Interessante como as pessoas de um modo geral têm muito mais facilidade para criticar do que para elogiar. Não que não devam criticar. A crítica deve ser encarada como contribuição para a mudança e para um futuro melhor, não deve ser vista como algo pessoal, mas como um alerta para que ações reprováveis não se repitam.
A democracia, assim como a liberdade de imprensa e a livre manifestação do pensamento, são institutos que viabilizam o ativismo social, a participação popular e incentivam a prestação de contas do agente público e político. Entretanto, a mesma democracia tem gerado um comodismo social. É muito mais fácil unir-se ao coro que desqualifica políticos e Instituições Públicas, a levantar do sofá e procurar um meio de estimular ações diferentes.
Houve um tempo em que a vida particular de políticos não interessava a ninguém, bastando ao interesse público a vida pública do agente público. Hoje não, as pessoas têm demonstrado cada vez mais interesse por traições conjugais, relações homossexuais, filhos fora do casamento, briga de família e toda sorte de escândalo digno de tabloides. A imprensa marrom tem se encarregado de “matar” essa curiosidade saciando-a e alimentando-a sem maiores escrúpulos.
O pensamento coletivo tem sido tão raso e de uma frivolidade tão assustadora que o comodismo foi incorporado ao comportamento social com naturalidade. Fala-se mal da classe dos políticos, generaliza-se a administração pública depreciativamente e assim vão se eximindo do processo democrático. Audiências públicas têm se tornado piada. Muito por culpa da própria população, mas também pela total falta de consciência política.
A situação que sempre foi buscada por regimes totalitários, paradoxalmente, tem sido conseguida justamente pela democracia. Não sendo estimulada – a consciência política – facilita a perpetuação no poder dos políticos carreiristas – aqueles que merecem mesmo todas as críticas, e que pouco se importam, repetindo constantemente os mesmos atos reprováveis.
Recentemente, lendo “A civilização do espetáculo”, de Vargas Llosa, achei interessante e concordei sobremaneira com as análises do mestre. Llosa apontou o comportamento da sociedade – ávida por notícias ruins, por vidas tristes e por mazelas, para que suas próprias moléstias não lhe pareçam tão incômodas – como propulsora para o comportamento do jornalismo, que se alimenta e alimenta os consumidores de notícias com as piores informações, evitando análises mais profundas e a apresentação de sugestões, correspondendo, assim, às expectativas do público cada vez mais superficial, preocupado com quantidade e velocidade da informação e não com a qualidade e a apuração.
De quem é a culpa não é fácil dizer. Quem alimenta quem? A sociedade, a mídia, o poder, o dinheiro? O que se tem por certo (certo porque a história mostra diariamente que é o certo) é que a democracia e as liberdades individuais, por mais criticadas que sejam, não podem ser violadas, não podem ser suprimidas. A pior democracia será sempre muito melhor que qualquer regime autoritário e censor.
Mas a melhor democracia tem que ser estimulada com ações mais participativas, dentro ou fora do cenário político partidário, mas estimulando comportamento probo, verdadeiro, legal e altruísta. De nada adiantará a democracia formal, aquela na qual vivemos, mas não usufruímos. Possuímos todos os mecanismos legais – ainda que deficitários – para fazê-la funcionar com perfeição, inclusive com a possibilidade de mudança das leis e do próprio sistema.
O comportamento cidadão não pode perder espaço para o entretenimento superficial. Ainda que seja natural a busca por “paraísos artificiais” (aqueles que entorpecem e aliviam as dores diárias), o cidadão não pode perder seu poder de indignação, sua disposição em contribuir, agir hoje pensando no amanhã e dar exemplos, deixar lições.