Sem saída, Dilma quebrou o silêncio sepulcral d@s chef@s de Estado sobre a afrocarnificina que vivemos no Brasil

08/08/2013 11:09 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Um  artigo escrito por Douglas Belchior que merece profunda reflexão. Ei-lo:

 

Na última segunda-feira, dia 5 de agosto, a presidenta Dilma sancionou o Estatuto da Juventude. Na prática, essa Lei compila direitos dos jovens com idade entre 15 e 29 anos e reafirma os direitos já previstos nas áreas da educação, cultura, saúde e trabalho.

A aprovação do Estatuto é simbólica na medida em que há o reconhecimento por parte do Estado de que a juventude precisa de um olhar mais específico e cuidadoso. Mas o conteúdo do documento traz também controvérsias, sobretudo em relação ao direito a meia-entrada e ao desconto em ônibus intermunicipais – vetado por Dilma – temas que refleti em outro texto.

O que me trouxe ao teclado foi a intervenção do rapper GOG e do ator Érico Brás, em rápida participação, e a entrega de uma carta assinada por mais de 80 artistas, onde fora exigido o fim do genocídio da juventude negra; e a reação – se combinada ou espontânea, não sei – da presidenta.

Sem saída, Dilma quebrou o silêncio sepulcral dos chefes de Estado sobre a barbárie que vivemos no Brasil: “Eu considero que essa talvez seja a questão mais grave que a juventude brasileira passa, porque ela mostra um lado com que não podemos conviver pacificamente, que é o da violência contra a juventude negra e pobre” disse ela. E completou: “Não sou uma pessoa que deixei os meus compromissos democráticos quando assumi a presidência. Por isso, uma das coisas que eu considero mais graves no Brasil hoje é a violência contra a juventude. É o lado mais perverso”.

 No décimo ano de governo de seu partido, é certo que não se trata da primeira vez que a presidenta tenha ouvido dizer que dezenas de jovens negros são assassinados todos os dias no Brasil. Acredito que Dilma saiba que grande parte desses homicídios são promovidos pelas polícias e grupos de extermínio compostos por policiais.

Tampouco é novidade os números arrasadores que demonstram a “afrocarnificina” crescente, que desgraçadamente atingiram índices de guerra. O Mapa da Violência 2013 denunciou que entre 2002 e 2010, dos 467,7 mil homicídios contabilizados, 65,8% foram de pessoas negras. Enquanto o índice de brancos assassinados diminuiu 26,4%, o de negros aumentou 30,6%.

Nessa conta, não constam os números relativos aos 130 mil homicídios dos últimos 15 anos, que não foram oficialmente contabilizados, agora divulgados pelo Ipea, o que eleva o índice de mortes à estratosfera.

A solidariedade e a comoção empregada aos jovens de classe média e alta em seus momentos de dor, seja em tragédias de boates ou em protestos de asfalto, contrastam com a irrelevância do funkeiro assassinado em pleno palco ou da chacina nossa de cada de cada dia, na porta do bar ou na esquina de casa.

O assassino não pergunta ao pretinho se é assistido pelo bolsa família; se está matriculado no curso técnico; se frequenta o projeto social da Ong do bairro; se foi cabo eleitoral do deputado eleito pelo distrito; se está inscrito para a prova do Enem; ou se já marcou a entrevista no balcão de empregos da central sindical.

Levar políticas públicas para os “territórios de vulnerabilidade”, como propõe o programa Juventude Viva – que tem a missão diminuir o número de mortes entre jovens negros, é importante e necessário, mas insuficiente. Seria como alimentar o refém para que aguente a próxima sessão de tortura.

Se a presidenta quer combater o genocídio da juventude negra como disse, precisa ouvir a ONU e a Anistia Internacional e dar fim à Polícia Militar. Precisa desconstruir sua política homicida de segurança pública que tem nas UPP’s seu modelo padrão e como resultado o aumento do desaparecimento de civis. Aliás, Dilma (e seu aliado Cabral), cadê o Amarildo?

Faça Dilma! Guarde coerência entre o discurso e a prática ao menos em relação à população negra e terá nosso apoio! Ouça os grupos que tem insistentemente denunciando o genocídio da população negra nos vários estados brasileiros, como o Reaja na Bahia, o Fórum Estadual da Juventude Negra (Fejunes) do Espírito Santo, o Comitê de Luta Contra o Genocídio, que há anos construímos em São Paulo, e movimentos como MNU, Círculo Palmarino, Mães de Maio, entre tantos outros. Ouça e faça! Vocês governantes de hoje e elites históricas desse país nos devem muito mais do que podem pagar!

Por Douglas Belchior

Fonte:http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2013/08/07/dilma-combatera-o-genocidio-da-juventude-negra/

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