Aclamado pelo público e pela crítica, com diversos prêmios recebidos, Laurentino Gomes é o nome que se encontra entre as principais listas "dos mais vendidos" do país, na atualidade. O detalhe: figura nestas listas por conta da releitura histórica que fez sobre três importantes anos do país: 1808, 1822 e 1889. Estes formam uma trilogia famosa que tem encantado justamente por separar mitos e homens.

Gomes concedeu uma entrevista exclusiva ao CadaMinuto Press que vai às bancas nesta sexta-feira. O escritor e jornalista fala sobre diversos assuntos relacionados à sua obra, destacarei aqui apenas duas reflexões de Laurentino Gomes diante dos questionamentos de nossa equipe de reportagem. No impresso, o leitor terá acesso à íntegra da entrevista.

Questionei a Gomes o fato do Brasil ser um país que lê pouco, ainda mais dentro de um contexto em que as redes sociais fomentam muitas discussões que vão de política à religião; algumas vezes debates pautados pela pouca tolerância. Indaguei como ele avaliava este contexto e como poderíamos estimular a leitura.

Eis a resposta: "acredito que nós temos um desafio de linguagem no Brasil. Infelizmente, uma boa parte dos livros brasileiros usam linguagem excessivamente técnica e, às vezes, até pedante, difícil de entender. Isso afasta os leitores. Eu procuro demonstrar com os meus livros é que a História pode ser fascinante, divertida e interessante, mas sem ser banal. A linguagem e a técnica jornalísticas ajudam a tornar a História um tema acessível e atraente para um público mais amplo, não habituado ao estilo árido e, às vezes, incompreensível dos livros acadêmicos. Portanto, tento servir de filtro entre a linguagem especializada da academia e o leitor médio. Além disso, não me limito a pesquisar os livros e fontes tradicionais".

Ele ainda complementa: "vou aos locais dos acontecimentos de duzentos anos atrás, mostrando como estão hoje. Procuro atualizar valores da época, fazer comparações e dar exemplos. O estilo dos três é o mesmo: capítulos curtos, pequenos perfis dos personagens e linguagem acessível. Isso explica também os subtítulos das três obras. Esse recurso bem humorado é usado com o propósito de provocar o interesse do leitor, como se faz, por exemplo, num título de capa de revista ou numa manchete de jornal. No texto eu combino análises mais profundos dos acontecimentos e personagens com detalhes pitorescos, surpreendentes e divertidos. Tudo isso ajudar a atrair e reter a atenção do leitor". O escritor arremata: "e ninguém precisa sofrer para estudar História".

Em seguida, perguntei a Laurentino Gomes como ele avaliava a recente democracia brasileira depois de ter revisitado séculos passados. "Ao longo de sua história como nação independente, o Brasil falhou na tarefa de realizar coisas importantes, como prover educação para todos, incorporar os ex-escravos na sociedade produzida, reduzir a pobreza e formar cidadãos capazes de conduzir os seus próprios destinos em um ambiente de democracia. Infelizmente, o Brasil é ainda um país messiânico, de salvadores da pátria", responde.

De acordo com o autor de 1889, "as pessoas participam pouco da atividade política, não vão a reuniões de condomínios ou de pais nas escolas, desprezam os partidos políticos, não ligam a mínima para os sindicatos e associações de bairro, ou seja, são totalmente ausentes das decisões que afetam a sua vida, mas cobram muito do Estado. É o que se viu nas manifestações de rua recentemente".

"Acho que essa é uma herança ainda da época da monarquia, em que um rei ou um imperador – supostamente mais instruído, culto, sábio e bem intencionado do que a média da população – teria a missão de cuidar do bem-estar geral e prover as necessidades de todos. A nossa república tem mantido ao longo dos anos essa prática monárquica. As pessoas esperam que um líder forte resolva tudo sem que elas precisem participar das decisões e dividir as responsabilidades. Esse foi o papel desempenhado por Getúlio Vargas, o pai dos pobres, e também pelos generais do regime militar de 64. E continua ainda hoje, com FHC, o homem que domou a inflação, ou Lula, um novo pai dos pobres, ou Dilma, a mãe dos pobres e do Bolsa Família. Nosso desafio atual é educar as pessoas para que se tornem cidadãs de pleno direito, capazes de romper essa herança histórica e participar da atividade política sem depender mais de salvadores da pátria", destaca ainda.

A entrevista passeia por outros pontos da história e dos livros. Repito: o CadaMinuto Press chega às bancas nesta sexta-feira, dia 21. 

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