“Nenhuma participação”. Com essa afirmação, José Fragoso, advogado dos policiais militares Adeildo Costa, Reinaldo Correia, Josemar Faustino e José Geraldo respondeu à pergunta se seus clientes tiveram participação no assassinato de Paulo César Farias. Fragoso disse que a defesa sustenta a tese de que Suzana Marcolino matou o namorado PC Farias e depois cometeu suicídio. O advogado afirmou que as provas, que constam nos autos do processo, são “exuberantes” e não deixam dúvidas de que foi isso o que aconteceu no dia 23 de junho de 1996, na casa de praia do ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor à presidência.
Fragoso afirmou que houve muitas falhas no segundo laudo confeccionado pelos peritos que contestaram Badan Palhares, que garantiu que Suzana matou PC e se suicidou. “Isso ficará muito claro para quem assistir ao julgamento”, frisou.
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Sobre o motivo pelo qual seus clientes sentarão no banco dos réus Fragoso afirmou que isso teve como base o segundo laudo pericial, que ele diz que estava cercado de erros clássicos e primários. “O delegado Cícero Torres robusteceu o inquérito com provas testemunhais e materiais, provas de toda natureza em um conjunto absolutamente harmônico. Com a ajuda da grande imprensa, todos apostaram em duplo homicídio em função do personagem que era Paulo César Farias. Isso fez com que o inquérito não fosse encerrado naquela oportunidade e veio uma outra equipe de peritos pinçada a dedo. Os três peritos eram três desafetos de Badan Palhares, o Daniel Munhoz, Domingos Tochetto e Genival Veloso de França”, disse Fragoso acrescentando que a escolha dos peritos foi do juiz Alberto Jorge de Lima, juiz responsável pelo caso à época.
O advogado garantiu também que o segundo laudo pericial aponta que houve um duplo homicídio, mas não descarta a possibilidade de homicídio seguido de suicídio “Vamos demonstrar que esse documento não condiz com o que acontece”, disparou ele.
Os réus são acusados de homicídio qualificado. Sob eles pesa a acusação de que, como seguranças, eles tinham a obrigação de evitar que o crime fosse praticado. “É bem verdade que quem é segurança de outrem tem essa obrigação, só que para que eles pudessem agir, era necessário que o fato chegasse ao conhecimento deles e isso não houve. Só souberam do fato depois do fato ocorrido, às 11 horas, quando a caseira da residência encontrou um projétil na sala. Depois disso, arrombaram a janela e viram que Paulo César e Suzana estavam mortos. Por isso eles não tinham como agir”, relatou o advogado.
Sobre a conclusão da perícia de que os tiros foram audíveis e que os seguranças teriam condições de ouvi-los, Fragoso afirmou que no dia do crime um vizinho de PC realizava uma festa de São João e os disparos podem ter sido confundidos com bombas. Indagado se a experiência dos seguranças como militares não os ajudaria a fazer a distinção, o advogado afirmou que não. Outro ponto negado por Fragoso é a informação de que não havia pólvora nas mãos de Suzana Marcolino nem impressões digitais na arma usada no crime. O advogado afirmou também que a polêmica em torno da altura de Suzana, como condicionante para a prática do crime, não faz sentido uma vez que isso não teria influência direta no fato.
Fragoso afirmou que dois dos acusados, Geraldo e Reinaldo tinham uma relação pessoal com Paulo César. Geraldo trabalhou como segurança dos dois filhos de PC e ainda presta serviço para a família. O advogado colocou também que os acusados sempre foram policiais militares exemplares.
“Eles mantém o mesmo padrão de vida. Na época eram dois soldados e dois cabos e todos foram promovidos. São Ficha limpa, carreira limpa, homens de bem e vítimas de uma acusação monstruosa e de uma investigação que teve dois objetivos: destruir Badan Palhares e satisfazer a grande mídia, que foi a grande responsável pela investigação tresloucada dos delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade”, afirmou Fragoso.
O advogado falou também que mesmo sendo acusados no crime, o processo não traz o que teria motivado os policiais militares a se omitir diante da prática dos assassinatos. “Não tem motivação, não se aponta motivação. Alguém que veio não se sabe de onde, que ninguém sabe quem é, teria praticado o fato e eles teriam se omitido. A acusação contra eles é absolutamente odiosa”, expôs Fragoso acrescentando que na pronúncia dos réus diz que os motivos foram “enigmáticos”.
Sobre a expectativa para o julgamento, José Fragoso garantiu ter a convicção de que conseguirá provar que a única responsável pela morte de PC Farias foi Suzana Marcolino. “Os meus clientes serão inocentados, já que nada fizeram que justificasse sequer estarem sendo processados”, finalizou.