Comprimidos e veneno são as duas substâncias mais utilizadas por pessoas que tentam o suicídio em Maceió, de acordo com dados do Hospital Geral do Estado (HGE). Nos últimos quatro anos, o hospital registrou um aumento no número de atendimento a pacientes que tentaram tirar a própria vida. Sem a devida atenção, muitos desses casos se originaram de uma depressão, da ansiedade, da dependência química, ou até mesmo de problemas com relacionamentos.

O sentimento de tirar a própria vida é considerado um fator de risco que pode culminar no suicídio. Fatos como estes chamaram a atenção da psicóloga Wilzacler Rosa para a necessidade de um atendimento de prevenção na capital alagoana, quando percebeu, durante os atendimentos no HGE, que a maioria das pessoas não buscava a morte, mas uma saída uma forma de resolver o problema.

"A partir desse ponto fui percebendo que era mais um momento de desespero, um momento de dificuldade e que estava relacionado a algum tipo de problema que desencadeava a ideia do suicídio, seja ele uma depressão ou o fim de um relacionamento”, disse a profissional. Ao comentar os dados, ela garante que a incidência de tentativa de suicídio entre a população maceioense é alta e acrescenta que em 2013 o Instituto Médico Legal (IML) registrou o óbito de 71 pessoas.

Os dados podem ser considerados maiores do que os contabilizados pelos órgãos, pois muitas pessoas quando não consolidam o suicídio não buscam ajuda médica nem o tratamento.

Cavida: um projeto social que ajuda na prevenção

Foi trabalhando no Hospital Geral doestado (HGE) que a psicóloga teve a iniciativa de abrir um espaço para acompanhamento das pessoas que tentavam suicídio. Ao dar entrada na unidade, o paciente é encaminhado para o setor de psicologia, onde mantém uma conversa. “Nesses atendimentos eu sentia a falta de um local para fazer o acompanhamento, pois lá somente é feito o atendimento emergencial e não existia em Maceió um local para ser feito o tratamento. Foi quando surgia a ideia de abrir o Cavida, um centro de prevenção e tratamento”, explicou ela.

O Centro de Amor à Vida (Cavida) existe há dois anos e conta com a assistência de 22 profissionais voluntários entre psicólogos, assistentes sociais e estudantes. "Geralmente nós atendemos pessoas que procuram o Centro de forma espontânea, que são aquelas pessoas que escutam no rádio ou veem alguma matéria. Mas também recebemos outras formas de encaminhamento como, por exemplo, do IML quando registra algum tipo de morte por suicídio, o órgão já encaminha a família para que ela possa ter um acompanhamento psicológico". 

Wilzacler detalha que o fim de um relacionamento amoroso é considerado a maior motivação entre os adultos quem tentam suicídio, seguido pela depressão. Entre os jovens, os casos estão mais relacionados ao desenvolvimento e os conflitos da adolescência, além de serem acompanhados pelo fator histórico de publicações constrangedoras na internet. Nos idosos, a chegada da aposentadoria, a ociosidade, a solidão, e em alguns casos de Alzheimer e demência.

"É importante pontuar que nós não atendemos aqui somente pessoas que tentam suicídio, mas qualquer pessoa em fator de risco. Se for uma pessoa que está passando por algum tipo de problema, pode desencadear no suicídio, nós fazemos o acolhimento e uma forma de prevenção", explicou a psicóloga.

Uma pesquisa realizada em 2013 revelou o risco de suicídio entre o público LGBT em Maceió. Participaram 1.600 pessoas entre elas homens e mulheres com uma faixa etária de 12 a 60 anos. Os resultados mostraram que 78% dos entrevistados já sentiram vontade sumir e 49% disseram já ter desejado não viver mais. Do número, 15% revelaram ter coragem de tirar a própria vida e 10% já tiveram vontade ou até mesmo tentaram tirar a própria vida, mas que hoje não conseguiriam mais realizar o ato.

“Isso para nós levantou uma grande preocupação e nos levou também a realizar algumas parcerias com instituições que trabalham com esse público. Essas instituições encaminham para o Cavida essas pessoas, que elas percebem ter depressão ou que sofrem por questão de preconceito. Na pesquisa, os entrevistados colocaram que a homofobia era um dos fatores que levava ao suicídio”, completou Wilzacler.

O olhar atento para a depressão infantil

A psicóloga também alerta para depressão infantil, que tem sintomas não detectados pelos pais e que pode agravar com o tempo. No Centro de Amor à Vida, duas psicólogas prestam atendimento para crianças e se confrontam com casos de tentativa de suicídio nos menores ocasionado por diversos fatores e casos de depressão, conflito familiar, dificuldade na escola e agressividade.

“O comportamento suicida pode ser visto como uma agressividade. É uma agressividade consigo mesmo, o que nos chamamos de autoagressividade. Então, nós percebemos que crianças com comportamento mais agressivo e impulsivo também podem ter o risco de suicídio. As crianças têm esses sintomas só que em menor proporção. Hoje com a divulgação sobre o tema, as pessoas estão mais atentas”, afirmou Wilzacler.

Foi em busca de solucionar o déficit da filha na escola que recebeu apoio dos diretos para procurar o Cavida. A garota de 10 anos está no terceiro ano escolar e foi reprovada por duas vezes ocasionada por alguns fatores dentro da própria sala de aula. “Ela estava com um bloqueio com os professores por conta de um comportamento de uma outra professora. Esse comportamento dela foi percebido pela autua professora que me chamou para conversar”, relatou a mãe.

A mudança de conduta da garota é notada e ressaltada pela mãe, que agradeceu a observação da professora, dando a oportunidade de tirar aquela “angústia da minha filha”. O Centro de Amor à Vida fica localizado no bairro do Poço, na Rua Castro Alves, Nº 171ª.Para entrar em contato com a entidade basta ligar para os números 3326-2774/8804-2223/8801-3035 ou 9653-3944, e também pelo email: projetocavida@gmail.com. Você também contribuir com o projeto através de sua doação.