Desconhecimento, rebeldia e herança cultural. Todos estes são motivos para a falta do tratamento adequado da diabetes, que em Alagoas apresenta números alarmantes. Nos últimos três anos a doença tem levado pacientes a amputações e até a morte.

De acordo com números da Secretaria de Estado da Saúde, Alagoas registrou grande crescimento no número de pacientes atendidos com suspeitas ou com diabetes confirmada. Em 2011, foram 45.565 casos, em 2012 foram 52.011 e em 2013 os atendimentos continuaram crescendo e chegaram à casa de 52.434 atendimentos.

Maceió e Arapiraca registraram os maiores números de atendimentos aos diabéticos, com 18.333 e 13.677 respectivamente, seguidos por cidades como Coruripe, Delmiro Gouveia, Marechal Deodoro, Paulo Jacinto, Rio Largo e Teotônio Vilela.

Falta de tratamento preocupa, seja na rede particular ou no SUS

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, a diabetes é a segunda doença que mais afeta os brasileiros, atrás apenas da hipertensão. Em crescimento desde 2006, o problema cresceu de 5,5% para 6,9% no ano passado. A doença é mais comum entre as mulheres (7,2%) do que entre os homens (6,5%).

Segundo a endocrinologista Luciane Gama, que atende pacientes com suspeita ou a doença já confirmada, em estágio inicial em sua maioria, a causa da doença requer um estudo mais aprofundado, mas o tratamento é facilmente recomendado, apesar da recusa de muitos pacientes.

“De fato o número tem crescido e recomendamos que os pacientes imediatamente mudem seus hábitos alimentares, façam dietas regradas, bem como uma atividade física. Porém, muitos mostram grande resistência ao tratamento da diabetes, a insulina principalmente e chegam em um estágio mais avançado da doença, que leva as amputações e até a morte”, afirmou.

Questionada sobre em qual setor, público ou privado, surgem e crescem os casos de diabetes, a médica afirma que ambas as partes se dividem entre o tratamento à risca e a rebeldia.

“Posso dizer que é muito igual. Dizem que no atendimento privado as pessoas tem mais condições, enquanto no SUS as pessoas sofrem, nem sempre é assim. Vejo muitos pacientes com plano de saúde que são rebeldes e também os usuários do sistema público que seguem á risca o que são recomendados. É uma herança cultural que atinge todas as classes, salva alguns e acaba matando outros”, lembra.

A endocrinologista ainda lembrou que as mulheres procuram mais o atendimento e que as crianças preocupam. “Os números que apresentam as mulheres como as maiores vítimas da doença, também crescem porque elas são quem mais procuram os médicos. Com relação às crianças, não são tão grandes os casos, mas preocupam porque são complicadas para controlar. As consultas precisam ser constantes e os pais sempre presentes e firmes, para conter alimentações desregradas e os famosos doces”, disse.

Amputações tem números estáveis, mas ainda preocupa

Uma série de doenças levam a amputação de membros, principalmente inferiores. A própria diabetes, tumores, infecções, entre outras lesões e problemas vasculares podem ocasionar a necessidade de cirurgia para retirada da parte infeccionada, para que não se espalhe para o corpo.

Apontado como “paciente com pé diabético”, o problema afeta muitos portadores da doença, mas que poderiam ser evitados, caso o tratamento adequado fosse feito, como avalia o angiologista José Luna.

“Seja na rede particular o no SUS, tudo depende muito do paciente e da forma como é atendido. Se ele tem os sintomas e até inflamações por conta da doença, deve procurar o quanto antes. Da mesma forma, as recomendações corretas devem ser feitas e seguidas. Caso contrário, a doença entrará em outro estágio, às vezes até irreversível”, afirmou.

Porém, o médico ainda lembrou que cada paciente deve ser avaliado de uma forma diferente, diante do seu biótipo e o quadro de saúde atual. “A diabetes pode ser controlada, mas também pode chegar ao estágio de amputado, dependendo do tempo de comprometimento. Como especialista, precisamos ver a parte vascular, mas também analisar a glicose, a hipertensão, a obesidade, se o paciente é fumante. Tudo isso é um agravante e a nossa missão é aumentar a sobrevida do enfermo”, finalizou.