A solidão tucana é contraditória. De um lado, o governador de Alagoas Teotonio Vilela Filho (PSDB) e o pré-candidato Eduardo Tavares (PSDB) se empenham em mostrar a virtude deste isolamento político como uma “via alternativa”. Do outro, ambos sabem que sem aliados é difícil a nave decolar e buscaram compor com aqueles que – se do outro lado ficam – é porque não fazem parte desta mesma virtude descrita. Uma contradição em si.  Como se o poço de virtudes fosse um monopólio tucano.

Não é. Assim como não é em chapa alguma.

O que se percebe é que a solidão também se deu pela inabilidade política do maior gestor do Estado de Alagoas que – por fim – se viu obrigado a um discurso cada vez mais de isolamento, ao ponto de falar em “traição cirúrgica” e de conviver com os boatos de que a candidatura de Eduardo Tavares não seria para valer. Sim, boatos. Não há dúvidas de que Tavares é um nome no pleito para tentar brigar pelo governo. Que pode até surpreender.

Todavia, uma briga que a cada dia parece mais quixotestca pelas circunstâncias. O PSDB chegou a reta final apenas com o PRB do ex-vereador Galba Novaes, que é a maior expressão do partido. Novaes será candidato a deputado estadual.  Deve colocar o filho – Tales Novaes (PRB) – para ser candidato à Câmara de Deputados. Uma maneira de somar votos para ajudar Pedro Vilela a construir seu caminho para Brasília.

Pedro Vilela é uma prioridade dentro do “ninho tucano”, que terá ainda como candidato considerado forte, o ex-secretário de Educação, Rogério Teófilo.  O que o PSDB parece não ter tratado como prioridade foi a candidatura de Tavares. Se mostrou dividido, rachado, segregado, desde o início das discussões. Inclusive causando dúvidas na base, como mostrou a jornalista Vanessa Alencar ao falar com os deputados estaduais do PSDB. Alguns ameaçavam, na época, sequer disputar a eleição pelas dificuldades do partido.

O empenho do governador só foi sentido na reta final. E assim perdeu o PPS, o PSB e o Solidariedade para a coligação liderada por Benedito de Lira (PP), que também concorre ao Governo do Estado.

Mesmo depois do prazo final das convenções partidárias, Eduardo Tavares não possui chapa completa. Seu vice sai de dentro da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, o deputado estadual Gilvan Barros (PSDB). Uma chapa puro-sangue. Barros é um nome que pode ajudar a Tavares na região do Agreste. Uma escolha diante da impossibilidade de Teófilo aceitar o convite, pois está focado em uma campanha para deputado federal.

Agora, com a solidão concretizada, aos tucanos, resta reforçar o discurso do “antes só do que mal acompanhado”. Resta aos tucanos fazer do limão uma limonada. No entanto, o PSDB não pode esquecer de algumas de suas companhias ilustres. O presidente da combalida ALE/AL – que vem sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de Alagoas por conta de supostas irregularidades – é um tucano: Fernando Toledo.

Os tucanos – em sua solidão extrema -  possuem também nomes que, junto a opinião pública, maculam as virtudes que querem estampar na televisão e em peças publicitárias de campanha. Todos os partidos possuem. O maniqueísmo é um discurso frágil na busca de criar uma “onda” de renovação de perfis políticos que alterem a rota do jogo.

É verdade que Eduardo Tavares é um nome leve e novo no pleito. Um extraterrestre, como ele mesmo adotou a postura. Os profissionais que cuidam de seu marketing político sentem que isto é positivo. Exploram este terreno. O governador Teotonio Vilella Filho ao falar de Tavares reconhece isto. Ao falar das composições, diz que “aliados afastaram-se do palanque de Eduardo Tavares para fecharem acordos com os candidatos de oposição, respondi e reafirmo: é a solidão da virtude”.

Vilela ainda diz que existe uma politicagem que trabalha para um elite que não abre mão do poder. No entanto, a Era Vilela foi o poder durante oito anos. Nestes, fez acordos com ex-aliados pela chamada “governabilidade”.  Onde estava esta elite que agora aponta Vilela? Dentro do Palácio República dos Palmares? Fora dele? Eram os ex-aliados? A solidão da virtude vale apenas para a composição política? Depois das eleições, tudo muda em nome da governabilidade?

Antes disto, Vilela era aliado dos que são oposição hoje. Naquela época, era ele alguém desta “elite” e que – ao longo de uma trajetória – deixou de ser?

O discurso de Vilela tem seus “furos de lógica”. Nos últimos anos ninguém esteve mais no poder – em Alagoas – que os tucanos. O comando do governo do Estado de Alagoas, o comando da Assembleia Legislativa e ganharam a Prefeitura de Maceió, além de outras cidades do interior importantes. Não se trata nem de quantidade, mas de ocupar espaços políticos que contribuiriam e muito para transformação da realidade do Estado. E – reconheço – muita coisa foi feita de importante neste período.

Mas muita coisa não foi mudada.

Entre tucanos, também há aqueles que se apegam ao poder – em seus espaços no parlamentos  e dentro da estrutura estatal – e não querem abrir mão deste. Novamente, este discurso maniqueísta é falho. O que se vê é uma candidatura isolada porque aliados não acreditaram na viabilidade e no empenho, não se satisfizeram com os espaços e pularam do barco. Foram em busca do que julgaram ser mais fácil. Faz parte da política.  Cada partido pensa no melhor caminho para ocupar espaços nas proporcionais. Um jogo matemático até. De probabilidades e somas de cociente eleitoral. Vilela não sabia disso com sua experiência?

Do outro lado, um bloco de oposição (que nem é tão oposição assim a julgar pelo traçado genealógico da política alagoana; um dia todos estiveram na mesma arca e podem estar no futuro a depender do dilúvio que os ameace sair do poder) previamente montado para ser gigante e demonstrar força. O desafio da oposição será sempre congregar tantos interesses individuais e de poder mesmo. Inclusive, em uma vitória, não lotear o Estado e perder os rumos de governo. Isto em caso de vitória. Por fim, se o maniqueísmo é bobagem de um lado; obviamente que também é do outro.

Para Tavares, ao fim de tudo, investir no discurso de “terceira via”, assumir a candidatura do governo com ônus e bônus e tentar fazer do limão uma limonada, em uma chapa majoritária que vai ao pleito manca, pois ainda não se sabe nem quem vai disputar o Senado Federal neste grupo, já que há tucanos – conforme bastidores – que declinaram do convite. 

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