O senador Fernando Collor de Mello (PTB) - que tem cada vez mais conquistado espaços em sindicatos, movimentos sociais e em frentes ditas de esquerda - já se tornou o principal opositor (no discurso e nas frases certeiras!) do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB). Eis uma tarefa que pode ser considerada cumprida por ele.
Collor tem sido a referência nos discursos de oposição mais dura. Foi assim - por exemplo - no seminário que ocorreu na cidade de Santana do Ipanema. A dureza no discurso não veio de Renan Calheiros (PMDB) nem de petistas; que em tese são os construtores do projeto alternativo para o Palácio República dos Palmares.
Veio de Collor e - para também ser justo! - do ex-prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa (PMDB), que surpreendeu pelo tom. Quanto a Collor, as temáticas são as mesmas: segurança pública, saúde e educação. Apontar as feridas do Estado se tornou especialidade do senador petebista.
Mas, na imagem do novo Collor há sempre algo do Collor antigo. Em fala inflamada, no diálogo direto com a população, o senador do PTB convocou todos às ruas para protestar contra a morosidade do governo do Estado. Pode ser lido no jornal Primeira Edição desta semana. Na paixão calculada, Collor sabe usar as palavras. A convocação feita por Collor; o chamamento do senador petebista nos remete ao momento exato - na história do Brasil - no qual o presidente também conclamou a ida do povo às ruas. Lembram?
Collor - em passado recente - encheu o peito de ar para proferir um discurso que entrou para história. Sobretudo, quando na sequência teve os efeitos contrários; que a própria história relembra...por vários motivos, evidentemente, inclusive a influência midiática...é certo que agora o momento e o motivo são outros; o Collor também é outro (recicla a imagem); o Collor que agora tem os que antes estavam em trincheira inimiga como fiéis aliados; como parceiros em um projeto alternativo ao governo que aí se encontra. Resta saber qual a carga semântica a ser dada ao alternativo neste caso!
Por vezes, tendo em vista os principais caciques envolvidos, o alternativo parece sinônimo de alternância... mas, sigamos em frente e analisando os passos...
No mérito da questão, Collor está corretíssimo quando afirma que os resultados no combate à criminalidade em Alagoas são pífios. Munhecadas no espinhaço deixadas de lado, é um problema com o qual o governo lida desde que assumiu e não consegue dar respostas. Evidente que é fruto de uma construção histórica, mas Vilela foi eleito e reeleito para cuidar disto. Ou não? E no primeiro mandato ele podia falar da herança; mas no segundo mandato? Ele herdou dele mesmo. Ou não?
Mas, uma coisa é acertar no mérito, é ser referência no discurso de oposição, é ser porta-voz...outra é ser agente da mudança de fato, é ser verdadeiramente um projeto alternativo...sendo assim, convém enxergar Fernando Collor de Mello para além de seu discurso, para além do relacionamento midiático. O momento é de discursos inflamados e de oposição ferrenha; Collor aposta nisto como sobrevivência política, ao meu ver. Logo, é cedo demais para confundir o mérito do discurso com a eficácia do portador do discurso! Se bem que agora, o chamamento às ruas tem menos risco de efeito contrário...
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