Aposentado, funcionário da Prefeitura de Nilópolis e papagaio de pirata, sua principal e mais amada função. Profissão pela qual lutou até seu último dia de vida, aos 84 anos. Assim Jaime Sabino criou o Sindicato dos Papagaios de Piratas, ainda clandestino, para os profissionais que passam a vida tentando aparecer atrás dos entrevistasdos nas câmeras de televisão. Durante o seu velório, na tarde de ontem, era constantemente lembrado pela sua vontade e dedicação à profissão.

— Ele nos incentivou e nos ensinou. Criou o sindicato, era o presidente e lutava para profissionalizar o trabalho. Quando sabia de algo, ligava para todos nós marcando. Não havia rivalidade, sempre nos ajudávamos — contou Edson Gaspar.

Jaiminho, como era conhecido, não era papagaio para aparecer. Fazia por honra. Por ter perdido o enterro dos seus pais, afirmava que participava de outros funerais para honrar os pais.

— Ele só participava dos enterros de quem tinha feito algo para o país. Era uma homenagem dele — contou Alex Teixeira, que faz um documentário sobre a vida e trabalho de Jaiminho.

Aos sete anos de idade, cansou-se dos castigos com palmatória na escola e veio, sozinho, pedindo carona até o Rio. Sempre alinhado em um terno e gravata — que era obrigado a usar desde novo —, não tirava o uniforme nem para dormir. A coleção de roupas, que também o acompanhava nos velórios e viraram sua marca chegou a 300.

— Ele dormia de terno, dizia que se morresse já estaria pronto — contou Alex.

O celular, outra marca sua, também não foi proposital. Após ter ficado famoso, e distribuído cartões — onde assinava como papagaio — recebia ligações durante as entradas ao vivo para poder se posicionar melhor na imagem.

— As pessoas ligavam, pedindo para ficar mais para um lado ou outro, falando que ele não estava aparecendo tão bem — contou o colega Nil Ramos, lembrando dos funerais ao lado dele.

O corpo de Jaime foi enterrado na tarde desta sexta-feira, no Cemitério do Caju, na presença de cerca de 30 amigos e outros papagaios. Acostumado com enterros, Jaiminho acabou sendo enterrado duas vezes. Após seu corpo já estar na gaveta, coveiros descobriram que ele havia sido enterrado no local errado e recomeçaram o processo para a gaveta certa.

Uma vida de histórias

No enterro da atriz Dina Sfat, em 1989, Jaiminho carregou o caixão ao lado do então prefeito Marcelo Alencar. Após tropeçar, Jaiminho e Alencar caíram dentro de uma cova. Durante a gravação do documentário, o papagaio de pirata contou que após a primeira queda, as pessoas tentavam o empurrar para as covas. No enterro de Jorge voltou a cair em um túmulo, quando lembrou ter sentido até os ossos baterem no sapato.

Ele começou e terminou a carreira em grande estilo. O enterro de Getúlio Vargas, em 1954, foi o primeiro em que compareceu. Sua última aparição, antes de problemas de saúde, foi no velório de Oscar Niemeyer, quando conseguiu driblar a guarda e carregar o caixão do arquiteto.

Antes de morrer, o papagaio já havia feito alguns pedidos. Um deles era que seu velório fosse documentado. Toda a cerimônia estará no documentário sobre sua vida, que será lançado no ano que vem, por Alex Teixeira. Jaiminho também pediu que fosse enterrado de terno de gala e que os amigos papagaios carregassem o caixão. Todos os pedidos foram acatados.