isso” foi usada em fotografias do senhor para justificar as mais diversas situações. Um sucesso nas redes sociais. Isto atrapalha ou ajuda na campanha?
Eu sou velho, tecnicamente velho com 65 anos, não entendo estas linguagens novas. Meus filhos é que me explicam. Eu sou o que eu sou dentro e fora de casa. Sou deste jeito. Aquela frase do “não tenho nada a ver com isso” se referia a uma pergunta específica feita ao candidato Levy Fidelix sobre o uso de partidos menores como “partidos de aluguel”. A minha é a única campanha que protocolou que não receberá financiamento de empresa nenhuma. Eu realmente quero fazer uma campanha que mostre que é possível discutir de forma austera. Que isto é necessário. Nós do PV não estamos interessados em nacos do poder. Estamos interessado em passar ideias. O nosso modelo é criar um partido de ideias. Este é nosso patrimônio. Ideias de cultura de paz, fim da violência, sustentabilidade, uma sociedade de equilíbrio ambiental, com economia se movendo na direção certa. Sem a velha política, como diz a candidata do PSB (Marina Silva). Agora, ela fala desta nova política, mas não explica direito o que é essa “nova política dela”. Aqui em Alagoas mesmo parece que as alianças não obedecem muito esse conceito de nova política dela. Já estou metendo a minha colher de pau nesse daqui onde a nova política deles se parece muito com a velha política também. Então, eu aproveito o meu tempo para falar destas coisas, do meu jeito. Se os meninos e as meninas acham isto engraçado e criam caricaturas comigo, que é que eu posso fazer (risos)? A melhor coisa para a saúde de uma pessoa é aprender a ri de si mesmo. Eu sou médico, posso afirmar isto. Temos que ter esta capacidade de ri de nós mesmos.
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