A curva que liga as praias de Pajuçara e Ponta Verde abrigava há décadas o espaço que reuniu gerações em festas, eventos e encontros. Nos últimos anos, o Alagoinhas acabou abandonado e virou ponto de tráfico de drogas e um ponto negro na Orla da capital. Há pelo menos dois anos, o governo do Estado anunciou um projeto para revitalizar a área e servir como ponto turístico de Maceió, mas as primeiras marteladas para derrubar o pouco que restava da antiga estrutura acabaram reacendendo uma discussão sobre o projeto e seu prejuízo ambiental à área.

Orçado em R$ 18 milhões, o projeto de revitalização do antigo Alagoinhas foi anunciado em dezembro de 2012, mas por conta de atrasos no envio de documentos referentes ao projeto das bases de sustentação e a morte do principal arquiteto responsável pela obra atrasaram seu início. Na semana passada, a Secretaria de Estadual de Infraestrutura (Seinfra) autorizou que fosse demolida a cobertura principal do Alagoinhas.

“Na primeira fase das obras vamos demolir a estrutura do Alagoinhas e as colunas que ficam perto do bloco de concreto perto dos corais. O trabalho está sendo executado de forma cuidadosa para que nenhuma parte de concreto caia sobre os corais e haja dano ambiental. Creio que essa primeira parte do projeto seja concluída em até 20 dias. Depois iremos realizar a recuperação estrutural e a elevação das novas colunas, que só devem ficar prontas em dezembro”,  explicou o secretário adjunto de obras Jamerson Lima.

O restante do projeto ficará a cargo da nova gestão Estadual que será escolhida nas eleições deste ano. A previsão da Seinfra é que caso o projeto continue seu andamento programado, seja concluído e esteja aberto ao público em julho de 2015. “Até o final do ano prevemos um gasto de R$ 4 milhões com as obras, mas o restante da obra ficará a cargo da nova gestão”, frisou.

O CadaMinuto questionou Jamerson sobre as mobilizações iniciadas em protesto à demolição da estrutura, que resultou no embargo da obra nesta sexta-feira (10)Ele afirmou que o projeto foi apresentado e discutido em audiência na Câmara de vereadores e foram realizados estudos de impacto ambiental na área, além de um questionário com moradores da região.

“Os moradores da região quando foram questionados rejeitaram a atual estrutura do Alagoinhas e aceitação do projeto. A placa informando que a área seria revitalizada estava fixada lá há um ano e ninguém se manifestou. Houve discussão nas esferas públicas e quando iniciamos as obras afirmaram que estávamos fazendo a demolição na calada da noite, o que não é verdade. O projeto é sustentável, vai produzir energia eólica e está aberto para que estudantes da Ufal contribuam”, afirmou.

#OcupeoAlagoinhas

Integrante do grupo nas redes sociais, a arquiteta Vanessa Lima destacou a importância de ampliar a discussão sobre o valor histórico e cultura do Alagoinhas para a população. “Estou me aproximando do grupo para conseguir compreender o projeto e repassar isso para população. A nossa intenção não é embargar a obra, mas destacar a importância histórica e cultural do espaço. O projeto novo descaracteriza aquela área”, colocou a arquiteta que representa o grupo Direitos Urbanos de Maceió, nas redes.

Na página no Facebook “Salve Alagoas Iate Clube”, maceioenses expressam suas opiniões sobre o projeto do Marco Referencial e também sobre o resgate histórico da construção do espaço. Para Vanessa Lima, durante a elaboração do projeto do Marco Referencial não houve uma discussão ampla com a sociedade para que todos pudessem colocar suas opiniões e, o então projeto, ser elaborado de acordo com o desejo da população. 

Ela salienta que a memória histórica do Alagoinhas não pode ser apagada com a construção de um monumento cinco vezes maior do prédio existente. “Claro que não somos a favor da continuação de um reduto de uso de drogas, mas precisamos pensar no valor cultural que o Alagoinhas tem”, acrescentou.

Mesmo com o início da demolição do prédio histórico, outro integrante do grupo acredita na revitalização do espaço. “Tenho esperança que esse prédio de mais de 40 metros não seja construído. Existe a possibilidade da recuperação do Alagoinhas e manter o nosso marco, que é um dos mais belos cartões postais de Maceió”, disse Emerson Magalhães.

Segundo Magalhães, o governo do Estado poderia ter proposto a construção de um pier, onde a população pudesse desfrutar do nascimento do sol, assim como foi feito em algumas capitais do nordeste. “Será que marco referencia ficará aberto para que as pessoas ir no início da manhã apreciar o nascimento do sol? Um prédio de mais de 40 metros não combina o espaço daquela área. Da mesma forma como o Alagoinhas foi abandonado pelo poder público, quem garante que esse mega prédio também não será”, questionou ele.

 Em nota de manifesto, os idealizadores do grupo Direitos Urbanos de Maceió afirmam que a demolição do prédio provocará um espaço vazio na imagem do espaço, no bairro da Ponta Verde e também na memória de Maceió.  Seguindo de uma nota (leia abaixo), alguns questionamentos foram colocados: “Afinal, o tal “marco referencial” é referencia para quem? E para quê?. Quais os interesses ele atende? E a quem?. Qual a relação da proposta com a memória do local?” (sic).

Uma petição para reunir assinaturas da comunidade foi criada na internet Contra a implantação do Marco Referencial do Turismo no mar de Ponta Verde.

A História do Alagoas Iate Clube

 O Alagoas Iate Clube foi inaugurado em 1970, um projeto das arquiteta Zélia de Melo Maia Nobre e Edy Marêta, com execução do engenheiro Vinícius Maia Nobre. Durante muitos anos, foi um ponto de encontro da nata alagoana. A história do Alagoinhas é marcada pelo desejo da sociedade em construir um espaço de lazer. Na época, muitos não acreditavam no projeto, que surpreendeu quando foi erguido.

 O clube que possuía: parque aquático com piscinas; departamento Náutico; quadra poli esportiva; salão de festas e áreas para Lazer.  O "Alagoinhas" foi um dos mais belos cartões postais de Alagoas, substituindo assim o Gogó da Ema, que existiu ali tão perto.