Como destaquei neste blog, no dia de ontem, tive uma longa conversa com o prefeito Rui Palmeira (PSDB) sobre diversos pontos da administração e também sobre o cenário político. Ainda ontem, publiquei o que Palmeira pensa da decisão do partido em lançar a candidatura de Eduardo Tavares, além da posição dos tucanos no pleito.
Dividi – como já anunciado ao leitor – a entrevista em dois blocos. No primeiro, só sobre eleições e política. No segundo, gestão. Segue o texto com esta segunda parte. Em foco, as ações da Saúde, Educação, e mobilidade urbana.
O senhor – ainda durante a campanha – colocou os problemas da Saúde do município de Maceió como uma prioridade. Apontou isto novamente em seu primeiro ano de mandato. Porém, o que ainda se vê são sérios problemas área e que a prefeitura ainda tem muitas dificuldades de superá-los. Qual a avaliação que o senhor faz hoje do que foi feito e do que se enfrenta?
Realmente ainda temos muitos problemas. Infelizmente a desestruturação que encontramos foi tamanha que o trabalho tem que ser ainda reforçado. Você vai para a parte física da rede e vê que é muito ruim. Fechamos um processo de licitação agora para 36 reformas que serão com recursos estaduais e municipais. A gente conseguiu este dinheiro em setembro, mas a burocracia só nos permitiu fechar esta licitação agora. Já licitamos sete novas unidades para substituir algumas que estão adaptadas, como no caso do Bebedouro. Vamos focar nestas trocas. Das 70 unidades, teremos até o próximo ano 80% da rede completamente reestruturado. Isto vai dar uma aliviada. Um dos problemas tem sido este com a estrutura física que infelizmente é muito ruim.
Mas este é um dos pontos, prefeito. E no caso do Programa Saúde da Família (PSF). O senhor assumiu a prefeitura com uma cobertura de 27%. Há informações que apontam para a queda desta cobertura. Isto procede?
Não houve queda. A cobertura é a mesma de 27%. A grande questão é que nós queremos que esta porcentagem efetivamente funcione. O problema é que dentro destes 27% há equipes que não funcionam adequadamente, você tem que apertar para a coisa andar. Um dos agravantes do PSF é que o governo federal, desde 1995, pagava R$ 9 mil que bancava praticamente 100% da equipe. Hoje são pagos os mesmos R$ 9 mil. A equipe em Maceió – pelo valor dos salários, que são os mais altos do Nordeste e até do Brasil – custa mais de R$ 60 mil. Qualquer ampliação de número de equipes tem um peso grande em função dos investimento que precisam ser feitos com recursos próprios. Maceió paga com recurso próprio, podendo pagar com federal. Estamos buscando migrar custos para aliviar os nossos custos e conseguirmos investir em outros pontos com recursos próprios. Com a reestruturação da rede, a implantação do ponto eletrônico em toda a rede de Saúde, e com estas migrações, vai dar certo.
O senhor falou do ponto eletrônico na rede de Saúde. São muitos os problemas de falta ou de irregularidades em função da ausência deste ponto?
Sim. Houve um caso na unidade Denilma Bulhões que chama a atenção. Lá, médicos que estavam de licença estavam recebendo por plantão. Existe muito isto. Estávamos fazendo esta triagem e vamos implantar o ponto eletrônico para cobrar do servidor que exerça o seu papel. O controle hoje – como é manual – fica a cargo do diretor administrativo. Então, é muito frágil. São 4.700 servidores.
A prefeitura tem esta mesma preocupação em outras áreas?
Bom, nós vamos começar um censo com os servidores da prefeitura. Vamos começar pela Saúde em função do número de servidores. São 4.700. Precisamos saber onde está esse povo todo. Eu acredito que o censo se inicia no início de junho. Está na fase burocrática. Precisamos identificar – especialmente no caso da Saúde – quem são estas pessoas e como podemos fazer para que se tenha um melhor serviço para a população maceioense.
A Saúde ainda é o problema mais grave do município?
É o mais grave do ponto de vista de gestão. É sim, o mais grave.
E sobre Educação? Como anda o quadro da Educação do município de Maceió?
Na Educação nós temos uma vantagem em relação à gestão. Como a professora Ana Dayse já passou pela pasta e conhece a situação, ela montou uma equipe experiente. A situação do ponto de vista estrutural também não era tão grave quanto na Saúde. Isto fez com que algumas ações pudessem correr mais rapidamente. Agora, na Educação também temos problemas de estrutura. Vamos licitar cinco reformas de escola, que são as piores, como Hélio Lemos e Rui Palmeira. São praticamente escolas novas que serão feitas. Das 140 escolas, 25 são alugadas. Nós queremos fazer a troca para prédios próprios. Estamos discutindo com o ISL que é o braço do Banco Mundial que trabalha com PPPs. Eles construíram escolas em Belo Horizonte (MG) e nós queremos trazer este modelo. É algo que estamos tentando para cá para construir entre 10 e 15 escolas por PPP e devolver estas casas alugadas. Temos buscando parceria com fundações, com metodologia e didática diferente. Buscamos estimular professores e alunos. Uma metodologia israelense chamada Mentes Inovadoras também tem sido trabalhado em 34 escolas. Estamos querendo sair fora do quadrado. Precisamos estimular professor e aluno. Sobretudo o aluno, pois ainda enfrentamos uma evasão escolar que é grande. O número de desistências ainda impressiona. Na Educação, temos trabalhado em buscar alternativas.
