Poder e traição, criador e criatura e o medo que o político tem de ser engolido

03/05/2013 13:00 - Voney Malta
Por Voney Malta

 

É por isso que boa parte dos políticos profissionais prefere buscar dentro de seu círculo familiar alguém para ocupar cargos eletivos. É a esposa, o irmão, o filho, o tio. No máximo alguém próximo que fique refém, seja financeiramente ou por algum possível futuro problema jurídico que possa causar-lhe a perda do mandato.

Aqui em Alagoas são muitos os casos de políticos do mesmo sangue permanecerem no poder. A família Calheiros, hoje, é o melhor exemplo em quantidade e Poder: Renan (senador), Renan Filho (deputado federal), Olavo (deputado estadual), Remi (prefeito).

Quem está em alta e não tem essa possibilidade, vive com medo, tem pesadelos e só dorme a base de remédios, especialmente quando o período eleitoral está próximo.

E ninguém pense que deixa de ter razão quem teme perder o poder de, como criador, ser engolido pela criatura. Ou seja: apoiar alguém e depois ser deixado pra lá. Vou lembrar só um caso recente: o empresário Geraldo Sampaio e a criatura, o ex-prefeito Cícero Almeida.

Neste instante, situação conflituosa entre criador e criatura está ocorrendo no Rio de Janeiro. O maior destaque do governo Sérgio Cabral (PMDB) é o secretário de segurança José Mariano Beltrame. Ele foi convidado para ser vice do atual vice, Luiz Fernando Pezão – homem de confiança da cúpula do PMDB -, em 2014, mas que enfrenta grandes dificuldades para decolar e alcançar os líderes nas pesquisas Anthony Garotinho e Lindenbergh Farias.

Beltrame é o responsável pela principal bandeira do PMDB: a pacificação das favelas com a política das UPPs. Embora gaúcho, ele é considerado um herói. Pois bem, Beltrame até agora não respondeu ao convite.

E o motivo – olha a criatura se rebelando contra o criador, Sérgio Cabral – é que já foi convidado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para entrar no PSB e ser candidato a governador do Rio. O PSDB também está de olho no secretário de Segurança porque seria um nome com enorme potencial de votos e a formação de um palanque que nenhum partido de oposição a Dilma Rousseff tem no Rio de Janeiro.

A lógica dos que estimulam a candidatura de Jose Beltrame é que “se Beltrame serve para ser vice, por que não serviria para ser o próprio governador”? Uma pergunta com muita lógica política, sem dúvida.

Por outro lado, é o maior exemplo do conflito diário na política entre o criador e a criatura. Sérgio Cabral deu vida a Beltrame. Este fez nome como secretário e criou uma marca para o governo. Agora Cabral vê o risco de perder o subordinado e, junto com o seu grupo, perder o governo e até ser derrotado em sua candidatura ao senado.

E haja médicos e remédios para aplacar os medos e pesadelos que o conflito político entre criador e criatura provoca. 

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