Há cerca de quatro anos, dores fortes nas mãos e nos dedos levaram a jornalista Janaína Ribeiro a uma emergência, onde foi diagnosticada com tendinite e, durante 15 dias, não pôde utilizar o computador - seu principal instrumento de trabalho - para escrever.

A alagoana, que lida até hoje com o incômodo, está entre as milhares de pessoas afetadas no País por problemas decorrentes da  Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho(Dort). Segundo dados do Ministério da Previdência Social, as doenças englobadas pelas duas siglas são responsáveis pela maioria dos afastamentos do trabalho.

“Sei que a doença surgiu por causa do uso excessivo do computador. Sempre que eu digitava sentia os dedos e as mãos doerem muito, mas devido a minha profissão preciso usá-lo todos os dias da semana e, muitas vezes, nos finais de semana também. Não tenho como evitar”, explicou.

Após um diagnóstico mais aprofundado, a jornalista descobriu que tem tendinopatia nas duas mãos e bursite nos ombros. Ela conta que em uma das crises a mão precisou ser engessada, mas, em geral, é necessário apenas usar uma tipóia no membro enfaixado e tomar antiinflamatórios.

"A dor já faz parte da minha rotina. Sou obrigada a conviver com ela, infelizmente", disse Janaína, explicando que, desde a primeira crise, tenta administrar o problema, mas não segue nenhuma rotina preventiva.

“Quando sinto os dedos doendo muito, sou obrigada a parar para evitar que a crise se instale, porque ela ataca sem piedade: fico sem movimentar a mão inteira, nem os dedos consigo dobrar”, relata, confessando que o problema se agravou com o surgimento do WhatsApp, aplicativo que possibilita a troca de mensagens de áudio e texto no celular, do qual é fã.

Sintomas

Segundo a terapeuta ocupacional Diany Ibrahim, coordenadora do Núcleo de Atenção Integral à Saúde e Segurança do Trabalhador (Naisst) da Uncisal, embora atinjam milhares de pessoas, os dados relacionados a LER/Dort são subnotificados no Estado e, provavelmente no País.

A terapeuta explica que, tanto as LER como as Dort são um conjunto de doenças que pode resultar na limitação ou perda da capacidade laboral e também das atividades cotidianas e de lazer. “As semelhanças é que elas são causadas por um quadro de inflamação que compromete músculos, tendões, e nervos dos membros superiores e que são provocadas por atividades repetitivas durante um longo tempo. Dentre as mais conhecidas estão as bursites, epicondilites, cervicobraquialgias, tenossinovites, tendinites e a síndrome do túnel de carpo”, afirmou.

Na maioria dos casos, os sintomas precoces são a sensação localizada de desconforto ou peso, anestesiamento, formigamento ou dor, de início leve ou inconstante, que pode se irradiar, se tornando espontânea e contínua.

“A dor é o mais frequente, incômodo e limitativo dos sintomas. A edemaciação, as variações de calor ou cor locais, a dor forte e persistente são sinais sugestivos do estado avançado das lesões, que se fazem acompanhar de redução maior ou menor dos movimentos e de incapacidade funcional temporária e até definitiva. É importante atentar que as patologias são causadas tanto pelo esforço repetitivo como pelo uso excessivo de força, mas também pela postura inadequada e o estresse, tão comum nos dias atuais”, afirmou Diany.

Entre os profissionais mais sujeitos a sofrer com essas enfermidades estão os bancários, operários fabris, cabeleireiros, costureiros, digitadores e todos aqueles que realizam movimentos repetitivos, extenuantes e, frequentemente, associados à pressão, seja em função do tempo ou da produção.

Limites

A especialista alerta que, embora sejam consideradas umas das mais preocupantes doenças relacionadas ao trabalho, as LER/Dort podem ser agravadas por atividades esportivas (tênis e boxe), musicais (piano, violão), manuais (costura) e até pela digitação em redes sociais como Facebook, WhatsApp ou Twitter.

 “Os limites incluem a vigilância do próprio indivíduo em não negligenciar os primeiros sintomas e procurar ajuda profissional. Também é importante ter pausas e intervalos de descanso tanto durante a jornada de trabalho como fora dela, controlando o tempo de uso da Internet, por exemplo”, destaca.

Segundo a terapeuta, embora pareçam males da atualidade, essas doenças são antigas. Há relatos desde o começo do período industrial, no século XIX, devido à intensa jornada de trabalho dos operários nas fábricas. “Hoje, parte das lesões causadas pelas doenças sócio-ocupacionais está diretamente relacionada às alterações tecnológicas, mas os riscos à saúde do trabalhador nesse campo ainda são pouco conhecidos e de difícil controle”.

Diany diz que é preciso estar atento para os primeiros sintomas e procurar ajuda médica – geralmente de um ortopedista ou médico do trabalho - para um diagnóstico precoce e iniciar o tratamento medicamentoso, que pode envolver ainda fisioterapia, terapia ocupacional e, em casos mais graves, indicação cirúrgica.

“O diagnóstico tardio pode trazer complicações, uma vez que a doença pode passar para um estágio mais avançado, causando limitações temporárias ou permanentes e, em casos mais graves, a perda da capacidade laborativa, além de limitações graves em suas atividades de vida diária”, alerta, lembrando que a fisioterapia e a terapia ocupacional podem atenuar os sintomas, evitar o agravamento e reabilitar para exercer a função, reduzindo os esforços desnecessários, tanto nas atividades ocupacionais quanto nas atividades diárias e de lazer.