Atualizada às 11h09
O julgamento dos quatro militares réus no processo da morte de Paulo César Farias e da namorada dele Suzana Marcolino entra na reta final. Na manhã desta sexta-feira (10), os trabalhos foram reiniciados com os debates entre defesa e acusação.
Acompanhe ao vivo a fase final do julgamento sobre as mortes de PC Farias e Suzana Marcolino
Durante duas horas e meia, o promotor Marcos Mousinho, representante do Ministério Público usou os argumentos de que houve um duplo homicídio na madrugada do dia 23 de junho de 1996, na casa de praia em Guaxuma, e que os réus foram omissos. Ele pediu aos jurados do Fórum de Maceió a condenação dos quatro policiais militares que fazia a segurança do empresário na época. Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva são acusados de duplo homicídio triplamente qualificado por omissão nas mortes.
Ele afirmou que a polícia errou ao apontar no primeiro momento que foi um crime passional sem antes a realização da perícia e da coleta de materiais nas mãos dos militares envolvidos. "O Ministério Público terá que provar que houve dois homicídios e que Suzana não cometeu suicídio nem matou Paulo César Farias. Eu não posso afirmar que os réus cometeram o crime pela pronúncia, mas temos convicção de que foram omissos por serem seguranças tinham obrigação de agir e evitar o resultado, disse.
Mousinho começou sua tese mostrando aos jurados que a secretaria de Defesa Social da época cometeu erros durante a condução das investigações. "O delegado foi afastado da função pela Defesa Social. Questiono por que afastaram o doutor Fernando Tenório e nomearam um que não foi à cena do crime?", questionou.
O promotor apontou também o fato de antes mesmo da perícia realizar o trabalho, a polícia já ter apontado a linha de pesquisa sendo como passional. "Já no primeiro dia correram em sustentar sem nenhuma investigação que se tratava de um homicídio e suicídio. As investigações foram direcionadas por este viés e foram comprometidas", sustentou. Ele continuou afirmando durante o julgamento, que não foram realizados exames residuais nas mãos dos quatro policiais, para detectar se, naquela noite, eles haviam feito disparos.

"A mente dos investigadores partiu do ponto de que houve um crime passional. E correram para colher provas que sustentassem essa tese. Não colheram vestígios que comprovassem a participação dos réus e dos demais que estavam na cena do crime. Toda investigação morreu ali", afirmou.
A falta de estrutura da polícia alagoana no momento de realizar as investigações também comprometeu as investigações, segundo sustentou o promotor. "O Instituto de Criminalística não tinha nem água adequada para realizar a perícia. Usaram água Perrier que estava no criado mudo de Suzana que era parte da cena do crime, foi usado na perícia. Nossos peritos não trabalhavam em casos de grande repercussão, diferente dos peritos da segunda perícia, acostumados com casos complicados e que desafiam as investigações", acrescentou Mousinho.
Ele disse ainda não acreditar que alguém pudesse vir de outro estado para matar PC, descartando ainda a possibilidade de queima de arquivo. Mousinho acrescentou que os outros seguranças poderiam ter participado da morte dele mas não foram citados. "Suzana estava sendo seguida, isso é um fato concreto. Suzana era mulher destemida. Comprou uma arma para se defender. Em vários crimes, a mulher também morre por estar no local e que viva pode representar ameaças", sustentou.
Segundo a tese do promotor, a polícia na época das investigações também quis construir um perfil suicida em Suzana Marcolino. Na época, a polícia sequer ouviu os familiares de Suzana, o que segundo ele, mostra que as investigações foram conduzidas para a possibilidade de suicídio seguido de homicídio.
Durante a sustentação da promotoria, Marcos Mousinho disse não acreditar que Paulo César Farias queria por fim ao relacionamento com Suzana Marcolino. O promotor afirmou que um garçom (Genival França) viu no dia do jantar o casal trocar carícias, típicas de um namorados que estão em sintonia. Ele também destacou que PC ligou para Suzana trazer um filme para eles assistirem após o jantar que ele convocou junto com sua família.
Num segundo momento de sua tese, o representante do MP começa a mostrar aos jurados detalhes das perícias. Ele afirma que o laudo de Badan Palhares apresentou erro ao mostrar no croqui Suzana com a perna esquerda em cima da cama, mas na perícia o médico afirmou que ela estava em posicção de lótus, ajoelhada na cama, sustentando que ela se matou . "Esta parte ele corrobora com o laudo do doutor Daniel Munõz", afirmou.
Quanto aos exames papilares na arma, o promotor disse que o primeiro laudo não apontou vestígios na arma. A segunda perícia feita com 20 pessoas mostrou que mesmo sendo limpa, a arma ficaria com as impressões digitais. Tal erro comprometeu a investigação para identificar quem disparou os tiros.

