Durante uma das mais emocionantes partidas do Brasil nesta Copa do Mundo, o coração de um funcionário público federal de 62 anos, residente em Maceió, não resistiu após um infarto. Ainda na capital alagoana, um aposentado de 67 anos segue hospitalizado desde a estreia do mundial, se recuperando de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em um dos estádios que serviram de palco para a seleção canarinho, um torcedor carioca também enfartou e morreu no meio da torcida. 

Nesses casos e em vários outros espalhados pelo País e pelo mundo, a comemoração deu lugar a tristeza e reforçou: a emoção pode matar. Mas, quem está mais sujeito aos riscos das emoções intensas? E como se proteger de algo tão inerente ao ser humano, principalmente aos brasileiros, passionais por natureza?

Segundo o médico cardiologista Carlos Alberto Macias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia Seccional Alagoas (SBC-AL), os derrames e ataques cardíacos ocorridos durante os jogos não são coincidência. “A emoção aguda, que é intensa e imediata, é determinante nesses casos”, afirmou, acrescentando que a prevenção é a única maneira de tentar evitar os possíveis danos. 

Carlos Macias explicou que a emoção libera substâncias - como a adrenalina e noradrenalina - na corrente sanguínea que elevam a pressão arterial, aumentam os batimentos cardíacos e provocam vasoconstrição, podendo causar desde arritmias, até infarto, Acidente Vascular Cerebral e morte súbita, principalmente nos pacientes com histórico de risco.

Para ele, a agitação de um torcedor cardíaco (ou com risco cardíaco elevado) e hipertenso, aliado ao tira-gosto gorduroso e salgado e a bebida alcoólica é uma mistura que pode acabar mal.

Desconhecimento

O cardiologista chama a atenção ainda para um fato frequente: muitas pessoas com problemas coronarianos, principalmente as mais jovens e alguns atletas, desconhecem isso. “Em geral, emoção forte não é bom para ninguém. A pressão se pode medir, mas e a emoção? De repente, ainda que esteja fora do grupo de risco, você pode ter uma liberação excessiva dessas substâncias (adrenalina e noradrenalina) e morrer”, alertou.

Questionado sobre o conselho que daria a todos os torcedores brasileiros, independente do estado de saúde ou da idade, o médico voltou a frisar a importância de se cuidar: “A prevenção é a coisa mais importante na saúde e o Brasil investe pouco nisso. Evitar o cigarro, controlar a pressão arterial, praticar exercícios físicos, reduzir o peso e normalizar o colesterol são formas de prevenção que todo mundo conhece, mas é sempre bom lembrar”.

Para os mais “afoitos”, o presidente da SBC/AL deu outro conselho valioso: “Nossa vida é muito mais importante que qualquer evento esportivo. É fundamental ter consciência disso: após o jogo, seja qual for o resultado, a vida continua”.

Atividades físicas

O professor de Educação Física João Carlos de Albuquerque, que é também bombeiro militar, ratificou as informações do cardiologista e reforçou a importância da prevenção, principalmente por meio da prática regular de atividades físicas.

Ele explicou que alguém com um bom preparo físico, ainda que tenha problemas de saúde, geralmente tem um bom condicionamento cardio- respiratório e, consequentemente, suporta melhor condições de stress e está menos propenso a sofrer um ataque cardíaco, por exemplo. “Um fator complicador é que às vezes o paciente é de risco, mas não sabe, por isso é importante também estar sempre com os exames em dia”, frisou.

Sobre as atividades mais indicadas para o grupo de risco, o educador indicou as mais leves, “em ritmo de iniciante”, respeitando as limitações e necessidades individuais. 

“As atividades intensas, que provocam picos intermitentes dos batimentos cardíacos devem ser evitadas, mas é preciso que todos separem um tempo em suas agendas para praticar exercícios, ter uma melhor qualidade de vida e poder torcer com mais saúde e tranquilidade em qualquer situação”, finalizou.

Números

Carlos Macias contou à reportagem do CadaMinuto que não há, no País, estatísticas sobre as mortes clínicas ligadas a emoções intensas, a exemplo das ocorridas durante partidas decisivas de futebol, mas existem vários estudos sobre o assunto em todo o mundo.

Um estudo realizado na Suíça durante o Mundial de 2002 constatou um aumento de 63% na ocorrência de morte súbita durante o evento esportivo. Já em 2006, na Copa da Alemanha, os casos de emergências cardíacas dobraram, segundo informações da Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro (Socerj).

Outro estudo, desta vez realizado pela Universidade de São Paulo (USP), revelou que, de acordo com dados fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), entre 1998 e 2010, as emergências cardíacas aumentaram cerca de 16% nos jogos da seleção brasileira durante os mundiais.

Com o final, no dia 13 de julho, da segunda Copa do Mundo realizada no Brasil – a primeira aconteceu em 1950 -, a expectativa não só dos especialistas em saúde, mas de todos os torcedores é que apenas as comemorações e os números de gols sejam superlativos.