O negão não viu o dia nascer. Ele foi assassinado.
Era assim que o chamávamos, de negão simplesmente. Se tinha um nome oficial nunca chegamos a conhecer. Era um sujeito amigável, com um sorriso cheio de dentes –milagrosamente- alvíssimos apesar de não morar em lugar algum..
Os motoristas da rua confiavam- sem titubearem- a ele seu carro. Era um profissional em que muit@s confiavam. Pode botar fé patrão ou patroa- dizia com sua voz grossa de menino virando homem- e complementava com o seu bom dia, recheado de um brilho intenso no olhar.
Sabíamos muito pouco da sua vida. Deveria ter - se muito- uns 17 anos e vivia na rua- que é um lugar nenhum. Sua vida resumia-se a isso: tempos e espaços indefinidos.
E ele dentro da sua invisibilidade social fazia questão de fazer-se notar e caprichava na apresentação pintando de luz sua trajetória. Portava sorrisos.
Ele foi embora como deve ter chegado: meio que de repente.
Quem sentirá saudades de mais um preto jovem a menos?
Você se importa?
Comentários
Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.
Carregando..