Para o promotor, houve falta de responsabilidade por parte dos seguranças para proteger PC e Suzana. "Se ele não agiram, é porque tiveram particpação na trama. Eles falsearam a versão, já que a obrigação deles era proteger o casal. A lei imputa como homicídio por omissão", defende Mousinho.
O promotor contestou vários pontos apontados pela defesa dos militares para tentar absolver os réus. Mousinho leu para os jurados a transição de telefonemas de Suzana para o dentista paulista Fernando Corleone que foram registradas durante a madrugada do crime. Ele destacou o sumiço do telefone celular, mas não acredita que elas tenham sido motivo para o crime.
Em uma das ligações, uma voz masculina que não foi ide identificada pela perícia, pode ser ouvida perguntado para Suzana o que ela estaria fazendo. A perícia constatou que Suzana não estava no quarto no momento das ligações. "Ela andava na varanda nas duas últimas ligações. Os segundos peritos chegaram a essa conclusão após analisarem ou ruídos dos passos dos próprios peritos na casa. Os acusados disseram aqui que falaram com PC por volta das quatro da manhã", contou aos jurados.
Segundo o promotor, quando o caseiro afirmou em júri que havia uma festa no dia do crime, ele quis embasar a tese de que não ouviu os tiros. "O ruído de um tiro é propagado a distância. Os seguranças disseram que não dormiram naquela noite para preservar a vida de PC e Suzana. Se houvesse um disparo naquele local, eles teriam ouvidos. Os disparos nao foram abafados. O laudo de Badan Palhares atesta que dava para se ouvir os tiros", apontou.
4º Dia do Julgamento:
- Depoimento dos réus
Os quatro militares Reinaldo Correia, Josimar Faustino Santos, Adeildo Costa dos Santos e José Geraldo da Silva negaram ter participação no crime. O primeiro a prestar depoimento foi Adeildo. Ele afirmou que trabalhou durante diversos anos para a família Farias, como segurança, mas que "após a morte de PC o militar não se recordava quanto tempo mais trabalhou para a família e que depois disso não manteve contato com eles. O militar afirmou desconhecer os motivos que teriam gerado a denúncia contra ele.
“Antes de deixar o emprego recebi uma quantia de R$ 8 mil de Augusto Farias, falou Adeildo Costa.”

O segundo réu a prestar depoimento foi José Geraldo da Silva. O ex-segurança de Paulo César Farias contou que chegou a ser preso pela morte do patrão e de Suzana Marcolino. Perguntado pelo juiz Maurício Brêda se ele sabia o que aconteceu no quarto onde os corpos de PC e Suzana, José Geraldo disse não ter dúvidas de que ocorreu um assassinato seguido de suicídio.
“Tenho certeza de que a dona Suzana matou o doutor Paulo César”, afirmou ele.

Josimar Faustino dos Santos foi o terceiro réu ouvido pelo juiz Maurício Breda e negou sua participação nas mortes de PC Farias e Suzana Marcolino. Faustino, também conhecido como Dudu, disse que não trabalhava como segurança de PC e sim dos seus filhos, mas que no dia em que os corpos foram encontrados havia trocado de serviço com outro segurança.
O policial militar Reinaldo Correia (foto abaixo) foi o último acusado a prestar depoimento. Reinaldo contou ao juiz Maurício Brêda os detalhes do que aconteceu no dia 23 de junho, desde às 08h30, quando chegou à casa de Guaxuma, até o momento em que se deparou com o patrão e a namorada dele morto s.
“A bomba estava nas nossas mãos”, diz que segurança que arrombou janela do quarto