O senhor foi colocado como o segundo melhor prefeito do Nordeste. Como o senhor recebeu esta notícia? Na avaliação do senhor é algo merecido? Ao que credita isto?
Eu fico feliz. Só estimula a continuar o trabalho. Acredito que tem um dos viés que se começa a enxergar as obras na rua. O que impacta uma administração são as obras de rua. Mas há um trabalho feito nos bastidores que é de gestão e muito importante. Por vezes, não é visto pela população. O nosso foco em trabalhar projetos tem sido muito importante. Por meio dele, garantimos – por exemplo – mais de R$ 170 milhões em investimentos para obras de mobilidade urbana, encaminhamos projeto para o Ministério da Cidade. Serão obras no Benedito Bentes, Via Expressa, corredor central de ônibus. Tudo isto graças a este trabalho de bastidor. Criamos um escritório de acompanhamento destes projetos, com interlocução diária com a Caixa Econômica Federal (CEF) e buscando parcerias. Isto tem funcionado muito.
O senhor puxou o ponto dos investimentos na mobilidade urbana. Uma das principais ações neste sentido foi a faixa-azul. É como começar o bolo pela cereja. Ou seja: a faixa-azul deveria ser o último ponto de uma série de medidas. A prefeitura – apesar de ter feito uma ação positiva – não começou errado? Aproveito para pedir do senhor que faça uma avaliação da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito.
Em tese você está corretíssimo. A faixa-azul deveria ter sido a última medida, mas não poderíamos esperar. Se fossemos esperar este bolo - que você citou – ficar pronto, não saberíamos quando isto aconteceria. Então, optamos pela cereja do bolo de imediato e fizemos a faixa-azul. Ela trouxe benefícios enormes para os usuários, reduzindo muito o tempo de viagem e foi um investimento de muito baixo custo. Trouxe o impacto positivo esperado. Foi como aconteceu. E olhe que não é o modelo ideal. O trecho que o cidadão levava 2 horas, hoje leva – em média – 50 minutos. A gente começa pelo benefício imediato. Mas, para melhorar a qualidade do transporte precisamos da licitação, que novas empresas entrem, que tenha qualidade. Estamos construindo isto etapa a etapa. Uma das próximas ações é que todos os ônibus terão um GPS e você vai poder acompanhá-lo no seu celular, sabendo a hora que passará no ponto. O que também vai melhorar a fiscalização das viagens. Vai ter a sincronização dos semáforos na Avenida Fernandes Lima. Também será feito outros pontos. Vai ter monitoramento eletrônico na faixa-azul. Serão várias medidas em paralelo. Mas teríamos que começar como começamos. Serão várias ações paralelas, mas para que a população já sinta de imediato estas melhoras.
E a SMTT? O senhor tá satisfeito? Digo isto porque quem circula pela cidade tem se deparado com a ausência da fiscalização em muitos momentos, sobretudo em regiões mais problemáticas.
A dificuldade é grande. Maceió tem um 1 milhão de habitantes e 300 mil veículos. Criamos 50 novos cargos de agente, convocamos mais uns 70 novos agentes. Houve saída de alguns. Obviamente não dão conta. A gente precisaria de muito mais. Porém, há o problema financeiro que nos impede de avançar neste sentido. A capacidade financeiro é para o que nós temos. Temos que partir para a fiscalização eletrônica. Por exemplo, são diversos agentes concentrados na faixa-azul, que precisam ser deslocados para outros lugares. A fiscalização eletrônica vai permitir isto. Eu mesmo outro dia passei pela região do Centro e diante de algumas situações liguei para o Tácio (superintendente) e ele me respondeu com esta dificuldade. A questão da perícia veio para o município. Enfim, temos novas atribuições com uma estrutura defasada. Estamos buscando alternativas para incrementar a SMTT. Temos déficit de pessoal para a fiscalização, mas esbarramos no financeiro e temos que otimizar. O raciocínio é investir na fiscalização eletrônica e deslocar o agente para o Centro, região da praia, Jacintinho que é onde precisa mais, não deixando ele parado em um ponto específico.
O que o senhor pode trazer na bagagem da viagem que fez a Bogotá?
Foi uma viagem bastante positiva. Eles conseguiram adotar modelos que são copiados no mundo. O transporte BRT é uma cópia do que era Curitiba de forma aperfeiçoada, com uma tecnologia que hoje eles exportam para a Europa. Nós podemos adaptar soluções de outras regiões para Maceió. Experiências que deram certo em outros lugares – não apenas lá – devem ser trazidas. O trânsito lá tem os mesmos problemas que Maceió, com a diferença que o coletivo lá funciona. É de forma organizada. A gente visitou a sede do transmilênio que é uma empresa pública com capital privado. É muito interessante. Com estes exemplos, conseguimos mudar a nossa realidade. Há ainda o ponto do enfretamento da violência. Tivemos em Medelín e pudemos perceber isto. Uma cidade que já foi muito violenta e hoje tem índices europeus. Com estas experiências, podemos adaptar como faremos no Jacintinho com a Casa de Direitos. A Caixa está bancando a obra e teremos lá um lugar com vários serviços para a população. É bem semelhante a um modelo que vimos em Bogotá. Este espaço terá serviços, ações educativas, enfim. O importante é conhecer e replicar com as adaptações para a nossa realidade. Maceió tem que buscar alternativas. O que for positivo não é demérito ser copiado quando for possível.
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