Há três meses, quando era candidato a presidente do Partido dos Trabalhadores em Alagoas, o deputado estadual Judson Cabral tinha a defesa de uma postura mais altiva do partido na formação de alianças como um dos principais argumentos para pedir votos à militância. À época, explicava que, apesar de ter três deputados estaduais e um deputado federal, o PT demonstrava “fragilidade tremenda”, por não ocupar os espaços de poder em candidaturas majoritárias. O petista afirmava que o partido deveria deixar de ser coadjuvante de outras siglas como o PMDB, do presidente do Congresso Nacional Renan Calheiros; o PDT, do ex-governador Ronaldo Lessa, e PTB, do senador Fernando Collor, como ocorreu nas últimas eleições.
Agora apontado como nome preferido para compor, como vice, a chapa oposicionista que tende a ser encabeçada pelo deputado estadual Renan Filho (PMDB) para disputar o governo estadual, Judson Cabral discorda de que a possibilidade de ser vice e, portanto, coadjuvante no processo eleitoral, contrarie o discurso que fazia em novembro de 2013.
“Na realidade, o que defendemos foi que o PT se posicionasse com mais autonomia para ocupar os espaços e para debater um projeto. O fato em si de, lá frente, fazer aliança com um partido de base aliada [a Dilma], acho natural. Agora, o partido não pode, antes do debate, já sentir que vai disputar o espaço de ajudante, de coadjuvante. Não. Eu [o partido] vou disputar um espaço majoritário, que é senador, governador, vice... Ora, na composição em si, cabe a discussão, se chegarmos a uma afinidade de projetos. Até porque o PT Nacional tem o PMDB como vice da Dilma”, avaliou Judson Cabral, ao final da sessão de ontem da Assembleia Legislativa.
Com a defesa de mais altivez do PT na política local, Judson perdeu a disputa pela Presidência do PT em Alagoas para o deputado federal Paulão. Mas já considera a posição de vice-governador como sendo justamente um dos espaços de poder que os petistas alagoanos deveriam ter conquistado, após quase 12 anos liderados nacionalmente por Lula e Dilma Rousseff. Porém, cobra um debate prévio do projeto que tal chapa potencialmente liderada por Renan Filho teria para governar Alagoas.
“De qualquer forma, posso traduzir, em nome de meu partido, que meu nome ser citado para ocupar um espaço majoritário é uma demonstração de que há fortes condições de o PT estar em um projeto majoritário. Agora, eu preciso conhecer este projeto. O PT precisa discutir um projeto para Alagoas. E eu não participei de nenhum debate dessa natureza. Especificamente, inclusive, não se oficializou e os partidos não se manifestaram, até agora. Só se cogita. E como a gente sabe que se deixa as decisões para a semana das convenções, espero que qualquer discussão majoritária seja feita partidariamente para tornar claro qual é o projeto que o PT vai participar. Eu quero saber de projeto, não de uma mera aliança”, ressaltou Judson Cabral, depois de garantir ser candidato ao parlamento, em entrevista à jornalista Vanessa Alencar.
Para arejar a chapa e atrair Dilma
Ao declarar internamente que prefere o nome de Judson Cabral como vice de sua chapa, Renan Filho defendeu que o deputado estadual petista tem ficha limpa, ótima aceitação entre eleitores da capital e um discurso forte e equilibrado de oposição ao governador Teotonio Vilela Filho (PSDB).
Todos os passos dos grupos políticos, de agora até a vésperas das convenções de julho, têm sido fundamentados em pesquisas qualitativas. Mas outro objetivo claro do desejo de Renan Filho é o de atrair o apoio da presidente Dilma, apesar do racha inevitável em sua base aliada em Alagoas.
A presidente não deve precisar vir a Alagoas para garantir sua votação para o projeto de reeleição. Mas o peso da aliança local com o PMDB do vice-presidente da República Michel Temer e do presidente do Congresso Nacional Renan Calheiros pode atrair Dilma ao solo alagoano, quem sabe, ainda em um primeiro turno.
É o início do rompimento inevitável da Frente de Oposição. Vamos ver como os 17 partidos se realinham depois do baile de máscaras de Arapiraca, no último dia 14.










