Muros que se transformam em grandes telas, céu que se transforma em teto, traços, cores e curvas que se transformam em arte. É o bairro do Jaraguá que se transforma em uma grande Galeria de Artes Visuais a Céu Aberto. Com o tema Cultura Popular, o projeto atraiu, desde a sua construção, olhares curiosos e admirados de quem passa pela Galeria.
“Uhu, tá massa!”, “Parabéns” e “Tá lindo” são alguns dos elogios ditos aos artistas que participaram do projeto de construção da Galeria. Além dos gritos, o barulho de buzinas e fotos são também formas das pessoas se manifestarem. Segundo Marta Arruda, curadora do projeto, o reconhecimento das pessoas se dá desde o início da construção da galeria.
“As pessoas passavam em carros ou a pé nos elogiando. São gritos de reconhecimento. Pessoas de diferentes classes sociais reagem às pinturas de forma muito bonita. É muito gratificante. Certa vez eu achei tão engraçado uma menina que ia trabalhar aqui perto. Bem tímida, ela falou ‘Parabéns, o trabalho de vocês está muito bonito’. Eu fiquei extremamente feliz”, diz Arruda, destacando que o projeto é uma forma de valorizar a cultura popular e o artista alagoano. “Os 12 artistas responsáveis de pintar o muro representam toda uma classe de artistas”, completa.
Para os artistas, o reconhecimento das pessoas é emocionante. O artista Izael Gomes, que pintou em muro pela primeira vez, considera a experiência do trabalho maravilhosa. “Eu nunca tinha feito pintura em muro, normalmente eu pinto telas e faço ilustrações”, diz. Sobre o reconhecimento das pessoas, Izael afirma que ficou emocionado. “Quando eu ouvi as pessoas gritando ‘lindo’, ‘maravilhoso’ e ‘parabéns’ eu fiquei emocionado. É uma gratificação muito grande”, desabafa.
Sobre a galeria, Izael ressalta a unidade no ambiente. “O interessante é que apesar de cada pessoa trabalhar com o seu estilo, há unidade na galeria, ficou um conjunto. Os temas combinaram, não há nada solto”, finaliza.
Para o artista Pedro Lucena, a experiência de participar do projeto foi positiva. “A experiência de pintar em muros foi super legal”, afirma, explicando que se inspirou nos folguedos para realizar o trabalho.
O artista Persivaldo Figueroa explica que começou a pintar muros há 18 anos, aproximadamente. “Nós começamos pintando muros na cidade e no interior, durante algumas viagens e caravanas culturais. Todos eram inexperientes, mas, ao longo do tempo, cada um foi desenvolvendo a sua técnica”, explica.
Com mais experiência em artes plásticas, o artista destaca as vantagens de retratar a cultura em muros. “O muro dá uma visibilidade maior. É uma vitrine do que você faz. Com projetos como este, todos ganham”, ressalta Figueroa, que pintou temas voltados aos folguedos, com destaque para as danças e o colorido da cultura popular.
Sobre o reconhecimento das pessoas, Figueroa diz que durante o tempo que esteve pintando recebeu muitos elogios de quem passava pelo local. O artista destaca ainda a preocupação das pessoas em relação às pichações. “Durante este tempo, nós percebemos que quando o muro está pintado, não existem os pichadores. De certa forma, eles respeitam o nosso trabalho”, afirma.
O projeto
O trabalho foi realizado por 12 artistas plásticos, que com temáticas diferentes, revelaram a cultura alagoana em telas gigantes. Os artistas responsáveis são Persivaldo Figueroa, Achiles Escobar, Rosivaldo Reis, Levy Paz, Mirna Maracajá, Sandra Neves, Emerson Magalhães, Adriana Jardim, Pedro Lucena, Herbert Loureiro, Edmilson Oliveira e Izael Gomes.
Foram mais de dez dias de trabalho. Oficialmente, o trabalho deveria ser realizado das 16h às 23h, mas, quem passava pelo local em outros horários percebia o empenho dos artistas. “Para que o projeto fosse concluído, nós passamos a madrugada por dois ou três dias seguidos. Alguns dias nós ficamos até às 5h, para retornar às 9h. Fico feliz em perceber que o esforço valeu a pena”, afirma a curadora do projeto Marta Arruda.
A diversidade e o estilo são diversos. Na galeria, tem arte moderna, tradicional e o cubismo e, os temas, escolhidos pelos próprios artistas, variam. Assim, a galeria possui arte retratando os Guerreiros, baianas, Nega da Costa, banda de pífanos, história em quadrinhos retratando a história do Jaraguá, o carnaval, dentre outras. “É uma grande galeria. Aqui é possível educar o olhar”, afirma.
Sobre a escolha dos temas, Arruda destaca o cuidado com que tudo foi feito. Houve uma preocupação dos artistas e da prefeitura. “Não é só dizer ‘Pinte o muro’, mas é
pensar naquilo que é importante. É pensar no trabalho considerando a infraestrutura, o meio ambiente. São detalhes que fazem a diferença. Por exemplo, para receber as artes, o muro foi pintado com tinta acrílica piso, após ser lixado e lavado”, detalha a curadora.
Outras edições
Arruda explica que a ideia da galeria surgiu há 17 anos. “A ideia era despertar o interesse pelas artes visuais. Não havia um tema definido e todos poderiam pintar”, explica.
A segunda versão, que aconteceu há seis anos, foi a convite do município e teve como tema a cultura afro. Agora, em sua terceira edição, o projeto é realizado pela Prefeitura de Maceió, tem a participação de doze artistas e a Cultura Popular como tema.