Com uma lata de água na cabeça, assim como na letra da música que ficou famosa na voz de Elza Soares, a sertaneja Maria Roseane, hoje com 36 anos, viu a infância e parte da adolescência passarem tendo como obrigação carregar água para ajudar a mãe nas tarefas de casa. Mas diferente da Maria da canção, que subia e descia morro para buscar água, Maria Roseane caminha quilômetros sobre o chão acidentado, entre mandacarus e palmas, no povoado Rabeca, em Delmiro Gouveia. O sol e a seca faziam a criança Maria questionar o porquê de tanto sofrimento.
“Claro que as outras crianças aqui do povoado também tinham a mesma rotina de ter que pegar água para ajudar os pais nas obrigações de casa, como cozinhar, lavar, tomar banho e ter água para beber”, lembra a Maria alagoana. “Mas eu perguntava por qual motivo eu, uma criança, tinha que deixar de brincar para carregar uma lata de água pesada na cabeça, embaixo de um sol muito quente. Mais velha, entendi que era a realidade do Sertão, onde até hoje falta água e o sofrimento é grande”.
Casada e com dois filhos, a dona de casa tem água encanada na modesta casa do povoado Rabeca, mas não suficiente para suprir todas as necessidades. “Mudou um pouco, mas não podemos utilizar a água sempre, até porque somos agricultores, temos necessidade de plantar. Se fôssemos usar água para plantar, não teríamos como pagar a conta, por exemplo”, explicou a dona de casa.
A realidade de Roseane está prestes a mudar. Em frente à sua residência está sendo construída parte da obra que vai transformar a vida dos moradores da região, como ela mesma lembra: uma Estação de Tratamento de Água (ETA) do Canal do Sertão.
“Acompanhamos todos os dias as obras aqui e estamos muito contentes. Queremos que o Canal do Sertão fique pronto logo para a gente parar, finalmente, de sofrer. Com água nas torneiras, vamos poder plantar, dar de comer ao gado e, no meu caso, não vou ter que colocar meus filhos para carregar lata de água na cabeça como aconteceu comigo na infância”, comemora Maria Roseane.
A pressa da sertaneja é compartilhada pelos envolvidos na obra, que está em funcionamento e já leva água ao longo de 65km. Marco Fireman, que esteve à frente da Secretaria de Estado da Infraestrutura nos últimos sete anos, destaca o desenvolvimento que o Canal do Sertão traz para a região. “Marcado historicamente pela seca, o Sertão alagoano começa a superar a falta d’água, os racionamentos e o sofrimento por conta da estiagem. A realidade já está mudando para agricultores como a Maria”, afirma.