“Mamãe, eu estou começando a concordar com o Gaston. Assim, porque a Bela tem que ler nos lugares certos”, questionou Bárbara Amorim, 6, ao escutar a história da Bela e a Fera contada por sua mãe. No conto, a personagem de Bela costuma ler na rua. Pode parecer algo simples, mas a situação vivida por Bárbara representa um momento bem peculiar no universo literário. Para celebrar o Dia Nacional do Livro Infantil, comemorado nesta sexta-feira (18), o CadaMinuto conversou com a advogada Sara Albuquerque, a jornalista Maryana Damasceno, ambas com livros infantis publicados, e a mãe e professora Audinéa Amorim.
Audinéa, que é mãe de Bárbara, 6, e Lavínia, 3, explica que sempre incentivou as filhas a terem maior contato com a literatura. “Quando estava grávida, o meu médico dizia que fazia bem ler para a criança para que ela pudesse escutar a minha voz e assim fiz, lia sempre. Mesmo quando a Bárbara não sabia ler, eu dava livros para que ela manuseasse e olhasse as ilustrações. Engraçado é que depois eu a via apontando para os personagens e recriando a história. O mesmo está acontecendo com a Lavínia”, disse
Ainda de acordo com Audinéa, o dia a dia como professora lhe permite ver de forma mais clara a falta de gosto dos jovens pela leitura. “Eu observo que os alunos não têm o hábito de ler. São jovens que não tiveram contato com livros quando crianças e que, agora, não têm interesse pela literatura. Diante deste cenário, passei a incentivar, ainda mais, as minhas filhas a terem maior contato com a leitura”, conta.
Segundo a educadora, atitudes simples tomadas pelos familiares, como ler para as crianças até que durmam, presentear com livros, ir a eventos literários e administrar o tempo para assistir televisão e brincar são fundamentais. “É importante administrar os horários que a criança tem para brincar, estudar, assistir televisão e ler. Somado a isso, é importante quando os pais mostram interesses pelas atividades realizadas pelos filhos. Se a criança está lendo um livro pergunte se ela está gostando, qual o personagem preferido. Estimule a interação com a leitura. Incentive-a”, ressalta.
Jovens escritoras
Autora dos livros infantis "O Segredo do Rio Mundaú", "O embrulho misterioso de Nina" e "Ei, você viu Luizinho?", a advogada e escritora Sara Albuquerque diz que a inspiração para escrever o primeiro livro veio da “criança interior” que tem dentro de si. “Quando decidi escrever o meu primeiro livro infantil, eu dei uma espiadela na criança interior que adormecia dentro de mim. Inspirada na ingenuidade e curiosidade dela, passei a perceber o mundo com a mesma admiração de quem o observa pela primeira vez, o que me fez questionar o aparentemente óbvio e enxergar beleza e valorização nas ações mais simples do dia-a-dia”, destaca a escritora.
Sobre os desafios de escrever para crianças, Sara explica que o importante é fazer com que ela se identifique com o modo que a história é retratada. “Ao escrever tenho uma preocupação constante com a linguagem, com a intenção de ser lúdica, com a criatividade e a inovação na arte de escrever. É necessário se questionar e responder com franqueza: se fosse criança, eu teria interesse e curiosidade em ler minha história?’”.
Para a escritora, escrever para o público infantil é recompensador. “Escrever para este gênero é prazeroso e recompensador porque aguça minha sensibilidade diante da realidade que me cerca e me proporciona alegrias que, antes, com o olhar de adulta, eu não conseguia enxergar.”, disse.
Sobre a leitura, Sara destaca sua importância para a formação social da criança e ressalta a influência dos pais em estimular os filhos a conhecerem a literatura regional e brasileira. “A leitura é um dos instrumentos mais importantes para a formação social de uma criança. Porém, ela não é um depósito de informações. Os pais devem estimular a criação de ideias e a construção de um pensamento crítico. Além disso, eles podem inserir a criança no conhecimento da literatura infantil brasileira e local em vez de só direcionar a leitura de livros estrangeiros clássicos. O Brasil tem uma vasta gama de escritores que enveredam pela literatura infantil, tanto que não são poucos os projetos e prêmios que visam ao estímulo de criação por parte destes no país”, finalizou.
Autora do livro “O Marinheirinho do Pontal”, a jornalista e escritora Maryana Damasceno destaca a necessidade de incentivar a leitura ainda quando crianças. “Leitura é um hábito que se desenvolve. Se os pais e a escola incentivam a criança a ler, provavelmente, ela vai ser um adulto leitor. Criança é exigente. Se ela começa a leitura e se envolve, ela termina de ler, mas se não gosta, não continua, principalmente, hoje, em que há tantas opções de lazer. É cada vez mais importante e necessário o incentivo dos pais e da escola”, explicou.
Maryana ressalta ainda o cuidado com o linguajar ao escrever um livro infantil. “Ao escrever tenho enorme cuidado com o linguajar, com a escolha das palavras e de oferecer às crianças uma história interessante, com aventura e mistério para que ela tenha interesse pela leitura”.